O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) afirmou em entrevista à Lusa que a existência de deputados dissidentes "é sempre um risco" e que isso é um "reflexo" da Guiné-Bissau.
"Eu penso que é sempre um risco e isso é reflexo do país em que vivemos e enquanto não transformarmos a sociedade como um todo, o risco estará sempre presente", disse Domingos Simões Pereira, quando questionado sobre os deputados dissidentes que prejudicaram a representação parlamentar do partido nas duas últimas legislaturas.
Na legislatura que decorreu entre 2014 e 2019, 15 deputados do PAIGC deixaram de acompanhar o partido no parlamento. Na última legislatura, que teve início em 2019, cinco deputados do PAIGC contribuíram para que o partido perdesse a maioria no parlamento.
Para Domingos Simões Pereira, um partido existe para "emprestar uma visão programática própria" e quando os delegados votaram em si foi porque acharam que deve manter as posições que o partido tem assumido sob a sua liderança.
"Até aqui, e isto não é um fenómeno de há quatro ou oito anos, as pessoas apresentam-se no partido, integram as listas do partido, são eleitos como deputados e a partir do momento em que são eleitos entendem que podem transformar o seu mandato em algo mercantil, que vão negociando", explicou Domingos Simões Pereira.
O líder do PAIGC explicou que ocorreram situações em que o partido ganhava eleições com maioria absoluta e tinha de negociar com os seus deputados entes de levar o seu programa à Assembleia Nacional Popular.
"E não é negociar no sentido de esclarecer a sua visão no programa eleitoral, incorporar mais uma medida, não é isso, é discutir dinheiros, quando é que se vai pagar a cada deputado para poder votar no seu programa", afirmou.
"Acho que isso é uma aberração, uma contra decência em todos os sentidos e, portanto, desde 2014 fizemos uma opção. Eu enquanto líder do PAIGC fiz uma opção. O PAIGC vai fixar a sua linha de orientação, em função dos seus princípios em relação ao seu programa e os seus militantes e os seus dirigentes têm obrigação de respeitar os princípios programáticos do partido", salientou Domingos Simões Pereira.
O líder do PAIGC afirmou que tenta sempre assegurar que todas as decisões passam pelos órgãos superiores do partido, que acompanham as suas propostas.
"Acha normal que em assuntos essenciais como a governação, como programa estratégico, revisão da Constituição, um deputado do PAIGC se reserve no direito de contrariar tudo isso, pior, contrariando e colocando o seu mandato à disposição de outras forças a troca de dinheiro, de favores, de compensações", questionou Domingos Simões Pereira.
O líder do PAIGC considerou que o "povo guineense já está a perceber" e ainda vai "perceber melhor a contribuição inestimável" que o partido está a dar.
"Eu já afirmei em 2015 que se a questão fosse simplesmente negociar para acomodar os nossos interesses quem estava em melhor posição de negociar do que eu, que estava como primeiro-ministro, mas há aqui um princípio, quem representa o PAIGC representa uma história e a história vem associada a uma grande responsabilidade", salientou.
Conosaba/Lusa
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