[Semana 49/2022] Os Centros de Saúde do Setor Autónomo de Bissau acreditam que uma das soluções para enfrentar as dificuldades que enfrentam passa pela cedência do governo de uma autonomia financeira aos centros que lhes permita ter meios para colmatar as necessidades de comprar materiais e de contratar técnicos qualificados.
Os profissionais de saúde que trabalham nos onze Centros de Saúde de Bissau responsabilizam o governo pela enorme carga horária que estão neste momento a suportar por a falta de médicos, enfermeiros e outros técnicos especializados na Saúde Pública. Defendem, neste particular, a necessidade de o governo solucionar, com urgência, a falta de espaço a nível dos centros de saúde de Bissau para poder albergar durante os horários de atendimento o número de pacientes que procuram diariamente aqueles serviços de saúde.
A maioria dos Centros de Saúde visitados pela equipa de reportagem do Jornal O Democrata são simples casas construídas para residências familiares que foram adaptadas como Centros de Saúde. As residências de quaisquer membros do governo são três vezes maiores que alguns centros de saúde que atualmente funcionam na cidade de Bissau.
CENTROS SEM ESPAÇO PARA ACOMODAÇÃO DE PACIENTES QUE ARRISCAM CONTAMINAREM-SE
Os serviços administrativos têm no máximo dois metros quadrados, onde estão aglomerados todo o pessoal administrativo e de apoio logístico. A falta de espaço fez com que vários doentes com diferentes patologias se aglomerem num mesmo lugar, criando enormes constrangimentos e expondo os utentes à contaminação, por exemplo, no atendimento dos pacientes com patologias infecto contagiosas. A ausência de espaço também limita muitos Centros de Saúde a instalar novos equipamentos, cujo funcionamento constituiriam um grande contributo para o diagnóstico de patologias e eventualmente, fonte de renda , em termos monetários, para o centro.
O sistema público de saíde da Guiné-Bissau enfrenta vários problemas, o que levou todos os técnicos e profissionais de saúde abordados pelo repórter a atribuir-lhe, na escala de zero a cinco, três valores. Consideram que houve apenas o avanço no combate ao paludismo e à cólera. Por isso, exortam o governo e os seus parceiros nacionais e internacionais a ajudar os quadros da saúde a combater os vários constrangimentos que afetam atualmente o funcionamento do sistema de saúde, em particular os centros de saúde da cidade de Bissau.
Não obstante a suspensão de técnicos recém-colocados, o que agravou a situação sanitária em todo o território nacional, os profissionais e técnicos de saúde que trabalham nos onze Centros da cidade de Bissau são verdadeiros combatentes sanitários comprometidos a salvar as vidas humanas dos seus pacientes. Trabalham em condições sanitárias difíceis, em infraestruturas inadequadas com falta de meios materiais e recursos humanos para fazer face aos enormes desafios que enfrentam.
Como se não bastasse, a população está a crescer a um ritmo acelerado na cidade de Bissau, onde têm aparecido novos bairros. O que leva os onze centros de saúde a perder a capacidade e a não conseguir atender os pacientes que recebem, de acordo com as suas caraterísticas. Há centros de Saúde de tipo B e C que suportam serviços de tipo A para poder minimizar o sofrimento da população.
De entre as inúmeras dificuldades que os onze centros de Saúde do setor Autónomo de Bissau enfrentam, a mais preocupante é a falta de espaço para os pacientes se acomodarem à vontade para o atendimento médico. O problema de espaço verifica-se mais nos Centros de Saúde de Bairro de Quelélé, Bairro Cuntum, Bairro Militar, Bairro Plack2, Bairro Belém e Bairro de Ajuda. A aglomeração de pacientes representa um enorme risco de contaminação, sobretudo às grávidas e crianças, por exemplo, por tuberculose, paludismo e outras doenças infecciosas. Essa eventualidade leva os residentes daqueles bairros a deslocarem-se frequentemente ao Hospital Nacional Simão Mendes.
O surgimento de novos bairros na cidade de Bissau deve-se ao aumento do número de habitantes. O que levou os Centros de Saúde de tipo B e C na capital a perder as condições técnicas e profissionais necessárias para poder dar uma resposta adequada aos pacientes que diariamente procuram tratamentos nos onze Centros de Saúde de Bissau.
Por exemplo, os habitantes do Bairro Militar aumentaram de 84.326 para 88.340 habitantes; Plack2 subiu de 35.344 para 35.766 habitantes; Centro Materno de 19.141 para 19.803 habitantes; Quelélé de 36.949 para 37.422 habitantes; Luanda de 32.558 para 34.147 habitantes, Cuntum de 58.234 para 59.484 habitantes, Bandim de 57.259 para 58.200 habitantes, o bairro de Belém de 22.320 para 49.482 habitantes e Antula de 47.300 para 61.325 habitantes.
Os Centros de Saúde têm disponíveis serviços de Urgências, da Maternidade, do Laboratório, da Farmácia, de consultas externas para adultos e crianças e pré-natais. Também têm condições técnicas para a despistagem do Sida, tratamento da tuberculose, do Programa Alargado de vacinação, do planeamento familiar, do programa de nutrição e de assistência social.
TÉCNICOS DE SAÚDE ACUSAM O MINISTRO DIONÍSIO CUMBA DE SER FACILITADOR DAS SUAS SUSPENSÕES
Os Centros, pelas suas características, não dispõem de serviços de cirurgia e de raio X. Todavia, todos os Centros de Saúde de Bissau estão a deparar-se com enormes dificuldades em materiais, de pessoal técnico e de infraestruturas inadequadas, para acolher os pacientes que a eles recorrem diariamente.
As condições em que se encontram hoje os onze Centros de Saúde de Bissau são prova inequívoca de que o sistema sanitário da Guiné-Bissau está a caminhar para o estado de degradação e o governo não se digna, pelo menos, em ajudar a encontrar uma solução para os enormes desafios quotidianos que os profissionais de saúde enfrentam para satisfazer as necessidades dos pacientes.
Os habitantes dos Bairros de Bissau vivem quotidianamente com a esperança de que um dia o governo fará funcionar, em pleno, os onze Centros de Saúde de Setor Autónomo de Bissau com todos meios materiais e recursos humanos qualificados.
Os profissionais de Saúde que labutam em difíceis condições sanitárias nos Centros de Saúde esperavam que o ministro de saúde, Dionísio Cumba, como quadro de saúde, fosse um verdadeiro facilitador da resolução de problemas sanitários. Mas, todos lamentam que Dionísio Cumba tenha sido um dos facilitadores da suspensão de médicos, enfermeiros e técnicos de saúde recém-colocados em vários centros de saúde. Não compreendem como é que o atual Ministro de Saúde, como quadro de saúde, aceita assinar um despacho do governo que suspende os técnicos recém-colocados em todas as estruturas sanitárias do país.
Os profissionais que trabalham nos onze Centros de Saúde de Bissau são unânimes em considerar que a suspensão de técnicos recém-colocados agravou ainda mais a situação sanitária não só em Bissau, como em todo o território nacional, deixando vários centros sem recursos humanos para satisfazer as demandas da população.
Os técnicos e os profissionais que trabalham nos Centros de Saúde de Bissau são também unânimes que é necessário o governo aumentar o salário dos quadros que trabalham na saúde. Afirmam que os salários que ganham atualmente não dignificam, tanto um diretor e muito menos um simples técnico.
A suspensão de médicos e de técnicos recém-colocados agravou ainda mais os constrangimentos sanitários e salariais nos onze Centros de Saúde de Bissau. A maioria dos funcionários têm os salários em atraso. Só aqueles que têm alguma autonomia financeira ou que contam com a colaboração das Associações dos moradores dos seus bairros conseguem pagar atempadamente os salários de todos os seus técnicos e dos funcionários administrativos. O que permite que os referidos Centros trabalhem sem problemas de falta de quadros, nem grandes constrangimentos financeiros.
Todavia, os Administradores e técnicos não obstante, pagarem os salários atempadamente, enfrentam várias dificuldades como a falta de recursos humanos e materiais. Neste sentido, exortam o governo e os seus parceiros de cooperação a engajarem-se na resolução, o mais rápido possível, dos problemas que os onze Centros de Saúde enfrentam neste momento na cidade de Bissau.
Por: António Nhaga/Francisco Gomes
Conosaba/odemocratagb
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