A Frustração de Sonhos Desfeitos e a Humilhação de Jovens que Buscam um Futuro Melhor.
O que presenciei ontem no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, revela um cenário alarmante de desrespeito para com jovens guineenses que chegam a Portugal pela primeira vez para estudar. Diversos estudantes, mesmo com visto de estudo em mãos, foram impedidos de entrar no país e correm o risco de ser deportados para a Guiné-Bissau.
Nos últimos anos, Portugal tem se consolidado como um destino atrativo para estudantes da Guiné-Bissau, principalmente pela língua comum, pela qualidade do ensino superior e pela promessa de um futuro melhor. No entanto, a chegada a este país, para muitos, não é marcada apenas pela esperança, mas também pela burocracia excessiva e tratamentos humilhantes nas fronteiras.
Embora os estudantes possuam vistos concedidos pelas autoridades consulares portuguesas, que atestam o cumprimento dos requisitos legais, o tratamento que recebem ao chegar ao aeroporto muitas vezes é de total desconfiança. O que deveria ser um momento de boas-vindas transforma-se, na prática, em um pesadelo. São submetidos a interrogatórios prolongados, retenções desnecessárias e, em alguns casos, chegam a ser tratados como suspeitos de imigração irregular.
Esta contradição levanta sérias questões: se o consulado português já validou os documentos e o pedido de visto, por que razão a fronteira parece reviver essas desconfianças?
O problema não é apenas burocrático. Ele toca na dignidade humana e reflete uma política que, para muitos, parece ter como alvo específico os estudantes guineenses.
Relatos de humilhação e discriminação se multiplicam, com muitos jovens a afirmarem que, apesar de estarem com toda a documentação em dia, são tratados como cidadãos de segunda classe. Esse tipo de experiência tem gerado um forte impacto psicológico, transformando a chegada a Portugal – um momento de expectativas e conquistas – em uma vivência traumática.
As autoridades justificam a abordagem com alegações de “suspeita de fraude documental” ou “risco de imigração irregular”. Contudo, estas generalizações afetam, sobretudo, estudantes guineenses, criando um clima de desconfiança e alimentando um ciclo de exclusão e discriminação. Para muitos, parece que o simples fato de virem da Guiné-Bissau é, por si só, uma suspeita.
É crucial questionar: se o consulado já verificou a documentação e entrevistou os candidatos antes de conceder o visto, por que razão persistem as suspeitas na fronteira? Esta abordagem contraditória mina o propósito de promover uma cooperação educacional eficaz entre os países de língua portuguesa, e reforça uma narrativa de desconfiança mútua.
A forma como Portugal lida com a chegada destes jovens não é apenas uma questão administrativa. Trata-se de uma questão de respeito e humanidade. Em um país que se orgulha de seus laços históricos com o continente africano, é fundamental refletir se o tratamento dado a esses estudantes reflete os valores de solidariedade, justiça e inclusão que o país defende.
Por: Cadafi Dias

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