O professor universitário e analista para assuntos africanos e internacionais, Abdu Jarju, afirmou que a política externa do Senegal não vai mudar de um dia para outro, mesmo com a eleição de novo Presidente da República, defensor de ideologia pan-africanismo.
“A política externa é permanente ou leva muito tempo a mudar. Por isso, não acredito que o Senegal vá mudar a sua política externa. Vai mantê-la, e no caso da Gâmbia, tem que ser vista numa perspetiva histórica. Há muito tempo que o Senegal queria anexar a Gâmbia, fazendo dela uma região.
Com a chegada de Adama Baro ao poder, entregou a Gâmbia no Senegal. A tendência é de manter essa relação, o mesmo se pode dizer também em relação à Guiné-Bissau”, assegurou o antigo diplomata Embaixador Plenipotenciário da Gâmbia para a Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Jarju confessou que não era previsível que houvesse um vencedor na primeira volta das eleições presidenciais no Senegal, pelo que a maioria de analistas considera surpresa a eleição Bassirou Diomaye Faye na primeira volta.
Convidado para analisar o pleito do último domingo no Senegal, Abdu Jarju aponta três fatores determinantes para a eleição do candidato do PASTEF, nomeadamente a consciência elevada da juventude do Senegal que não falava dos programas dos partidos por acharem que são literaturas para enganar a população, mas sim dos recursos naturais que pertencem ao povo e que estavam a ser entregue às potências externas.
“A juventude dizia o nosso petróleo, o nosso ouro e o nosso gás. E em busca de saídas encontrou essa resposta nas lideranças do PASTEF. O segundo fator, o regime anterior facilitou o surgimento destes jovens, devido aos seus procedimentos, tem perseguido os opositores, fechou o líder de PASTEF. Imagine um regime que prendeu 1800 pessoas. Essas pessoas têm famílias. O governo de Macky cometeu muitos erros sobretudo quando não estava clara se vai ou não ao terceiro mandato” disse, sublinhando que a injustiça social foi outro fator. O povo viu que o PASTEF estava a ser injustiçado, pelo que votou massivamente para a vitória do Bassirou Diomaye Faye.
Sobre a questão da mudança da moeda que faz parte de um dos eixos do PASTEF, Abdu Jarju lembrou que o Presidente eleito tinha garantido que iria propor à CEDEAO para ter uma moeda própria, caso contrário o seu país tomaria a iniciativa.
“Isso é muito importante, porque a soberania é a moeda, a defesa e a política externa. O país que não consegue decidir os seus parceiros estratégicos, ter uma força de defesa própria não é soberano. A juventude do Senegal entende que é preciso encontrar uma solução interna e não com a ocupação militar da França no Senegal.Todos os contratos assinados anteriormente devem ser revistos” disse, alertando que qualquer rotura das novas autoridades senegalesas com a França, aquele país vai pôr o Senegal na lista vermelha e vai combatê-lo.
“Mas acho que o PASTEF tem consciência disso, porque uma vez que consta do programa que vai exigir a retirada dos militares da França, da moeda (franco cfa), tem que estar preparado para enfrentar uma luta contra a França. Temos que recordar aquilo que aconteceu na Guiné- Conacri, quando Seco Turé decidiu tomar a independência total. O que fez a França?! Sabotou a moeda da Guiné Conacri e até hoje aquela moeda não tem valor. Portanto, se Bassirou Diomaye Faye decidir sair do franco CFA tem que estar preparado e deve saber que será combatido pela França” alertou, sublinhando a necessidade de se estudar os contornos da mudança da relação com a França em relação à questão da moeda e a retirada das forças francesas do Senegal.
Por: Tiago Seide
Foto: TS
Conosaba/odemocratagb
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