segunda-feira, 22 de abril de 2024

Opinião: GUINÉ-BISSAU, SANTUÁRIO DA INSTABILIDADE POLÍTICO E MILITAR

A Guiné-Bissau vive uma instrumentalização militar, religiosa e étnica nunca antes vista. É urgente unir os esforços para combater todo e qualquer político que queira dividir os guineenses para reinar. A hora é de assumirmos o nosso patriotismo, que deve ser fundado nos ideais pan-africanistas para salvar o país.

A instrumentalização a que me refiro chegou ao seu auge com a instituição que se podia considerar guardião dos valores democráticos a intrometer-se de forma parcial nos assuntos meramente políticos, respondendo a uma formação política. Temos que ter a cultura jurídica. Quando nos sentimos tocados, recorremos às instâncias judiciais competentes. As forças armadas devem, sim, proteger as instituições do Estado e os seus titulares, mas não podem fazê-lo de forma parcial. A renúncia forçada do então Presidente do STJ, José Pedro Sambú, em consequência da invasão do STJ e da sua residência privada por uma estrutura estranha do Estado, a dissolução prematura da ANP, não tiveram uma pronta reação musculosa do Estado Maior General das Forças Armadas, tal como fez na madrugada de 1 de dezembro de 2023 para resgatar dois governantes que se encontravam ilegalmente nas instalações da Guarda Nacional.

A atitude das Forças Armadas em resgatar aqueles políticos que foram retirados à força das celas da Polícia Judiciária é considerada uma postura republicana que eu aplaudo, embora eu saiba que por detrás desta invasão a Guarda Nacional está o apetite de ter controle daquela estrutura e não de fazer voltar estes membros do governo, acusados no caso 6 bilhões, às celas da PJ, ou seja, que esta esteja sob alçada do Estado Maior, tal como afirmara o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, só que, infelizmente, a mesma atitude não foi assumida nos casos do STJ, da dissolução prematura da ANP, de proibição constantemente de manifestações dos cidadãos indefesos que reclamam um direito consagrado na Constituição da República: Educação, Saúde e Bem- estar social do povo.

Aos partidos políticos exige-se uma postura de combate sem tréguas as armadilhas que visem entregar, como pretexto, o poder às FARP, caso persistam as disputas políticas no país. Sei que ainda se lembram daquela fase de adolescência, quando se registava uma discussão acesa entre colegas, numa festa, um decide estragar a festa, pontapeando a mesa. Prepararem-se, pois os ventos que sopraram na Guiné Conakry, no Mali e em Burkina Faso. Continuem a choramingar na imprensa, apelando ao povo a sair à rua, quando sabem que nenhum povo toma iniciativa de acompanhar uma luta sem um líder ousado, que não pensa em perder a riqueza que roubou do povo, que não teme morrer de fome, tal como fizeram Amílcar Cabral para libertar a Guiné-Bissau do jugo colonial, Koumba Yala e outros patriotas para afirmação da democracia no país.

Está claro que os guineenses não vão às urnas para eleger o novo chefe de Estado em 2024, porquanto nenhuma pressão política está a ser tomada. O argumento daqueles que podiam liderar o povo é de que não temos militares ao nosso. Ousmane Sonko não precisou de ter militares ao seu lado para libertar o Senegal. Aceitou sacrificar-se e não achou ser insubstituível. Fabricou Bassirou Diomaye Faye e com este combateu o Presidente Macky Sall e o seu patrão, com o apoio do povo, que saía às ruas, mesmo quando os dois estavam no calabouço. A pressão destes que chamamos Partidos limita-se na assinatura de acordos, conferências de imprensa com conteúdos vazios, e na chamada diplomacia junto das instituições internacionais, como se estas instituições é que vão fazer milagres para anular um decreto que eles mesmos dizem inexistente do ponto de vista jurídico.

Já pararam para pensar porquê que quando um funcionário público civil chega aos 60 anos, o sistema lhe deita fora automaticamente, excepto a classe castrense, e porquê que a maior parte do bolo orçamental de todos governos é destinada aos sectores da defesa e segurança. Responde quem lê.

É urgente o surgimento de uma geração de patriotas, dentro e fora dos partidos políticos, que não vai pensar que combater o atual sistema que premeia os corruptos e os analfabetos e intelectuais “bariduris di padja” é estar contra o PAIGC, PRS, MADEM-G15, APU-PDGB, PTG, assim por diante.

Outrossim, é preciso incentivar a meritocracia e isso passa por uma aposta séria na formação de homem novo, através de uma educação de qualidade que valoriza o PROFESSOR e preocupar-se na elevação do seu nível, através de formação contínua, mestrado, doutoramento e quiçá pós- doutoramento.

Este país custou sangue e suor. Desistir dele é trair o sonho de Amílcar Cabral e dos Combatentes da Liberdade da Pátria.

Por: Tiago Seide
Professor e Jornalista
Conosaba/odemocratagb

Sem comentários:

Enviar um comentário