sexta-feira, 22 de março de 2024

São Tomé e Príncipe: "A adesão à greve é total, não há aulas em nenhuma escola"

São Tomé e Príncipe – Os professores e educadores de São Tomé e Príncipe estão em greve há três semanas. Apesar das seis rondas negociais entre a intersindical da educação e o governo são-tomense para por fim à greve, não foi encontrada "nenhuma solução que seja de acordo com o que professores pretendem ", afirma a secretária-geral do Sindicato dos Professores e Educadores de São Tomé e Príncipe, Vera Lombá, que confirma a "adesão total dos professores".

RFI: Como tínhamos falado no primeiro dia de greve, no dia 1 de Março, no caderno de reivindicações está o aumento salarial. Essa exigência não tem sido ouvida? O primeiro-ministro diz que o país não tem condições para aumentar o salário. De que forma é que interpreta as declarações de Patrice Trovoada?

Vera Lombá: Eu acredito que o país não tem [condições]. Aliás, nós, a Intersindical e os professores em conjunto, acreditamos que o país não tem dinheiro para fazer o aumento salarial como nós pretendemos, mas achamos que o governo pode fazer alguma coisa Como sempre dissemos, [um aumento salarial significa para nós] um alívio na nossa situação actual. Até agora, quando chegámos às seis rondas de negociações não houve negociação. O Governo apresenta nos uma grelha em que ele nos quer impor aquilo que ele acha que nos pode dar. Só que, infelizmente, nós achamos que ele pode dar muito mais do que aquilo que nos quer impor. Das 10.000 dobras que tínhamos proposto no nosso caderno reivindicativo, já estamos na situação em que não exigimos esse valor, mas aceitamos uma negociação dentro do valor inicial.

O governo prometeu algumas melhorias aos professores através do aumento de subsídios. Isso não é suficiente para vocês?

O governo propôs aumentar o subsídio de transporte, mas nem todos os professores beneficiam do subsídio de transportes. Há professores que têm, professores que não têm direito ao subsídio de transporte. Logo, a nossa luta é para que todos os professores vejam uma melhoria no seu salário. O Governo propõe; aos sábados nós temos reuniões de coordenação, são quatro sábados, dão 16h00. Ele propõe dar-nos cinco horas. Essas horas são praticamente nada quando fazemos os cálculos. O governo propõe dar no ensino básico para os professores que tem excesso de alunos na turma, turmas com 41 alunos até 43, ele propõe dar mais dez horas, para turmas com 44 até 46 ele propõe dar mais 15 horas. De 46 em diante, mais 46, ele propõe dar 20 horas. Mas não acontece com todos os professores e nós queremos que seja abrangido a todos professores.

O que é que significam essas horas?

Essas horas são o aumento de horas, suponhamos um professor que tem 30 ou 40 horas, passa a ter mais 40, passa a ter 50, de 50, passa a ter 60. Essas horas é que vão ser calculadas para o seu salário. Há professores que têm que dar aulas de expressões musical, física... são para aí umas três ou quatro expressões para as quais eles não estão preparados. Eles pedem um professor para fazer isso ou então que lhes paguem essas horas. Em resposta, o governo propõe dar mais 8 horas. Estas melhorias são se aplicam ao ensino básico, mas temos o básico segundo ciclo e temos o secundário. 

As pessoas de escalões mais baixos tem ao todo um total de 330 dobras de aumento, para os escalões mais altos têm 500 dobras. Achamos que dentro do que o governo tem pode um pouco mais. O problema é que o governo não quer mesmo negociar connosco. Ele impõe, diz nos que é isso que ele pode dar, mas de certeza que se o governo pensar bem, pode dar um pouco mais.

Após 22 dias de greve, quantos professores se mantêm em greve?

Todos, todos, todos, todos. Não há aulas, não tem havido aulas em nenhuma escola. Há uma adesão total. Isto que significa que, na realidade as pessoas estão mal. Porque se houvesse alguém que furasse a greve ou alguém que não concordasse já com a greve, mas não, não há aulas há 22 dias.

Isso não tem feito acelerar as rondas negociais e encontrar um acordo entre o Governo e a classe docente?

Quando eles nos chamam, nós vamos sempre às negociações. Seja aos sábados ou ao fim-de-semana. Só que chegamos lá e o governo não negoceia, o governo impõe. Nas seis vezes que nós já estivemos reunidos, o governo apenas impôs aquilo que achava que deveria dar ou que deveria fazer. Não discutiu sobre a nossa proposta apenas disse 'não podemos dar aquilo que vocês pedem, mas podia tentar negociar, por exemplo, dizendo que nos dava 'cinco, seis ou sete' para dizermos sim ou não. Eu penso que isso é que negociação, mas chegar e impor nos aquele valor e depois ir à televisão dizer que está a negociar, mas que o sindicato é que não quer, bom...

O primeiro-ministro considerou que por detrás da greve há motivações políticas. Como é que interpreta esta afirmação?

Essa é uma interpretação do primeiro-ministro. Na nossa luta, de momento, não temos nenhum partido político. Aliás, não precisamos de partido político porque os partidos políticos todos já estiveram no governo. Todos os partidos políticos que hoje estão na oposição já estiveram no governo e nenhum deles se preocupou com a situação dos professores. Porque essa situação é uma situação que já vem de longe, não foi criada com esse actual governo, nenhum partido anterior se preocupou com os professores. Isso é uma interpretação do senhor primeiro-ministro e deve ter, talvez, alguma razão para dizer isso, mas nós não temos nenhum partido político atrás de nós. Apenas a nossa indignação pela não valorização do trabalho dos professores.

Por: Lígia ANJOS
Conosaba/rfi.fr/pt/

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