O Partido da Renovação Social (PRS), integrante do atual Governo na Guiné-Bissau, acusa o regime de pretender instalar o terror e desta forma controlar os recursos do país "como bem entender".
A posição do PRS foi expressa num comunicado que o partido emitiu em Bissau para reagir a mais uma agressão de um cidadão guineense, alegadamente por homens armados e encapuzados.
No passado dia 30 de dezembro, o comerciante Ussumane Baldé foi raptado e espancado quando se dirigia do centro de Bissau para a sua residência, nos arredores da capital, após ter questionado a forma como estava a ser anunciada a nova distribuição de lugares de venda no mercado central da capital guineense.
No passado dia 27 de dezembro, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, inaugurou o mercado, totalmente remodelado, que tinha sido consumido por um incêndio há 16 anos, deixando ao relento os ocupantes.
Tanto o Presidente guineense como o líder da Câmara Municipal de Bissau, Fernando Mendes, sublinharam que o mercado será ocupado por comerciantes com capacidade de pagar a renda mensal a ser fixada de forma a juntar dinheiro para pagar um empréstimo concedido por um banco para a reconstrução do edifício.
O mercado, construído ainda na época colonial, tinha apenas estrutura única, mas com a requalificação passou a ser um centro comercial de três pisos, com 360 lugares de venda e com capacidade para albergar 480 comerciantes.
Uma grande parte dos antigos ocupantes do mercado acusa as autoridades de os terem excluído das cerimónias de reinauguração do espaço e ainda afirmam que não terão capacidade para pagar a renda a ser fixada.
Ussumane Baldé, um conhecido comerciante do mercado central de Bissau, deu uma entrevista no dia da reinauguração do espaço, questionando as novas medidas e ainda o facto de a cerimónia ter sido guardada por "dezenas de militares armados".
Num vídeo a circular nas redes sociais dos guineenses, Baldé aparece a questionar os motivos pelos quais havia "muitos militares numa cerimónia num país que não está em guerra".
Para o PRS, o "'modus operandi' do dito grupo de homens encapuzados não passa de milícias ao serviço do regime para impulsionar o estado de terror" na Guiné-Bissau, com o propósito de se dotar de um poder "altamente autoritário, coercivo e intimidativo para controlar os recursos do país como bem entender".
O PRS responsabiliza o Governo "pela sua inação e indisfarçável cumplicidade" face aos "sucessivos ataques" aos cidadãos e apela à comunidade internacional "a agir preventivamente por forma a evitar o caos" na Guiné-Bissau.
Também em comunicado a que a Lusa teve acesso, o Partido da Unidade Nacional (PUN) responsabiliza o Ministério do Interior, a quem exige que detenha e leve à justiça os autores de raptos e espancamentos de cidadãos guineenses.
A Liga Guineense dos Direitos Humanos deve visitar hoje Ussumane Baldé, que se encontra internado no Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau.
"A Liga condena este ato criminoso que vem engrossar a extensa lista de raptos e espancamentos de cidadãos, perpetrados pelas milícias ao serviço do terror, com a finalidade de intimidar e coartar o exercício das liberdades fundamentais" lê-se num comunicado da organização a que a Lusa teve acesso.
Conosaba/Lusa
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