terça-feira, 31 de janeiro de 2023

ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO DENUNCIA “COBRANÇAS ILÍCITAS” NAS ESCOLAS PÚBLICAS

O especialista em ciências da educação, Lamine Sonco, denunciou que a prática de “cobranças ilícitas” nas escolas públicas aumentou nos últimos tempos na Guiné-Bissau. Segundo Lamine Sonco, nas escolas públicas da Guiné-Bissau, osalunos pagavam ilicitamente cem a 500 francos CFA aos seus Professores para ter acesso aos exames normais de avaliação, mas nos últimos tempos estes valores têm oscilado entre 2500 a 5000 mil francos CFA, sobretudo nos períodos dos exames de avaliação da segunda-época.

“As cobranças dos Professores nas Escolas Públicas não têm enquadramento no sistema educativo guineense. O que está a acontecer, nos últimos tempos, nas diferentes Escolas públicas do país, não passa de um simples ato ilícito dos docentes para se enriquecerem à custa dos alunos, ” defendeu o especialista, para quem os professores, enquanto profissionais de educação pagos pelo Estado, não devem obrigar nenhum aluno a pagar a realização de quaisquer provas, porquanto “o sistema não permite nenhuma cobrança para a realização de avaliações”.

Para Lamine Sonco, todas as cobranças feitas pelos Professores nas escolas públicas são ilícitas, defendendo a expulsão destes professores do sistema, por estarem a contribuir apenas para o fraco rendimento escolar dos alunos e a má qualidade do ensino.

ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO DOS ALUNOS ACUSAM O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DE CUMPLICIDADE

Interpelado pela equipa de reportagem da Rede de Jornalistas sobre Mercados e Economia Ilícita da Guiné-Bissau (REJOMEI-GB) sobre a prática, o presidente da associação nacional dos pais e encarregados de educação, Armando Correia Landim, acusou o ministério da educação nacional de cumplicidade nessa prática, porque “teve a sua origem no próprio Ministério de Educação”.

Afirmou que todas as estruturas do Ministério sabem da existência de cobranças ilícitas nas escolas públicas, mas nada fizeram para banir esse fenómeno que hoje se tornou numa moda no país.

Por seu lado, o Presidente do Sindicato Democrático dos Professores (SINDEPROF), Alfredo Biaguê, criticou essa atitude e disse que nada justifica que professores das escolas públicas cobrem ilicitamente para que os alunos possam ter o acesso às avaliações escolares periódicas.

“Aconselhamos os professores a priorizarem e respeitarem as suas personalidades, evitando entrar em pequenas negociatas de notas com os alunos. É uma situação que não dignifica o bom nome dos professores”, criticou, para de seguida indicar que a prática apenas tende a piorar a imagem da classe docente que outrora era espelho da sociedade guineense.

Em entrevista à REJOMEI-GB, a Presidente da Confederação Nacional das Associações Estudantis da Guiné-Bissau (CONAEGUIB), Rosália Djedju, confirmou o fato em defesa dos direitos dos alunos, assinalando que é do conhecimento de todos que existem cobranças ilícitas nas escolas públicas.

“Mas nada é feito para acabar com a situação que continua a afetar a performance dos alunos”, lamentou e defendeu que os professores implicados nessa prática devem ser responsabilizados pelos diretores das escolas, enquanto representantes do Ministério da Educação.

“As direções das escolas devem assumir as suas responsabilidades para acabar com a prática que põe em causa o rendimento dos alunos”, sublinhou a líder das organizações estudantis, exortando a todos os atores do setor a trabalharem seriamente nessa matéria para tirar as escolas públicas dessa pressão.

Rosália Djedju apelou a diferentes associações membros da CONAEGUIB a denunciarem outros negócios deste género nas escolas públicas. O caso já está a provocar inquietação no seio da classe estudantil guineense. Os presidentes das associações dos principais liceus de Bissau já reagiram com bastante preocupação.

Os responsáveis dos Liceus Nacional Kwame N´krumah, Rui Barcelo Cunha e a Unidade Escolar José Ramos Horta do Bairro de Quelelé confirmaram que a prática é um hábito, os docentes impõem aos alunos a compra única e exclusiva de textos por eles produzidos a 500 ou 1000 mil francos CFA.

“Os professores marcam os seus textos para que os alunos não possam fazer cópias e estes ficam praticamente sem a possibilidade de receber alguma ajuda extra, porque querem certificar se tudo não vem de fora da sua produção”, acusou.

Por: Mamudo Dansó
vice-coordenador da REJOMEI

Conosaba/odemocratagb

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