Uma escola corânica no sul da Guiné-Bissau, que, segundo o Ministério Público, mantém em cativeiro 20 crianças talibé, foi desmantelada, disse hoje o governador da região de Quinara, Mamadu Sanha.
Citado pela rádio Sol Mansi (da Igreja Católica), o governador referiu ter sido informado pelos anciãos de Buba, a sede do governo regional de Quinará, e pelo comando local da Guarda Nacional, de que um professor corânico "mantinha em situações deploráveis as crianças".
As crianças talibé são crianças que saem do seu ambiente familiar com o pretexto de estudar o Corão noutra comunidade, mas que frequentemente acabam por ser exploradas.
"Informaram-me que o mestre corânico foi detido, que o caso está sob alçada do Ministério Público. É uma situação lamentável. Todos nós devemos preservar a vida das nossas crianças", observou Mamadu Sanha, recentemente nomeado pelo Governo para o cargo de governador de Quinará.
Sanha disse ser a favor da escolarização das crianças, salientando que deve ser dentro de condições aceitáveis.
Edy Coli, agente da Guarda Nacional que participou na operação de desmantelamento da escola, disse ao correspondente da Sol Mansi em Buba que as crianças "viviam em condições inapropriadas" e que o mestre corânico lhes disse que tinha no local 15, quando na realidade eram 20.
O agente da Guarda Nacional explicou que o caso chegou ao conhecimento da corporação após uma denúncia de um popular que não gostou do tratamento que era dado às crianças.
Ao saírem para constatar a situação na casa do mestre corânico, o próprio delegado local do Ministério Público deparou-se com uma daquelas crianças "de aparentemente 08 anos com um bidão de 25 litros de água à cabeça", contou Edy Coli.
"Ao chegarmos à casa vimos que aquilo não tinha condições nenhumas. Os quartos de dormir não tinham mosquiteiros. O senhor tinha umas tábuas, umas esteiras de tapume, como camas para crianças", relatou o agente da Guarda Nacional.
Quatro das crianças foram encaminhadas para o hospital de Buba, onde o enfermeiro Bendito Jorge Camala disse que "estavam com paludismo muito alto".
Duas das crianças continuam internadas naquele hospital.
O mestre corânico, Ussumane Camará, confirmou que a sua casa não tem condições para albergar as crianças, mas realçou que tudo o que faz é no sentido de evitar que as mesmas sejam levadas para outros países onde vão aprender o Corão.
Camará negou que esteja a sujeitar as crianças a cativeiro.
Conosaba/Lusa
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