Amélia Sanca, veterana do grupo de fuzileiros da Marinha de Guerra Nacional da Guiné-Bissau, criticou a ausência de um programa eficaz de formação associado à falta de condições técnicas para a formação de jovens fuzileiros do Estado-Maior da Armada. A veterana assegurou que atualmente, os fuzileiros navais não são capazes de aguentar missões no mar, devido à falta de preparação e que não existem fuzileiros no país que conheçam o mar para dirigir uma missão com sucesso.
A primeira tenente da Marinha de Guerra Nacional fez parte dos primeiros grupos de fuzileiros navais formados no período da luta armada, na antiga União Soviética para levar a cabo operações de desembarque no mar e rios contra as forças colonialistas portuguesas. Sanca formou-se no domínio da comunicação, para além de ter recebido instrução em combate.
A força de fuzileiros navais do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau foi criada a 12 de setembro de 1969, na cidade universitária de Poche, na antiga União Soviética, onde foram designados 76 dos 166 estudantes para formação no domínio naval, nomeadamente navegação, comunicação, mecânica, eletricidade entre outras áreas. A criação da força de fuzileiros navais foi materializada quatro anos depois da fundação da Marinha de Guerra Nacional, em Conacri, a 22 de dezembro de 1965.
VETERANA RECONHECE QUE FUZILEIROS NÃO TÊM CONDIÇÕES PARA DIRIGIR UMA MISSÃO SÓLIDA NO MAR
Amélia Sanca lembrou que a ideia da criação de forças de fuzileiros navais na luta de libertação começou quando o líder, Amílcar Cabral, entendeu que não era possível ser marinheiro sem conhecer primeiramente as técnicas combativas dos fuzileiros, depois para marinheiro com conhecimentos técnicos e combativos.
Enfatizou que os fuzileiros foram fundados na data do aniversário de Cabral, 12 de setembro, com o objetivo de fortalecer a força dos marinheiros navais, porque “a Rússia tinha fornecido barcos de guerra para preparar ações combativas e o grande sonho da força dos fuzileiros navais era contribuir para a libertação da Guiné-Bissau”.
“A luta armada já entrava na sua fase decisiva e os meios de guerra terrestres permitiram alcançar avanços satisfatórios no terreno. O partido estava ciente que o inimigo intensificara as suas ações na mobilização das suas tropas, particularmente com a mobilização dos comandos africanos, daí surgiu a necessidade de contrabalançar os comandos africanos, aplicando no terreno uma força com alto nível de preparação combativa, tanto naval como terrestre”, recordou a veterana, referindo-se às razões que precipitaram a criação da força de fuzileiros navais.
Explicou que a comunicação entre os elementos do grupo de fuzileiros na luta de libertação era feita através de sinais e que osgrupos percebiam muito bem, contudo, disse que atualmente é preciso modernizar o serviço devido ao desenvolvimento da tecnologia.
“Quando percebemos que os portugueses tinham percebido a existência dos fuzileiros guineenses, passámos a desempenhar duas funções, uma no mar e outra na terra para podermos ganhar a guerra, porque nós, os fuzileiros, éramos em número muito reduzido”, recordou a antiga fuzileira, acrescentado que depois da luta regressou para Bissau de barco.
A veterana de guerra com mais de 70 anos de idade, continua a servir o Estado da Guiné-Bissau no Estado-Maior da Armada. Confessou que precisa descansar, dado que deu a sua juventude para a causa da libertação do país. Contudo, disse que como militar, estará sempre disposta a servir a pátria a qualquer momento.
A primeira tenente assegurou que a força de fuzileiros navais,atualmente, não está em condições para dirigir uma missão sólida no alto mar e dar uma contribuição valiosa ao país, porque depara-se com falta de meios e acima de tudo, falta a preparação constante aos seus elementos. No entender da veterana, isso deveria ser uma rotina que deveria ser seguido com muito rigor e dinâmica, para fortalecer a capacidade combativa dos fuzileiros,que a qualquer hora podem ser chamados para o cumprimento da missão do Estado.
Amélia afirmou que conhece bem a história da guerra de libertação, porque foi telegrafista pessoal de Amílcar Cabral, acrescentando que as mulheres estavam firmes na guerra de luta de libertação.
Revelou neste particular que participou na luta com o sonho de ver a Guiné-Bissau livre do jugo colonial e ver também o seu desenvolvimento, tendo frisado que “infelizmente até ao momento continuamos a enfrentar sacrifícios sem nenhuma perspetiva para o desenvolvimento”.
“Até Cabo Verde está à frente da Guiné-Bissau em termos do desenvolvimento”, lamentou.
Por: Carolina Djemé
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb
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