quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Opinião: DJURTUS, VOCÊS PELO MENOS TENTARAM

Sei que alguns dos meus compatriotas vão discordar de mim (com alguma razão), mas não tem problema. A discordância deve ser percebida como algo normal em nossa sociedade (por sermos uma sociedade plural e democrática), embora não seja assim na maioria das vezes. 

O desempenho da nossa seleção (os Djurtus) na presente edição do Campeonato Africano das Nações (CAN, 2023) de fato decepciona e temos que reconhecer isso sem qualquer tipo de constrangimento. Críticas aos jogadores e a equipe técnica aqui e acolá são mais que bem-vindas. O que não devemos fazer, em minha opinião, é atacar a honra e a dignidade dos mesmos, como aconteceu com alguns jogadores após a partida contra a Guiné-Equatorial na última quinta-feira (18/01).

Tais críticas e manifestações de insatisfação em relação a nossa equipe nacional acabam, em minha percepção – sem querer ser o dono da verdade – perdendo de vista o real motivo pelo nosso fracasso na principal competição de futebol do continente negro: a nossa falida, moribunda, baixa e classe política. Sim, a governação (seja boa ou ruim) possui reflexo direto em todos os setores da vida social de uma determinada nação, e com o desporto e o futebol em especial, não é diferente. Os Djurtus, os quais considero os verdadeiros heróis da nossa pátria, no que concerne a digna representação da mesma, não ficaram pelo caminho logo na primeira fase desta edição do CAN (fato que se consumou com a derrota por uma bola frente a poderosa seleção nigeriana) por incompetência ou falta de patriotismo, mas sim, pela falta de toda uma estrutura que se faz fundamental para qualquer equipe ou seleção do mundo nas competições dessa dimensão e importância.

Aos nossos heróis de primeira hora sempre faltou o “básico-do-básico” para a representação condigna das nossas cores nacionais. Isso é algo sabido por todos, absolutamente todos. Os mesmos, a bem da verdade, sempre tiveram penúria de tudo, desde estruturas e academias de alto padrão, subsídios de representação, equipamentos e materiais de treinamentos entre outros; mas, mesmo assim, comparecem para, acima de tudo, assim como os que lutaram para libertar-nos das garras do colonialismo, dignificar a nossa pátria e os nossos valores como nação. Estou seguro de que muitos que escolhem representar as cores nacionais poderiam enveredar por caminho distinto, preferindo representar outras seleções mais fortes (algo que sou totalmente contra), mas o fazem pelo amor a nossa pátria; pelo amor ao nosso hino; pelo amor à nossa bandeira e à nossa nacionalidade.

Quando se tem um nível mínimo de organização; quando se tem um quadro político, econômico e social minimamente estável a realidade, não apenas no setor desportivo, mas em demais outros setores é naturalmente oposta do que vivenciamos. Cabo-Verde, Senegal e outros países africanos referencias no quesito estabilidade política e democrática são claros exemplos dessa questão crucial, não apenas pelo desempenho formidável e extremante positivo quem vêm tendo na atual edição do CAN, mas também na forma como são percebidas e tratadas pelas outras nações africanas e não africanas, dentro e fora do continente. Por que não apreendemos com esses exemplos? Reflitamos.

Enfim, àqueles que vêm nos próprios atletas o maior fracasso eu particularmente compreendo a vossa decepção e mágoa, mas entendo que os maiores (ir)responsáveis são os nossos policymakers, tanto na vertente governamentalquanto na federativa. Mudança é preciso! Aos Djurtus,saibam que pelo menos tentaram e, por isso, sempre contem com a minha torcida, nos bons e nos maus momentos. Muito obrigado por levarem e elevarem, mais uma vez, o nome do nosso país aos quatro cantos do nosso continente, algo que a nossa classe política até faz, mas por motivos fúteis, indignos e repugnantes. Até a próxima edição do CAN, dignos combatentes! Somos Djurtus ontem, hoje e amanhã!

Por: Deuinalom Cambanco
Investigador, Analista político e Mestre em Relações Internacionais.
Conosaba/odemocratagb

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