O coletivo Nô Raiz, uma organização não governamental guineense, denunciou atos de intolerância religiosa praticados na tabanca de Tinka, setor de Bissorã, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, por uma Organização Islâmica denominada “Fundação Dhawa Barriga de Povo”.
A denúncia foi tornada pública esta quarta-feira, 24 de janeiro de 2024, pelo coordenador do coletivo, Carlos Pereira, em conferência de imprensa realizada na Casa dos Direitos, em Bissau.
Carlos Pereira afirmou que na primeira semana de janeiro, um indivíduo foi à tabanca de Tinka, levou diferentes artigos como roupas, géneros alimentícios e converteu um grupo de indivíduos e aqueles que não aceitaram converter-se mediante a política usada por essa organização de cariz religioso foram ameaçados a abandonar a aldeia.
As informações avançadas pelo Coletivo indicam que a Organização Islâmica terá instruído os convertidos a expulsarem das casas ou da aldeia todos aqueles que não aceitaram converter-se.
“Por terem recusado converter-se estão a ser alvos de ameaças de serem expulsos da tabanca. Estão a obrigar irmãos convertidos a expulsarem seus irmãos que recusaram fazê-lo”, afirmou.
Perante esta situação, Carlos Pereira garantiu na sua comunicação que enquanto cidadãos guineenses não podem em nenhum momento compactuar e tolerar ou promover atos de intolerância religiosa no país.
Lembrou que a Guiné-Bissau é um Estado laico e como tal e independentemente da sua crença religiosa, todos os cidadãos podem viver em qualquer parte do país.
Carlos Pereira alertou que esse comportamento representa um “crime de terrorismo” e de “intolerância religiosa” e convidou todos os atores sociais a levantarem-se contra a intolerância religiosa.
O coordenador do Coletivo Nô Raiz afirmou que enquanto uma organização que defende a unidade nacional não tolerará nenhuma crença que se mostrar mais importante do que as outras organizações da mesma natureza.
Carlos Pereira responsabilizou a organização liderada por Mohamed Gomes por incitação à intolerância religiosa, criada na tabanca de Tinka e por tudo o que vier a acontecer aos cidadãos que não se converteram na aldeia.
O coletivo desafiou o governo a tomar medidas sérias, encerrar e suspender todas as atividades desse “grupo inconfesso” na aldeia e no país, bem como levar à justiça os responsáveis pela incitação à intolerância religiosa e ao ódio que está a criar na tabanca de Tinka.
Nô Raiz quer ainda que as autoridades investiguem em que circunstâncias este grupo de indivíduos foi obrigado a converter-se e condenou a atuação de todos os órgãos de comunicação social que passam discursos e matérias que põem em causa a unidade nacional e incitam ao ódio na sociedade guineense.
O coletivo é uma entidade civil focada na restauração dos saberes e valores ancestrais africanos sem fins lucrativos, apartidário constituído por um período indeterminado, dotado de autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
O coletivo Nô Raiz, que foi criado a 20 de novembro de 2020, tem como um dos objetivos implementar e fomentar a “cosmopercepção africana”, com vista a valorização das práticas locais, comprometer a comunidade guineense, em particular, a africana, para a preservação das identidades e culturas locais, bem como contribuir na (re)africanização das instituições do continente para dar respostas aos problemas locais.
Por: Carolina Djemé
Fotos: CD
Conosaba/odemocratagb
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