Na verdade, este ano celebramos o centenário de nascimento de Amílcar Cabral. Mas, quando olharmos para o seu grande projeto, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), chegamos rapidamente a uma conclusão que o atual PAIGC DSPecista não tem nada de visão e de ação ideológica de Amílcar Cabral. Tudo porque os ideólogos do PAIGC, Vasco Cabral, Hélder Proença e Koumba Yalá também já não estão de vida. Os DSPecistas estão hoje a deriva, sem uma visão e nem ação ideológica multipartidária de Amílcar Cabral.
Os três ideólogos, Vasco Cabral, Hélder Proença e Koumba Yalá foram autores, em setembro de 1991, da visão e da ação Estratégica do PAIGC para a década de 90. A estratégia espelhava uma visão e uma ação ideológica de Amílcar Cabral para o estabelecimento e a consolidação de uma democracia multipartidária no seio do PAIGC e na Guiné-Bissau.
Na impossibilidade de comunicar, de uma forma indicial a visão, a ação e a convenção ideológica de Amílcar Cabral num sistema democrático, o PAIGC fez apenas nascer, no cenário da democracia multipartidária nacional, vários partidos políticos. Aliás, a democracia multipartidária na Guiné-Bissau está cheia de partidos políticos com raízes do PAIGC. Esses partidos legalizados com lideres e militantes que pertenciam ainda às antigas sensibilidades internas do PAIGC que deixou os atuais DSPecistas fora da convenção ideológica democrática de Amílcar Cabral.
O tiro de partida para a desmobilização ideológica dos militantes do PAIGC veio do jovem ideólogo Koumba Yalá. Descontente com Nino Vieira fundou o partido da Renovação Social (PRS). A sua saída levou o PAIGC a segmentar-se internamente em três sensibilidades: ninistas, malambistas e cadoguistas. O que tornou quase impossível a convivência política democrática no PAIGC. O partido de Cabral perdeu assim, a visão e a ação ideológica para a uma nova era da democracia multipartidária na Guiné-Bissau.
Não obstante ter fundado o seu partido, Kumba Yalá apoiou o regresso de Nino Vieira ao poder contra Malam Bacai Sanhá. Na altura, já existiam no PAIGC as três sensibilidades políticas com uma narrativa discursiva muito icónica à ideologia de Amílcar Cabral.
Os DSPecistas do atual PAIGC estão com uma enorme dificuldade de coabitar democraticamente com a sensibilidade ninista e malambista legalizada no Movimento para Alternância Democrática (MADEM G15). Eles, os DSPecistas, vivem com uma visão sem uma ação ideológica sustentada na ideologia política democrática de Amílcar Cabral. Cada militante do PAIGC, desta era sonha apenas com uma visão de Amílcar Cabral sem uma ação ideológica de Amílcar Cabral.
Se os DSPecistas de atual PAIGC continuarem a sonhar apenas com uma visão de Amílcar Cabral sem uma ação ideológica de Amílcar Cabral, dificilmente poderão satisfazer a vontade democrática da população eleitora nas urnas. Ou seja, continuarão a estar longe da governação do país. Pois podem ganhar legalmente as eleições legislativas e não traduzir, na governação, a vontade legítima da população eleitora nas urnas.
Amílcar Cabral tinha uma visão e uma ação ideológica clara sobre a luta armada de libertação nacional. Por exemplo, numa conversa em Boé com um antigo combatente e o seu amigo pessoal, Aladje Bacar Sane, este disse-lhe que não iria assistir à Independência da Guiné-Bissau. Como um grande politicólogo que era, Amílcar Cabral respondeu-lhe, sem nenhuma preocupação, que não era ele quem iria tomar a independência da Guiné-Bissau, mas sim o PAIGC.
Na verdade, sem margem para dúvidas, Amílcar Cabral era um verdadeiro politicólogo no PAIGC. Hoje, nos DSPecistas do atual PAIGC temos mais politólogos. Ou seja, não podemos comparar a visão e a ação de um cirurgião com a visão e a ação de um sapateiro, porque ambos trabalham com a pele. Porém, cada um tem o seu campo de ação totalmente diferente de outro. Por isso, este PAIGC de politólogos DSPecistas não tem nada do PAIGC de politicólogos de Amílcar Cabral.
Por: António Nhaga
Diretor Geral
Conosaba/odemocratagb
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