sábado, 15 de outubro de 2022

«Djambacatam» Tráfico na linha de fronteira: POLÍCIAS ENRIQUECEM-SE COM COBRANÇAS ILÍCITAS PARA FACILITAR A ENTRADA DO CANÁBIS NO PAÍS

Agentes da brigada de narcotráfico do Comando da Guarda Nacional que monitoram a entrada e saída do tráfico de canábis nas linhas fronteiriças com os países vizinhos estão a enriquecer-se cada vez mais, por causa das cobranças ilícitas para facilitar a entrada dos traficantes no país.

A prática de cobranças ilícitas feita por agentes da brigada de narcotráfico foi denunciada à Rede de Jornalistas sobre Mercado e Economia Ilícitos da Guiné-Bissau (REJOME-GB), por um alto oficial do Comando da Guarda Nacional ligado à fiscalização da circulação de canábis nas linhas fronteiriças, que afirmou na conversa com o repórter, que este comportamento leva muitas pessoas envolvidas no esquema ou na rede de tráfico de canábis a perderem a vida.  

AUTORIDADES REVELAM QUE CANÁBIS ESTÁ A SER CULTIVADO NA GUINÉ-BISSAU

“Os agentes da Polícia nas linhas fronteiriças estão envolvidos em práticas de suborno que facilita a circulação de Liamba e fuga dos traficantes”, confidenciou o alto oficial, revelando o envolvimento de alguns paramilitares que fazem apreensão de drogas nas negociações com os traficantes para a libertação do produto em troca de um certo valor monetário exigido.

“Se o traficante for detido com uma motorizada, os agentes da polícia apropriam-se da motorizada e obrigam o traficante a pagar um valor que varia de 200 a 500 mil Francos CFA, depois do pagamento deixam-no escapar, nem é apresentado à justiça como está determinado na lei”, disse. 

A REJOME-GB apurou que os agentes da brigada de narcotráfico da Guarda Nacional colocados nas fronteiras com os países vizinhos para monitorizar a entrada e saída dos tráficos de canábis estão a implementar de uma forma generalizada as cobranças ilícitas, que facilitam a fuga dos traficantes de drogas.

“Os agentes deixaram de monitorizar a circulação de canábis nas linhas de fronteiras, permitindo a entrada desse produto ilícito no país, através de um esquema de cobrança de certos valores aos traficantes para facilitar a sua entrada”, disse.

O alto oficial da Guarda Nacional colocado numa das linhas fronteiriças revelou que neste momento estão detidos nas celas de prisão de Bafatá cinco agentes da polícia por envolvimento direto no tráfico de canábis, tendo recordado que na mesma operação desencadeada para a detenção desses agentes “morreu um jovem de 27 anos de idade por ajuste de contas” e que familiares acusam os agentes da polícia da morte do jovem.

Um traficante de droga prepara cannabis plantada na Guiné-Bissau, em Bissau, Guiné-Bissau, 20 de março de 2016. Cocaína fresca continua a chegar à Guiné-Bissau e está à venda no centro da capital. A droga esconde-se na amálgama de habitações de adobe e lata, no meio do pó, lixo e esgotos a céu aberto.A Guiné-Bissau continua a fazer parte de um grupo de 11 países da região vulneráveis ao tráfico de droga.(ACOMPANHA TEXTO DO DIA 05 DE MARÇO DE 2016). LUÍS FONSECA/LUSA

O tráfico de canábis está aumentar a cada dia no país, particularmente nas zonas fronteiriças, de acordo com a informação avançada pela emissora comunitária “Balafon”, na secção de Ingoré, setor de Bigene, região de Cacheu. A mesma emissora comunitária noticiou que o destacamento número dois da Brigada da Guarda Nacional apreendeu no dia 11 de setembro deste ano 155 quilogramas de Liamba no Rio Cacheu.

A Rádio Comunitária avançou igualmente que foram também apreendidos 36 quilogramas de canábis na seção de Ingoré e 22 embalagens do produto na ponte de São Vicente.

O problema de circulação de drogas generalizou-se quase em todas as linhas fronteiriças. No Leste do país, na cidade de Bafatá, a Brigada da Guarda Nacional apreendeu oito sacos de Liamba. Na região de Oio, foi apreendida Liamba cuja quantidade não foi revelada.

O Departamento de Informação Policial e Investigação Criminal (DIPIC) do Comissariado Nacional da Polícia de Ordem Pública anunciou no início do mês de setembro último apreensão de 86 quilogramas de cocaína pura, numa operação que, de acordo com a imprensa, teve início no setor de Quinhamel, região de Biombo, e terminou perto do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissalanca, e os supostos narcotraficantes continuam foragidos. 

Uma fonte da Polícia Judiciária disse à REJEI-GB que a PJ recebeu 71 placas de cocaínas apreendidas na mesma operação, que foi totalmente destruída no dia seguinte.  A fonte da PJ confidenciou ao repórter que “progressivamente está a aumentar casos de tráfico de canábis, porquanto as pessoas estão atualmente a cultivar o canábis na Guiné-Bissau”.

ESPECIALISTA AFIRMA QUE CANÁBIS É MAIS CONSUMIDO EM BISSAU E BAFATÁ

O especialista em Psicoterapia do Centro de Recuperação Mental de Quinhamel, Pastor Domingos Té, revelou que “o setor autónomo de Bissau e a região de Bafatá concentram o maior número de pessoas consumidoras de estupefacientes na Guiné-Bissau”.

“O consumo de drogas pode causar déficit no engajamento social e político dos seus consumidores, porque os usuários destas substâncias ficam limitados na concorrência no mercado do trabalho”, explicou, acrescentando que “o consumo dessa droga tem um efeito devastador a nível da economia familiar, uma vez que os jovens consumidores de drogas são incapazes de contribuir nos debates de ideias”.

Ouvido pela REJOMEI-GB sobre o aumento de consumo de canábis nas zonas fronteiriças, o Régulo do Setor de Farim, região de Oio, Aliu Sissé, disse que o consumo de drogas pode destruir a cultura e a tradição da região de Oio.

“O Liamba está a destruir famílias inteiras no setor de Farim. Por isso, pedimos forte engajamento do governo no combate ao tráfico e ao consumo de Liamba, que estão a causar efeitos negativos na vida dos nossos jovens”, afirmou.

Por: Mamudo Dansó

Vice-Coordenador da REJOMEI

E-mail: rivadanso@gmail.com


Conosaba/odemocratagb


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