Grupo de militares leu um comunicado na TV e anunciou o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram, no sábado, Ali Bongo Ondimba© GABON 24 / AFP
Num comunicado lido num canal de TV, o grupo de militares fez saber que decidiu "defender a paz, pondo fim ao regime em vigor". Anunciaram o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo Ondimba, agora em prisão domiciliária.
Um grupo de militares do Gabão anunciou esta quarta-feira na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram, no sábado, Ali Bongo Ondimba e a dissolução de todas as instituições democráticas.
O anúncio foi feito num comunicado de imprensa lido no Gabon 24, um canal de televisão detido pela presidência do país, por cerca de uma dúzia de soldados gaboneses.
Os militaraes anunciaram que o presidente do Gabão está em prisão domiciliária e um dos seus filhos foi preso por "traição".
"O presidente Ali Bongo está em prisão domiciliária, rodeado pela sua família e médicos", fez saber o grupo de militares que tomaram o poder no país.
Depois de constatar "uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (...) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor", declarou um dos soldados.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um "Comité de Transição e Restauração Institucional", disse que todas as fronteiras do Gabão estavam "encerradas até nova ordem".
De acordo com jornalistas da AFP, durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.
Horas antes, a meio da noite, às 03:30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral disse que o presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, que obteve 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.
O Governo invocou o risco de violência, na sequência das declarações de Ondo Ossa, que exigia ser declarado vencedor.
O exército e a polícia tinham montado bloqueios de estradas em toda a capital, durante a madrugada, para impor o recolher obrigatório pela terceira noite consecutiva.
Logo no dia da votação, duas horas antes do fecho das assembleias de voto, os principais partidos da oposição gabonesa tinham denunciado uma fraude eleitoral e exigido que fosse reconhecida a vitória de Ondo Ossa.
Na segunda-feira, numa conferência de imprensa em Libreville, Mike Jocktane, diretor de campanha de Ondo Ossa, disse que Bongo tinha de aceitar, "sem derramamento de sangue, a transferência de poder".
UE adverte que golpe vai fazer aumentar a instabilidade na região
O Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros já afirmou que a eventual confirmação do golpe de Estado no Gabão "aumentará a instabilidade em toda a região" central de África.
"A notícia é confusa. Recebi a notícia pela manhã. Se isto se confirmar, é mais um golpe militar que aumenta a instabilidade em toda a região", declarou Josep Borrell, ao chegar à reunião de ministros da Defesa da UE, que se realiza em Toledo, em Espanha.
Borrell confirmou que a situação na África subsaariana "não está propriamente a melhorar", visto as notícias que recebeu sobre o Gabão.
Questionado sobre a reação da União Europeia caso se confirme-se o golpe militar no Gabão, o chefe da diplomacia da UE respondeu com "vamos ver".
"É difícil antecipar o que os ministros vão dizer" sobre o Gabão durante a reunião que se realiza em Toledo, avaliou Borrell.
França acompanha acontecimentos no Gabão com "a maior atenção"
Pela voz da primeira-ministra Elisabeth Borne, França está a acompanhar os acontecimentos no Gabão "com a maior atenção".
A declaração de Borne foi a primeira reação da França, a antiga potência colonial no Gabão, cuja influência em África.
As atividades do grupo mineiro francês Eramet foram, entretanto, suspensas no Gabão na sequência do golpe militar, declarou fonte da companhia à AFP.
"Na sequência dos últimos acontecimentos, o grupo suspendeu as atividades no Gabão" e está a monitorizar a situação para "proteger a segurança dos funcionários e a integridade das instalações", declarou fonte da Eramet.
O grupo mineiro emprega cerca de oito mil trabalhadores no país, a maioria das quais gaboneses.
Conosaba/Lusa
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