sábado, 26 de novembro de 2022

Governo são-tomense promete investigação às mortes após ataque a quartel


O Governo de São Tomé e Príncipe garantiu hoje que todas as mortes decorrentes da "tentativa de golpe de Estado" serão investigadas, para além de um inquérito para esclarecer os acontecimentos de sexta-feira.

"O Conselho de Ministros informa que, conforme a lei, todos os inquéritos serão diligenciados para apurar as causas e circunstâncias das mortes, para além das investigações levadas a cabo para esclarecer os acontecimentos e responsabilizar todos aqueles que poderão neles estar envolvidos", lê-se no comunicado divulgado após a primeira reunião extraordinária do novo Governo liderado por Patrice Trovoada.

O assalto ao quartel, que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, foi neutralizado pelas 06:00 locais (mesma hora em Lisboa) desta sexta-feira, com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento.

Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arlécio Costa, que tinha sido levado pelos militares para o quartel às primeiras horas da manhã.

No comunicado, o executivo condena "veementemente a tentativa violenta de subversão da ordem constitucional" e lamenta as mortes, endereçando condolências às famílias dos falecidos.

O Governo elogia ainda "a bravura" do tenente Marcelo da Graça, que foi feito refém e agredido com violência pelos atacantes e felicita as Forças Armadas por terem "corajosamente defendido as instoituições do Estado e garantido a ordem constitucional".

O Conselho de Ministros "orientou ainda a ministra da Justiça e o ministro das Finanças a prestarem toda a assistência necessária, caso solicitado pelos órgãos judiciais, no sentido de agilizar os trabalhos conducentes ao apuramento da verdade e a realização da justiça".

No comunicado, lê-se ainda que o Governo "lamenta as imagens chocantes que circulam nas redes sociais" e "solidariza-se com a indignação que têm estado a causar".

Ao longo do dia de sexta-feira, fotografias dos detidos com marcas de agressões e sangue e com as mãos amarradas atrás das costas, bem como já na morgue, foram amplamente divulgadas nas redes sociais.

O Governo orientou ainda os serviços hospitalares para que "os corpos sejam devidamente conservados nas morgues" até à chegada da equipa portuguesa que apoiará a investigação, composta por elementos da Polícia Judiciária e um médico legista.

O Ministério Público de São Tomé e Príncipe abriu dois processos-crime para investigar o ataque ao quartel militar ocorrido na madrugada de sexta-feira e o alegado homicídio e tortura de quatro suspeitos, disse à Lusa fonte judicial.

Ao início da manhã de sexta-feira, os militares detiveram, nas suas respetivas casas, o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, atualmente deputado pelo movimento Basta, e Arlécio Costa, antigo oficial do `batalhão Búfalo` que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.

Os assaltantes terão alegadamente atuado com a cumplicidade de militares no interior do quartel, tendo pelo menos três cabos sido detidos. No exterior, cerca de 12 homens aguardavam, em carrinhas, e alguns fugiram durante as trocas de tiros com os militares.

Os atacantes e os militares envolveram-se em confrontos, tendo o oficial de dia sido feito refém e ficado ferido com gravidade após agressões.

Ao final da tarde, dezenas de detidos foram transferidos das instalações militares para as sedes da Polícia Judiciária e Polícia Nacional, um ato acompanhado pelo escritório das Nações Unidas no país, em articulação com o Presidente da República, Carlos Vila Nova, e com o procurador-geral da República, Kelve Nobre de Carvalho.

Conosaba/Lusa

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