quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Seleção Nacional: GUINÉ-BISSAU DEVE 60 MILHÕES DE FRANCOS CFA À ENTÃO EQUIPA TÉCNICA DE PAULO TORRES

O Estado da Guiné-Bissau tem uma dívida de sessenta milhões (60.000.000) de francos CFA à antiga equipa técnica da seleção nacional de futebol liderada por Paulo Torres, entre 2013 e 2015

A informação foi transmitida na quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022, à secção desportiva do Jornal O Democrata pelo antigo selecionador nacional adjunto, Paulo Gonçalves, numa entrevista telefónica a partir de Angola, onde trabalha agora.

Segundo a explicação de Gonçalves, a dívida em causa à então equipa técnica dos “Djurtus”, que se arrasta há mais de 7 anos, é relativa à rescisão do contrato com Paulo Torres, salários em atraso e prémios de jogos da seleção nacional.

Conhecido entre amigos por Paulo Russo, Gonçalves, que recebeu uma procuração de Paulo Torres para tratar do assunto com autoridades da Guiné-Bissau,revelou que tentou por todas as vias “cordiais” resolver a situação, mas sem sucesso.

“A Procuradoria-Geral da República (PGR) deu ordens às Finanças para pagar as dívidas. Reuni-me com o então Presidente da República, José Mário Vaz, que na minha frente ligou ao ministro das Finanças a dizer que queria tudo isso resolvido imediatamente. Para além da intervenção do Presidente da República, Temos tentado também com todos os secretários de Estado e Ministros dos Desportos resolver a situação, mas até ao momento não parece haver vontade do governo em resolver o problema”, disse.

“Isso custa muito e são 7 anos, constantemente todos os dias o meu advogado anda a falar com as pessoas e tentar arranjar uma solução, porque nunca me passou pela cabeça, mas agora é chegada altura de acionarmos as exigências porque estamos cansados com a situação”, declarou Paulo Gonçalves, visivelmente desapontado com a falta de engajamento das autoridades nacionais.

O técnico português agora a trabalhar no Grupo Desportivo Interclube de Angola mostrou-se satisfeito pelo sucesso alcançado pela seleção nacional nos últimos anos e pela paixão que se sente pela Guiné-Bissau, mas defendeu que a antiga equipa técnica deveria ter merecido outro tipo de tratamento das autoridades nacionais.

Russo disse ter reconhecido a difícil situação que a Guiné-Bissau vive há vários anos, nomeadamente, os salários em atraso aos trabalhadores da função pública, mas pediu que o pagamento seja feito de forma gradual, de forma a não criar mais encargos ao executivo que tem muitos dossiês da vida social dos guineenses para resolver.

O antigo selecionador adjunto da seleção nacional frisou que o antigo secretário de Estado da Juventude e Desportos, Florentino Dias, tinha manifestado abertura para resolver a situação.

Na altura do estabelecimento do contrato, o técnico português Paulo Torres assinou um contrato de três anos com o executivo e não com a Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), porque o então presidente da instituição federativa, Manuel de Nascimento Lopes, não concordou com a contratação de Paulo Torres para comandar a seleção nacional.

Mas segundo explicação, o executivo fez o contrato na altura a pedido da FFGB.

Embora o contrato tenha sido rubricado com o executivo, Gonçalves revelou que o seu advogado enviou uma carta à direção executiva da FFGB e à instituição que gere o futebol nacional, mas esta disse não ter conhecimento da carta.

“Tentei ligar várias vezes ao presidente da federação, Caíto Teixeira, que não atende as minhas chamadas nem as retorna. Falei com Fortunato Cardoso “Bodjam”, Vogal coordenador do gabinete de Marketing e relações da FFGB, também disse que não tem conhecimento da carta”, explicou.

Durante a mesma entrevista a partir de Luanda, Russo revelou ter abordado o assunto com vários jogadores da seleção, incluindo o atual selecionador nacional, Baciro Candé, que terá prometido mediar assunto, mas até ao momento nada foi feito neste sentido.

Desgastado com as promessas das autoridades e a falta de engajamento, o técnico português ameaçou mover uma queixa junto da FIFA, organismo que dirige o futebol mundial, para reclamar a dívida de 60 milhões de francos CFA.

“Cansei de ouvir promessas de pessoas que não dão o devido respeito e aí não vamos ter alternativa e o meu advogado vai ter que seguir os trâmites legais e seguir para a FIFA”, finalizou o técnico.

Ouvido pelo Democrata na sexta-feira, 18 de fevereiro, o advogado do técnico, Gorky Medina, fez lembrar ao executivo que os técnicos somente estão a exigir o pagamento do trabalho que prestaram ao Estado guineense.

Medina realçou a abertura sempre do então secretário de Estado da Juventude e Desportos, Florentino Dias, para encontrar a fórmula para o pagamento da referida dívida.

“Toda a gente da Guiné-Bissau sabe que estes técnicos prestaram um serviço no país, por isso não se pode complicar o processo de pagamento”, disse.

Numa entrevista concedida ao jornal O Democrata, o causídico confirmou que abordou em diversas vezes o assunto com a direção executiva da FFGB, mas nunca o organismo se mostrou disponível para ajudar a resolver o problema.

“A Federação de futebol nunca participou nem ajudou a pressionar o governo para pagar as dívidas aos técnicos, porque entende que não tem responsabilidade sobre a dívida, mas na verdade quem deve assumir a responsabilidade de exigir o pagamento das dívidas era a instituição, uma vez que beneficiou do trabalho executado pela então equipa técnica”, afirmou Medina.

Perante estes cenários da falta de engajamento das autoridades, Medina revelou que nos próximos tempos vai avançar com uma queixa junto da FIFA para exigir o pagamento dos 60 milhões de francos CFA.

O advogado reconheceu que é uma tarefa muito difícil,enquanto guineense, mover uma queixa contra o Estado guineense, mas lembrou que simplesmente está a cumprir a sua tarefa profissional, respeitando a vontade do seu cliente, enquanto causídico.

Questionado sobre a data que vai mover a queixa contra a Guiné-Bissau junto do organismo que dirige o futebol mundial, Medina não abriu o jogo, contudo, mostrou-se aberto para continuar a negociar com o executivo em busca da solução para evitar uma possível sanção contra o país nas competições internacionais.

Paulo Torres chegou à Guiné-Bissau em novembro de 2013 e tinha contrato até ao mesmo mês …. de 2016, mas foi demitido do cargo devido a maus resultados. Torres foi o quarto treinador português a orientar a seleção da Guiné-Bissau, depois de Guilherme Farinha, na década de 1990, Luís Norton de Matos e Carlos Manuel, que orientou “os Djurtus” uma única vez, num jogo contra os Camarões.

Segundo apurou O Democrata, o montante inicial da dívida estava em mais de 80 milhões de francos CFA, mas o executivo só conseguiu liquidar uma parte da dívida.

O antigo jogador do Sporting de Portugal agora trabalha no clube angolano Recreativo do Libolo de Angola.

Por: Alison Cabral
Conosaba/odemocratagb

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