quarta-feira, 12 de agosto de 2020

KIM KU TEM TERRA?, SI ANÓS TUDO NÓ BIM NAM, DIPUS NÓ DJAGASSI!

Os povos originários do Saara entraram na Guiné através do «corredor» do Gabu. «Papéis, manjacos, brames, balantas e beafadas, entraram em contacto uns com os outros ao atravessar o citado corredor, explicando-nos assim o facto de os beafadas se dizerem parentes próximos dos balantas e papéis, e vice-versa».

Por outro lado, a arte bijagó revela extraordinárias semelhanças com a arte rupestre do Saara, a indiciar uma origem saariana para os bijagós.

OS FULAS
Com a progressão do deserto do Saara, a partir de certa altura, os próprios pastores bovídeos são obrigados a partir. Estes povos, considerados os antepassados dos fulas, acabaram por se instalar no Boro, Tekrur e Macina e, mais tarde, no Futa-Djallon. É a partir daqui que eles se deslocarão, mais tarde, para o território que atualmente constitui a Guiné- Bissau.

OS MANDINGAS
Na sucessão de todos estes impérios (Ghana, Mali e Songhai), os grupos populacionais miscigenaram-se, adquirindo características culturais comuns.
A Guiné recebeu influências destes três impérios, tendo feito parte integrante dos dois últimos.
Os mandingas, como já vimos, entraram no país principalmente durante a vigência do Império do Mali.


OS PAPEIS
Mecau, filho de um rei de Quínara, andando à caça, chegou à ilha de Bissau. Gostou muito do lugar e resolveu aí instalar-se.
Trouxe, depois as suas seis mulheres e também a sua irmã mais velha, já casada. A irmã garantia-lhe a sucessão, de acordo com o costume, segundo o qual é o sobrinho, filho da irmã mais velha, e não o filho do rei, quem sucede ao trono.
Mecau seria, pois, o primeiro rei de Bissau.
Da sua irmã e das seis mulheres ter-se-iam originado as sete gerações (clãs) da etnia papel.
Pungenhum, a irmã de Mecau gerou o clã Intchassu, no plural Bissassu, donde se teria originado o nome Bissau. De facto, este clã ainda hoje habita na cidade de Bissau. Os indivíduos desta geração diziam-se bravos como a onça e, por isso, escolheram o apelido Nanque. Hoje também usam o apelido Ié. Ocupavam posições de mando: eram reis, fidalgos ou djagras
Mala, uma das seis mulheres, gerou o clã Intsó (plural: Bitsó) que povoou Bandim. As pessoas desta geração escolheram como totem o sapo – Có – porque se dedicavam à agricultura, andavam metidos na água como os sapos.
Intsoma, outra mulher, gerou o clã Indjokomo, no plural Bidjokomo, que povoou o Alto Crim. Tinham como totem a hiena – Cá – pois eram destemidos guerreiros, atacavam como as hienas.
Djokom, a terceira mulher, gerou o clã Intsafinte, no plural Bitsafinte, que povoou Safim. Usavam como totem a lebre – Té – pois diziam-se matreiros como a lebre.
Kliker, a quarta mulher, originou o clã Iga, no plural Biga, que povoou Kliker (atualmente Calequir). Esta geração escolheu como totem a cabra do mato – Sá – pois afirmavam serem rápidos como este animal.
Intende, a quinta esposa, gerou o clã Intsutu, no plural Bitsutu, que povoou Mindara. Usavam como totem o timba ou urso formigueiro – Djô.
Finalmente, Intchopolo, a sexta mulher, gerou o clã Intsalé (plural: Bitsale) que foi para Bissalanca. Esta geração escolheu como totem o macaco – Indi – pois eram hábeis a subir às palmeiras, para extraírem o vinho de palma.
Dos locais onde viviam estes clãs, irradiaram depois para todos os pontos da ilha, sem discriminação.

Uma lenda corrobora a ligação que teria existido entre papéis e beafadas: dizia-se que, quando era abatido um animal no Irã de Quínara, aparecia sangue desse animal na Baloba de Bissau. Neste caso a tradição oral mistura-se com a superstição, retirando credibilidade à informação. Mas, digamos que esta lenda foi «inventada» por alguém que reconhecia haver laços de parentesco entre papéis e beafadas.


Jorge Herbert

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