O especialista em segurança e nas relações internacionais, Abdu Jarju, afirmou que a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) não reúne neste momento as condições financeiras e nem materiais para a criação e a operacionalidade de uma força militar sub-regional da dimensão que se perspetiva, tendo justificado que atualmente alguns países membros daquela organização têm a sua contribuição em atraso e como poderiam contribuir para a manutenção de uma força daquela natureza?
“Estão a criar esta força pensando na assistência das potências ocidentais e desta forma serão telecomandados pelos financiadores. Desde 2011 que o terrorismo se alastrou no Sahel e outras partes da sub-região e os países membros nunca pensaram em criar uma força para acabar com este flagelo e só agora. A Nigéria estava a lutar contra estes grupos durante vários anos sem resultados”, disse o também professor universitário, que foi o Embaixador Plenipotenciário da Gâmbia para a Guiné-Bissau, Guiné-Conacri e Cabo Verde, durante a entrevista ao nosso semanário para analisar as decisões saídas da 65ª Cimeira dos Chefes de Estado e do Governo da CEDEAO, bem como da decisão dos três países da sub-região (Burkina, Níger e Mali) dirigidos pelos militares e que consolidaram este final de semana a iniciativa da Confederação do Estado de Shael.
“CEDEAO AGIU COM EMOÇÕES, DEVE PROCURAR SOLUÇÃO FACE À SITUAÇÃO DA DESINTEGRAÇÃO DE TRÊS PAÍSES”
No encerramento da 65ª sessão da Conferência, o presidente nigeriano, que dirige a Conferência dos Chefes de Estado e do Governo, Bola Tinubu, instou os países da região no sentido de esforçarem todos na angariação de uma soma de 2,6 mil milhões de dólares norte-americanos, que a organização acredita serem necessários para o estabelecimento da força de reserva que se perspectiva criar para lutar contra o terrorismo que fustiga a sub-região.
O professor de relações internacionais nas universidades Colinas de Boé e também no Jean Piaget, em Bissau, disse na entrevista que a questão da força militar de luta contra o terrorismo ou da reposição da ordem constitucional da CEDEAO não é uma coisa nova, tendo lembrado que foi uma iniciativa do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, durante o seu mandato na testa daquela organização sub-regional. E acrescentou que a referida força não é realista e nem realizável, porque de acordo com a sua explicação, o custo envolvidos para a manutenção desta força não será disponibilizado pelos Estados da CEDEAO.
“Para além da questão do que os terroristas são mais bem equipados de que as forças de muitos países da CEDEAO”,assegurou, avançando que a questão da reposição da ordem constitucional que é uma das razões da criação da referida força, será possível só com os pequenos países membros desta organização, mas não com a Nigéria e outros países como Senegal, Costa do Marfim.
Questionado sobre entre a crise política, social e económica no seio da comunidade, ameaça do terrorismo e a desintegração dos três países, qual deveria ser a prioridade da organização neste momento, Jarju disse que na verdade os cidadãos estão a reclamar pela verdadeira soberania dos países da CEDEAO e que a organização hoje está distanciada dos seus povos e que perdeu toda legitimidade e credibilidade, pelo que sustentou que a prioridade hoje para a organização é construir a sua imagem e credibilidade junto dos povos que a compõe.
“Os objetivos iniciais da organização de integração económica foram abandonados a favor das questões políticas, por isso depara-se constantemente com os problemas de instabilidade e conflito na sub-região”, notou.
Sobre o risco de isolamento diplomático e político bem como de autorização de entrada com vistos dos cidadãos dos três países (Burkina, Níger e Mali) nos restantes países da sub-região, Abdu Jarju disse que o presidente da comissão da CEDEAO, o meu compatriota, Alieu Touray, não fez o trabalho de casa suficiente antes de se pronunciar, “ele ignora muitas coisas até mesmo do potencial económico que os países da Confederação do Estado de Sahel têm”.
“O presidente da comissão ignorou que os três países têm um espaço geográfico maior que os restantes países membros. Estes três países ocupam uma posição estratégica que divide os países membros da CEDEAO em zonas cujos contatos sem a cooperação com os países da confederação dos países do Sahel será difícil. Se se aplicar o princípio econômico de vantagens comparativo é a CEDEAO que vai mais sofrer que os países que eles pensam castigar”, alertou o especialista, lembrando que durante a crise do Níger, a CEDEAO decidiu unilateralmente fechar as suas fronteiras, aplicando o princípio de reciprocidade, o Níger também decidiu fechar o seu espaço aéreo e isso criou uma subida exorbitante dos preços dos bilhetes de avião.
“Se a CEDEAO aplicar visto como ameaçou o presidente da comissão aplicando o princípio diplomático de reciprocidade, os três países também vão aplicar a cobrança de vistos a todos os cidadãos do espaço da CEDEAO nos seus respetivos países. A CEDEAO está a agir com emoções e deve voltar ao senso racional para poder encontrar a solução da crise com os três países”, advertiu, para de seguida assegurar que os países da recém criada Confederação têm uma superfície de 2 milhões oitocentos mil quilómetros quadrados e com população estimada em mais de 70 milhões de habitantes e que segundo a sua explanação, são hoje produtores de ouro, petróleo, gás manganês, urânio e outros recursos naturais ainda por explorar.
“Acho que nenhum presidente que está com o bom senso não irá escolher o caminho de tentar desestabilizar estes três países, cujas forças armadas estão a lutar contra grupos terroristas durante os passados dez a doze anos. Se a CEDEAO tentar colaborar com os imperialistas para desestabilizar os três países estarão a prestar um mau serviço aos seus povos, porque isto significaria desestabilizar toda a sub-região”, alertou.
Por: Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb
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