As emissões da RDP e da RTP na Guiné-Bissau estão suspensas desde ontem "por ordens superiores". Este encerramento aconteceu alguns dias depois de o governo ter emitido um comunicado em que dava conta do seu descontentamento com o tratamento dado por estas antenas à actualidade política do país, e nomeadamente a cimeira da CEDEAO recentemente realizada na Guiné-Bissau.Publicado a: 14/07/2023 - 19:21
Segundo o comunicado que o governo da Guiné-Bissau emitiu logo após a cimeira, o canal televisivo RTP-África e a rádio RDP-África têm dado de "forma sistémica" uma cobertura mediática tendenciosa da actualidade política guineense, “permitindo ofensas, acusações desonestas ao Presidente da República da Guiné-Bissau, democraticamente eleito".
Ao "manifestar a sua mais profunda indignação, mais uma vez, de todas as injúrias, difamações e acusações, terminologias levianamente proferidas, por comentadores marginais, frustrados, escolhidos a dedo para o efeito, sem nenhuma base factual, contra o bom nome pessoal, do Chefe de Estado e contra a nação guineense", o governo denuncia a forma como foi relatada a cimeira da CEDEAO em Bissau.
"Ao invés de noticiar de forma positiva a primeira cimeira dos chefes de Estado da África Ocidental a decorrer na Guiné-Bissau, feito que acontece pela primeira vez no País, após cinquenta anos de independência, entende esta gentalha desqualificada visar o Presidente Embaló como forma de amenizar o impacto de mais uma grande vitória para a diplomacia guineense" diz o comunicado governamental em que apela ao "cumprimento das leis editoriais democráticas, livres e justas. Desta forma exige a reposição da verdade, sob pena de tomar medidas rectificadoras".
Dias depois deste comunicado, foram suspensas as emissões destes órgãos de comunicação portugueses que numa curta mensagem no seu site referem que se trata de "ordens superiores". Até ao momento, não houve qualquer comunicação oficial sobre esta decisão.
Reagindo a esta situação, Diamantino Domingos Lopes, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas da Guiné-Bissau, denuncia um ataque contra a liberdade de imprensa no seu país. "é mais um capítulo da violação da liberdade de imprensa. O que vimos no comunicado não tem sustentabilidade para essa tomada de decisão acusando a RTP e a RDP África de promover uma campanha de difamação contra o Presidente da República através dos comentadores que são levados à antena dessas emissões", considera o sindicalista.
Ao recordar que a nova equipa governativa está prestes a tomar posse no final do mês, este responsável considera que "não faz sentido tomar esta decisão" porque, a seu ver, vai "criar um fardo desnecessário ao futuro governo que vai ter de lidar com vários problemas".
"A 'ordem superior', no fundo, é algo que não existe, é uma designação subjectiva pela qual não se vai saber quem tomou a decisão. Deixa todo o mundo confuso", considera ainda Diamantino Domingos Lopes para quem teria sido "mais elegante convocar o embaixador de Portugal para pedir esclarecimento sobre esta situação, se o governo entendesse que a actuação da RTP e RDP põe em causa o interesse nacional. Com certeza, Portugal saberia como esclarecer essa situação".
Recorde-se que não é a primeira vez que ocorre esta situação. Em 2020, as antenas das duas emissoras chegaram a ser provisoriamente suspensas por "ordens superiores". Anos antes, em 2017, as actividades da RTP, da RDP e da Agência Lusa na Guiné-Bissau foram suspensas de modo mais prolongado, o executivo da época tendo invocado a caducidade do acordo de cooperação no sector da comunicação social entre Lisboa e Bissau.
Texto por: Liliana Henriques
Conosaba/rfi.fr/pt
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