quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Violência atinge 67% das mulheres da Guiné-Bissau

Bissau - Um estudo revela que 67% de mulheres da Guiné-Bissau já foram atingidas por algum tipo de violência por parte de homens e que a maioria das situações nem sequer foi denunciada à justiça.
O estudo, que vai ser nesta quinta-feira, 25, divulgado em Bissau para assinalar o “Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher”, foi inquirido 1.022 mulheres nas comunidades das regiões de Gabu e Bafatá, no leste, e Quinara e Tombali, no sul da Guiné-Bissau.

Com o co-financiamento da União Europeia e execução de três organizações que actuam na Guiné-Bissau, entre as quais a Fundação Fé e Cooperação (FEC), o estudo, no âmbito do projeto Emancipação e Direitos das Meninas e Mulheres na Guiné-Bissau "veio corroborar a ideia de aceitação da violência por parte da mulher guineense, pela forma como é educada desde criança", afirmou Carla Pinto, representante da FEC no país.

Entre os indicadores de violência contra a mulher guineense, o estudo concluiu que o casamento e a gravidez precoces "fazem parte da realidade" das meninas e mulheres do país e que quase metade das inquiridas afirmaram ter casado com menos de 18 anos.

A grande maioria denunciou nos inquéritos ter sido obrigada a casar por decisão dos familiares, lê-se no estudo, que contou ainda com a colaboração de várias organizações e entidades estatais guineenses.

O estudo apurou também que 44% das mulheres que têm ou já tiveram um parceiro sofreram violência psicológica, 38% violência física, 22% violência sexual e 25% foram vítimas de violência económica.

Uma em cada três das mulheres inquiridas disse ter sido alvo de mais do que um tipo de violência, concluiu o estudo que ainda refere que metade das agressões físicas ocorreu nos últimos 12 meses, havendo mesmo situações "muito graves".

A violência contra a mulher também acontece em situações em que não existe um parceiro, mas é mais frequente, segundo o estudo, no seio familiar, com 80% de casos a apontar o pai como o agressor da vítima.

O estudo observou que 19% de mulheres inquiridas acreditam que a prática de Mutilação Genital Feminina (MGF) ainda "é algo de benéfico", por representar o respeito para a vítima, possibilidade de obtenção de dinheiro ou de outros bens materiais.

Também detectou que 60% das mulheres que participaram nos inquéritos foram submetidas à MGF, prática considerada crime público na Guiné-Bissau, desde 2011, mas que ainda é realizada, às escondidas, em várias comunidades do país.

Das 687 mulheres inquiridas e que afirmaram terem sido vítimas de algum tipo de violência por parte do parceiro ou não parceiro, apenas 21 informou a polícia e apenas num caso o agressor foi detido, revela o estudo.

O inquérito ainda apurou que 50% das inquiridas consideram a violência doméstica como aceitável.

Para a representante da FEC na Guiné-Bissau, Carla Pinto, os dados "demonstram a urgência e necessidade" de um envolvimento e responsabilização de todos, neste caso de homens, mulheres e líderes comunitários na educação das crianças, reforço da sensibilização e um trabalho em rede das entidades envolvidas no combate às práticas degradantes à saúde das meninas e mulheres.

O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua está entre os co-financiadores do projecto que conduziu o estudo.

Conosaba/Lusa

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