sexta-feira, 18 de abril de 2025

Presidente da LGDH, Bubacar Turé: “SOU A PESSOA MAIS PROCURADA! O OBJETIVO É PRENDER E TORTURAREM-ME NO MINISTÉRIO DO INTERIOR”

O Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH), Bubacar Turé, afirmou que a situação de ameaças e tentativas de sequestro que tem enfrentado permanece inalterada. Neste contexto, declarou: “Sou a pessoa mais procurada neste momento”, assegurando que o objetivo do regime é claro, “prender e levar-me ao Ministério do Interior para ser submetido às sessões de tortura”.

Bubacar Turé, ativista de direitos humanos e especialista em gênero, fez estas afirmações na entrevista [15 de abril de 2025] por escrito ao semanário O Democrata, por meio das plataformas sociais, para falar da sua situação de segurança e das ameaças que tem vindo a sofrer e das ameaças contra a sua família, como também debruçar sobre as denúncias feitas e particularmente falar dos dados avançados em como todas as pessoas submetidas ao tratamento de hemodiálises morreram.  

O ativista social afirmou na entrevista que as suas declarações não têm rigorosamente nada de crime, serviram apenas de pretexto para ajustarem contas com ele.

“Há tempo que soube que existem planos concretos contra mim. O discurso foi e continuar a ser: este rapaz é um malcriado, está ao serviço dos partidos da oposição, tem ultrapassado a linha vermelha, tem de ser travado. Tenho recebido estas ameaças através de vários canais”, revelou, acrescentando que não quer falar mais sobre o assunto de tratamento de hemodiálises, “porque acredito que piamente que serei processado e chamado a responder na justiça. Nesta sede, irei depor e dizer as minhas verdades…”

“Eu não sou covarde, não sou fugitivo da justiça, sou um homem responsável e disposto a colaborar com a justiça. Se na verdade querem a justiça e punir-me nos termos da lei, conhecem os procedimentos. O meu veemente apelo é o seguinte: Parem de procurar-me como um criminoso perigoso à monte, processem-me no Ministério Público ou na Polícia Judiciária, irei responder imediatamente. Notifiquem os meus advogados e entreguem o mandado de detenção à PJ”, disse, assegurando que “a minha fuga não é à justiça, é uma fuga legitima à tortura e espancamentos”.

Turé revelou no passado dia 10 do mês em curso, durante a abertura do seminário de restituição de jornalistas, que a liga detém informações segundo as quais praticamente todas as pessoas que foram submetidas ao tratamento de hemodiálise na Guiné-Bissau morreram, reafirmando que, enquanto uma organização defensora dos direitos humanos, a Liga vai continuar a denunciar e acompanhar esses problemas.

Para além de fazer duras críticas à situação do sistema de saúde nacional, questionou na sua comunicação, se essas mortes terão a ver com um nexo de causalidade de falta de preparação dos técnicos dos serviços de hemodiálise ou não, uma inquietação que o moveu a desfiar os jornalistas a investigarem estas e mais outras situações  à volta do sistema nacional e dos direitos humanos. 

O Democrata (OD): Qual é a sua situação neste momento em termos de segurança? Sente-se seguro, onde quer que esteja, ou mesmo assim tem recebido ameaças de detenção ou rapto?

Bubacar Turé (BT): A minha situação mantem-se na mesma, sou a pessoa mais procurada neste momento. O aparato de viaturas das forças de segurança com dezenas de homens armados, outros a paisana no porto de Bissau no dia 13 de abril, as buscas efetuadas pela Guarda Nacional no Hotel Ponta Anchaca em Rubane – Bubaque, as buscas nas viaturas que saem de Buba sul do país, provam claramente o que já disse.

O Objetivo é claro, prender e conduzirem-me ao ministério do Interior para ser submetido às sessões de torturas.

OD: Como tem acompanhado a situação da sua família? Acredita que ela também está insegura ou ameaçada?

BT: A minha família está muito apreensiva naturalmente, desde Bissau até em Lisboa. Eu tenho mantido sereno com tudo aquilo que passa comigo neste momento, mas confesso que não consegui conter lágrimas quando me informaram que a minha filha de 10 anos teve acesso ao telefone da sua tia que tinha o Facebook aberto, ela muito inteligente, leu umas noticias sobre a minha situação, entrou em pânico e começou a fazer pressão para saber onde está o seu pai, o que é que se passa com ele. Foi emocionante para mim este relato.

OD: Quando os seis elementos das forças de segurança, vestidos à paisana, foram perguntar por si na sua casa, você estava em casa ou tinha saído antes?

BT: Não estava. Eu sai de Bissau com colegas na sexta-feira dia  11 de abril, para uma missão no interior do país. No dia 12, quando estava a tomar o pequeno almoço, a minha esposa telefonou-me, respondi e disse-lhe para aguardar-me uns minutos, ela respondeu dizendo-me que era urgente, porque estava em casa homens que se identificaram como policias do ministério do interior, inclusive exibiram crachás de identificação. Ela passou-me telefone, tive uma conversa curta com um deles.

Pediram-me de seguida autorização para ter acesso ao meu numero de telefone, disse-lhes para aguardarem um pouco eu ia telefonar de volta.  Consultei os meus colegas, tomei uma decisão e telefonei a minha esposa para puder falar de novo com eles, nesta altura já tinham partido.

Ouvi que o ministro do interior desmentiu, mas quero assegurar-te que tudo foi devidamente documentado, não quero expor a minha vida privada, mas provas sobre a invasão da minha casa são abundantes, porque devido a natureza da minha atividade profissional decidi criar mecanismos mínimos de segurança na minha casa.

OD: Sr. Presidente, o que lhe causa medo neste momento é a falta de provas para fazer valer as denúncias ou tem medo de ser raptado e espancado pelo regime?

BT: Eu não sou cobarde, não sou fugitivo da justiça, sou um homem responsável e disposto a colaborar com a justiça. Se na verdade querem justiça e punirem-me nos termos da lei, conhecem os procedimentos. O meu veemente apelo é o seguinte: Parem de procurar-me como um criminoso perigoso à monte, processem-me no Ministério público ou na Policia Judiciária, irei responder imediatamente. Notifiquem os meus advogados e entreguem o mandado de detenção à PJ.

Portanto, a minha fuga não é à justiça, é uma fuga legitima à tortura e espancamentos.

As minhas declarações não têm rigorosamente nada de crime, serviram apenas de pretexto para ajustarem contas comigo. Há tempo que soube que existem planos concretos contra mim. O discurso foi e continuar a ser “ este rapaz é um malcriado, está ao serviço dos partidos da oposição, tem ultrapassado a linha vermelha, tem de ser travado”. Tenho recebido estas ameaças através de vários canais.

OD: O senhor fez uma denúncia sobre as mortes de todos os pacientes submetidos ao tratamento de hemodiálise. Pode especificar os dados, de acordo com a informação que dispõe? Refere-se a quantas pessoas, exatamente?

BT: Não quero falar mais deste assunto, acreditando piamente que serei processado e chamado a responder na justiça. Nesta sede, irei depor e dizer as minhas verdades.

OD: Pode partilhar connosco o número de pessoas internadas e submetidas ao tratamento desde a abertura do centro até à semana passada, ou seja, no dia 9 de abril?

BT: Eu não trabalho no centro, fui muito claro nas minhas intervenções, disse que as informações que nós tivemos apontam o resultado que disse, portanto, cabe ao centro fornecer os dados que está a solicitar.

OD: O Presidente Sissoco afirma, na sua declaração, que será responsabilizado pelas suas ações e que a sua denúncia coloca em causa os profissionais do serviço de hemodiálise. Está pronto a enfrentar a justiça e a apresentar as provas da denúncia feita?

BT: Eu também quero assumir as minhas responsabilidades, mas quero fazê-lo perante os órgãos competentes. Eu sei que a justiça guineense está sequestrada, mesmo assim, acredito que nunca irão mandar torturar-me. Ao contrário,  o ministério do interior que mandou homens na minha casa e me tem perseguido, tem sido um corredor de tortura.

Só em 2024, mais de 100 pessoas foram torturadas neste sítio, começando nos 93 membros da Frente Popular. Portanto, estou prontíssimo para responder a qualquer instância da justiça.

OD: Recebeu ou chegou ao seu conhecimento, através da sua família ou advogados, uma notificação do Ministério Público ou do Ministério do Interior?

BT: Nunca houve notificação nem a min muito menos aos meus advogados. Se existir estou e estarei totalmente disponível para colaborar.  Aliás. Pelo que eu saiba, o ministério público não notifica nos finais de semana. De qualquer maneira, estou disponível para colaborar.

OD: Sr. Presidente, é conhecido como ativista social e trabalhou mais de dez anos nas Nações Unidas. Segundo o Presidente Umaro Sissoco Embaló, o senhor foi membro fundador do Movimento para a Alternância Democrática – Grupo 15. Confirma essa informação?

BT: Sou um convicto ativista dos direitos humanos há mais de 25 anos, não quero perder muito tempo em responder a esta questão. A única coisa que posso te assegurar é que não tenho filiação partidária, desafio a todos os partidos políticos da Guiné-Bissau que encontrarem alguma inscrição minha nas suas listas, que as publiquem imediatamente.

Portanto, há  5 meses, eu era membro do Comité Central do PAIGC, hoje sou membro fundador do MADEM-G15. Cabe a cada guineense a tarefa de tirar as suas próprias ilações.

Quero no entanto assegurar-te que a política partidária não faz parte dos meus planos por enquanto, se o dia em que decidir fazê-la, pode ter a certeza de que não irei pedir licença a ninguém.

Por: Assana Sambú/Tiago Seide

Conosaba/odemocratagb

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