terça-feira, 22 de abril de 2025

Após mares de promessas: COMERCIANTES DE BAFATÁ “CONTAM MOEDAS” PARA REABILITAR BOUTIQUES CONSUMIDAS PELO FOGO


Os cinco comerciantes vítimas de incêndios que consumiram totalmente seis cacifos, no mercado principal da cidade de Bafatá (Feira di Kirintin) encontram-se em grandes dificuldades financeiras, e alguns até consideram que garantir uma refeição diária se tornou um enorme desafio.

As vítimas do incêndio contam ‘moedas de esmola’ recebidas dos seus colegas de diferentes comunidades que operam naquele mercado, para reabilitar os seus cacifos, e esperam pela sorte de conseguirem os apoios do governo central prometidos, para retomarem as suas atividades

Os comerciantes da famosa “Feira di Kirintin”, como é conhecida pelos habitantes de Bafatá, foram surpreendidos na manhã de 12 de fevereiro de 2025, por um incêndio que consumiu, no total, três cacifos, causando grandes danos em outros três, resultando em enormes prejuízos estimados em milhares de francos CFA. Na altura, o Serviço de Proteção Civil e dos Bombeiros da região revelou que um circuito elétrico foi a principal causa do incêndio no mercado, que se situa à beira da estrada que liga as cidades de Bafatá e Gabú.

RESPONSÁVEL DO MERCADO: “QUEM NÃO TEM CAPACIDADE PARA RETIRAR LIXO, PODERÁ APOIAR OS COMERCIANTES”

O Democrata apurou junto da associação de retalhistas do mercado principal de Bafatá que os comerciantes vítimas do incêndio perderam centenas de milhares de francos CFA. Este facto foi confirmado por um dos comerciantes abordados, proprietário de duas boutiques consumidas pelo fogo, que confessou à nossa reportagem ter tido um prejuízo de mais de 50 milhões de francos CFA em produtos e dinheiro líquido. Segundo a sua explicação, uma grande parte deste dinheiro líquido foi entregue por seus colegas comerciantes ambulantes.

Os seis cacifos, ainda com vestígios do incêndio, estão neste momento em obras de reabilitação. De acordo com a informação recebida por parte dos retalhistas, grande parte das obras em curso é resultado dos esforços dos próprios comerciantes, proprietários dos cacifos, e também dos apoios dados pelos comerciantes conacri-guineenses, mauritanianos e nacionais.

O proprietário de dois cacifos consumidos pelo fogo, Mama Saliu Djaló, de nacionalidade senegalesa, explicou que receberam apoio da comunidade mauritana, estimado em 304 mil francos CFA, e da comunidade conacri-guineense, no valor de 750 mil francos CFA. Além disso, a associação de retalhistas da região de Bafatá ofereceu 10 sacos de cimento e 25 mil francos CFA.

Djaló lembrou que, após o incêndio, receberam a visita do Ministro do Interior e da Ordem Pública, Botche Candé, que lhes ofereceu 100 sacos de arroz e manifestou a sua solidariedade, prometendo ajuda do governo às vítimas.

Djaló afirmou que o governo local fez um levantamento dos prejuízos sofridos e prometeu igualmente apoiar os comerciantes. No entanto, assegurou que até agora, não receberam nenhuma ajuda das autoridades regionais ou do governo central da Guiné-Bissau para a reabilitação dos seus cacifos, nem se fala em ajuda para reerguer os seus negócios.

Intorrogado se foram contactados pela administração regional (Comité de Estado) acerca de um eventual apoio para retomar as suas actividades, respondeu que até ao momento não foram contactados por nenhum membro da administração local nem pelo governo central.

“Não sei se o Comité de Estado quer ou pode ajudar-nos a reerguer as nossas atividades. Imagina quem nem sequer tem capacidade para remover o lixo (vestígios do incêndio) e será que terá a capacidade ou a vontade de ajudar a retomar os seus negócios…”, questionou o comerciante, lamentando a triste realidade que enfrentam.

Outra vítima do incêndio entrevistada pela equipa de reportagem, Mama Samba Djaló, afirmou que, na verdade, não tem dados exatos sobre os prejuízos sofridos, mas explicou que vende materiais eletrônicos e também carrega telemóveis, revelando que, no momento do incêndio, tinha telemóveis de pessoas a carregar.

“Eu vendo televisores plasma de diferentes tamanhos e geradores de várias qualidades. Os geradores variam entre 150 mil e 250 mil francos CFA. No momento do incêndio, tinha no cacifo mais de dez televisores plasma, todos ficaram queimados, incluindo os telemóveis que eu vendia e aqueles que recebi para carregar”, informou, acrescentando que, graças à ajuda dos seus colegas e de populares, conseguiram retirar todos os geradores que estavam no cacifo.

Questionado se após dois meses do incêndio, se sente esperançado em obter ajuda para retomar as suas atividades e, consequentemente, pagar os telemóveis que queimaram no seu cacifo, respondeu, com lágrimas nos olhos e numa voz trémula: “Espero e sonho todos os dias que, com a ajuda do governo, possamos retomar as nossas atividades. A maioria dos materiais queimados no cacifo são empréstimos que recebemos dos comerciantes maiores para vender e tirar a nossa parte, levando o dinheiro ao dono do material.”

O responsável pelo mercado principal de Bafatá, Dabá Djau, apreensivo com a situação de desespero em que se encontram os seus colegas comerciantes, expressou a sua dúvida sobre a vontade do governo regional e central em ajudar os comerciantes vítimas do incêndio.

Interrogou igualmente como uma entidade que não tem capacidade para remover os resíduos resultantes do incêndio poderá ter a capacidade ou a vontade de ajudar financeiramente as vítimas a reerguer os seus negócios.

Acrescentou que os lixos são amontoados em diferentes cantos do mercado todos os dias, mas a administração setorial mostra-se impotente e sem vontade de retirar os lixos do mercado. Contudo criticou, que estes todos os dias cobram aos vendedores a pagarem a ocupação do mercado.

“Tenho a certeza que, se retomarem as suas atividades hoje, amanhã surgirão pessoas a exigir que este rapaz lhes devolva os telemóveis que queimaram aqui”, disse, implorando de seguida a ajuda do governo para que os seus colegas comerciantes possam retomar os seus negócios.

ADMINISTRADOR DE BAFATÁ: “GOVERNO REGIONAL E CENTRAL APOIARAM A REABILITAÇÃO DE CACIFOS”

Contactado por telefone para falar dos eventuais apoios dados pela administração local ou pelo governo regional na reabilitação de cacifos, o administrador do setor de Bafatá, Bubacar Candé, explicou que a administração setorial e o governo regional trabalharam juntos na procura de meios para apoiar os proprietários de cacifos vítimas de incêndio.

Lembrou que a associação de retalhistas do mercado levou a cabo uma iniciativa de angariação de fundos junto das instituições públicas e privadas, com o objetivo de apoiar a reabilitação de cacifos.

Questionado se a administração local ou o governo regional concedeu algum apoio concreto aos proprietários de cacifos, afirmou que a associação de retalhistas do mercado organizou uma iniciativa de angariação de fundos, na qual obteve apoios significativos de diferentes instituições públicas e privadas da região.

“A nível da administração local, não se fez nenhum gesto até hoje em termos de apoios. Queremos esclarecer que o governo central deu algum apoio em nome de todas as estruturas regionais e do setor da região de Bafatá”, informou.

Sobre a origem do fogo que consumiu totalmente os cacifos, explicou na entrevista que, de acordo com o relatório do Serviço da Proteção Civil dos Bombeiros da região, o incêndio deve-se a um curto-circuito.

“Fazem a dupla instalação da corrente elétrica, uma com painel solar e outra com a corrente da central elétrica local, portanto, foi isso que causou o incêndio”, disse, sem, no entanto, avançar com mais pormenores sobre o assunto.

Em relação à remoção de lixo derivado do incêndio, amontoado à frente dos cacifos, esclareceu que não existem resíduos amontoados na berma da estrada, tendo informado que são madeiras, cibes e outros materiais que estão a ser utilizados nos trabalhos em curso de reabilitação de cacifos.

Por: Assana Sambú
Conosaba/odemocratagb

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