terça-feira, 29 de abril de 2025

Portugal e Espanha exigem auditoria independente à União Europeia depois do apagão


Na sequência do apagão que deixou Portugal e Espanha às escuras durante horas, o primeiro-ministro português Luís Montenegro garantiu que o sistema elétrico português tem capacidade autónoma e que o problema não teve origem no país. O professor da Faculdade de Ciencias e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa, Nuno Amaro, explicou que a importação de energia de Espanha foi motivado por uma decisão mercantil e não por falta de capacidade.

Após o apagão que afectou várias regiões de Portugal, o primeiro-ministro Luís Montenegro reagiu destacando a eficácia da resposta das autoridades e da população. No entanto, o chefe do governo também reconheceu que há sempre margem para melhorias nos procedimentos em situações de emergência. Além disso, Luís Montenegro anunciou que o governo solicitou uma investigação independente junto da União Europeia para apurar as causas do apagão.

“Precisamos de respostas tão rápidas quanto urgentes. Em primeiro lugar, solicitar à Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia da União Europeia a realização de uma auditoria independente aos sistemas eléctricos dos países afetados para o apuramento cabal das causas que estiveram na origem desta situação. Naquilo que depende de nós, não vamos poupar esforços no esclarecimento dos portugueses perante um problema sério que não teve origem em Portugal. Nós conseguimos fazer o reinício de produção de energia e temos neste momento o sistema a funcionar de forma autónoma. É importante que as portuguesas e os portugueses saibam que temos capacidade para reiniciar o sistema de produção de energia e depois o seu transporte e distribuição a todos os clientes. É, portanto, também importante saber que o problema que foi causado não tem a ver com a falta de capacidade de produção e distribuição em Portugal.”

O professor da Faculdade de Ciencias e Tecnologias da Universidade da Nova, na aérea das redes eléctricas, Nuno Amaro, esclareceu a situação que levou Portugal a importar energia de Espanha, confirmando o facto de Portugal não necessitar energia estrangeira. Segundo o especialista, a decisão não está relacionada com uma escassez de capacidade interna, mas sim com os preços do mercado integrado entre os dois países.

"O facto de nós estarmos a importar energia de Espanha não tem propriamente a ver com a necessidade energética. Ou seja, nós não precisaríamos de estar a importar a energia de Espanha para alimentar as nossas cargas. Não, tem a ver com isso. Tem a ver com o mercado. Nós estamos no mercado integrado, Portugal e Espanha. No momento em que em que aconteceu o evento, era mais barato estar a importar a energia de Espanha do que estar a produzir por causa dos preços de mercado. Mas não tem a ver com a necessidade, tem a ver só com com o resultado do mercado. Portugal e Espanha são um mercado único. Portanto, é numa típica lógica de mercado, ou seja, quem quer vender energia aos productores competem entre si os portugueses e espanhóis e os consumidores também, não é? Portanto, podemos estar a importar ou a exportar a energia de Espanha consoante o resultado do mercado e não propriamente por necessidade de haver importação. Portanto, do ponto de vista da capacidade instalada para produzir e para a carga que nós temos em Portugal, nós temos mais do que o suficiente para para todas as necessidades energéticas."

O Professor Nuno Amaro explica também que é normal que a eletricidade não tenha sido restabelecida de forma imediata, sublinhando que o processo de reposição do sistema elétrico obedece a normas rigorosas. Segundo o professor, essa reposição gradual é essencial para evitar o risco de provocar uma nova falha no sistema.

“A maior parte das centrais de produção não têm a capacidade que nós chamamos de impor frequência. Elas têm a capacidade de seguir um sinal de referência que já existe, mas não tem cidade, não têm a capacidade de criar esse sinal. Em Portugal, e tal como foi noticiado ontem, existem duas centrais que têm essa capacidade, uma a norte e uma a centro do país. O que acontece é que essas duas centrais tiveram que arrancar e depois é um processo muito gradual e muito devagar, ou seja, tem que se aumentar um bocadinho a geração e aumentar em seguida um bocadinho a carga ou seja, os consumos, para ficar em equilíbrio, porque não há armazenamento e, portanto, a energia eléctrica tem que ser toda gasta instantaneamente. Temos que seguir este processo em passos pequenos e sucessivos, porque se nós aumentarmos a geração um pouco, mas depois aumentarmos demasiada carga, voltamos ao estado inicial porque temos mais carga do que geração e o sistema volta a desligar.”

Em Espanha, onde cinco pessoas morreram, o governo e a Justiça abriram investigações para apurar as causas do apagão que deixou a Península Ibérica sem electricidade durante várias horas. Embora se tenha considerado a hipótese de sabotagem informática, a operadora REE descartou um ciber ataque. A União Europeia indicou igualmente que pretende abrir uma investigação sobre as razões desta situação.

RFI

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