O Presidente do Senegal, Bassirou Diomaye Faye, reúne-se nesta quinta-feira, 20 de Junho, com o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, durante um almoço no Eliseu. Os acordos comerciais que ligam os dois Estados, o franco CFA ou mesmo a presença militar francesa no país vão marcar a ordem dos trabalhos dos dois homens políticos. O analista político senegalês, Oumar Dialló, considera que esta visita "vai dissipar” as tensões entre Dakar e Paris.
RFI: O que é que representa este encontro para as futuras relações entre o Senegal e a França?
Oumar Dialló, professor na Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar e analista político: Acho que esta visita evidencia as relações entre a França e o Senegal que são profundas e multifacetadas. Histórica e culturalmente os dois países estão ligados, sem esquecer as relações políticas e económicas. Há ainda a cooperação na área da defesa, da segurança militar e da diáspora. Portanto, penso que este encontro vai ser um momento para esclarecer muitos pontos ligados a esses grandes eixos.
A imprensa escreve que as dívidas acumuladas por vários actores senegaleses com as empresas francesas poderão ser abordadas durante este encontro. O que é que se pode esperar relativamente ao perdão da dívida senegalesa com a França?
O perdão da dívida não será uma questão muito importante, isto porque o actual Governo senegalês está muito apegado à questão de soberania e, portanto, essa soberania também o vai engajar a ser mais responsável com o pagamento dessas dívidas. Talvez, o [Presidente do Senegal] vá tentar renegociar as relações comerciais, o investimento e ajuda ao desenvolvimento.
Não podemos esquecer que a França fornece uma assistência significativa ao desenvolvimento do Senegal, através da Agência Francesa de Desenvolvimento. Esta ajuda faz-se sentir ao nível dos projectos na área da saúde, educação, água e saneamento. Portanto, serão debatidas questões mais práticas e a questão da dívida não será muito importante. Penso que neste encontro [os dois estadistas] vão falar sobre o caminho a seguir nas futuras relações comerciais entre o Senegal e a França.
Outra questão tem a ver com a possibilidade da saída do franco CFA. Bassirou Diomaye Faye tinha previsto medidas para a adopção de uma moeda nacional…
Essa questão vai ser interessante porque há muitos países que estão contra esta moeda. Todavia, o Governo senegalês não está contra o franco CFA e, talvez, vá tentar renegociar os mecanismos do franco CFA, nomeadamente aquela história da paridade fixa. A meu ver, o único problema com o franco CFA são as reservas da moeda. Ou seja, os países membros devem depositar uma parte significativa das reservas cambiais em contas operacionais do tesouro francês e, na minha opinião, é este ponto que deve ser renegociado. Não acredito que a saída do franco CFA seja um objectivo do Governo senegalês. É preciso não esquecer que a paridade fixa, proporcionada pelo franco CFA, é uma vantagem enorme para todos os países da África do Oeste.
Há ainda a presença das tropas francesas no Senegal. As novas autoridades já deram a entender que estão contra a presença destas tropas. Isto numa altura em que vários países, nomeadamente o Mali, Burkina Faso e o Níger, pediram a retirada das tropas francesas dos seus territórios. Acha que será essa a posição do Senegal?
Não se esqueça que as tropas francesas estão no Senegal num contexto de cooperação militar e há textos que validam esta cooperação. Portanto, a França mantém uma presença militar no Senegal, mas esta presença é justificada por questões de segurança. Para ser honesto, em termos de segurança, nós somos países muito frágeis. Portanto, não é por causa de uma mudança política que todas estas operações militares, sobretudo com a França, que são muito importantes para a nossa zona muito afectada pelo terrorismo, vão ser postas em causa.
Os jovens africanos estão muito revoltados contra a presença militar francesa nos seus países, mas é preciso não esquecer a “política real” e a questão da segurança. No combate ao terrorismo no Sahel, e Senegal faz parte dessa zona, a presença militar francesa é uma presença necessária. Todavia, penso que essa presença pode ser negociada, de forma a não impactar muito a soberania senegalesa em termos militares. Ainda assim, penso que o apoio à colaboração militar entre Estados - França e o Senegal - é uma necessidade para combater o terrorismo que afecta, actualmente, toda esta região.
O primeiro-ministro senegalês, Ousman Sonko, condenou, recentemente, o silêncio da União Europeia e da França durante a repressão política no Senegal. Considera que esta visita de Bassirou Diomaye Faye pode dissipar as tensões entre Dakar e Paris?
O Presidente Bassirou Diomaye Faye é um jovem muito inteligente e acredito que há um momento da política “politiqueira” e há um momento da realidade.
Neste momento, o Presidente do Senegal e o primeiro-ministro, Ousman Sonko, estão a gerir um país que atravessa dificuldades económicas, com a inflação a registar níveis elevados, e são estas questões que serão analisadas.
Acredito que este encontro vai dissipar as incompreensões que houve durante as eleições. Agora é preciso passar da vida política da oposição para uma política responsável com a França. Uma postura que será benéfica para os senegaleses, para a estabilidade económica, mas sobretudo para a estabilidade das empresas francesas, que continuam a empregar muitos jovens senegaleses.
Por: Neidy Ribeiro
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