Os efeitos climáticos estão a impactar negativamente o Parque Natural das Lagoas de Cufada, localidade que se encontra no sul do país, concretamente na Região de Quinara, entre os dois grandes rios da região, o Rio Grande de Buba e o Rio Corubal.
O Parque Natural das Lagoas de Cufada é considerado o Sítio Ramsar – Zona Húmida de Importância Mundial, sendo o parque constituído pelas lagoas de Biorna, Bedasse e a própria Cufada. Estas lagoas albergam a maior lagoa de água doce do país e da sub-região africana, o que constitui um meio muito favorável à sobrevivência naquela área, tanto da fauna como da flora, servindo de fonte de abastecimento de lençóis freáticos da zona, assim como da nutrição para a diversidade biológica existente.
Devido às suas características, periodicamente recebe milhares de aves aquáticas, tanto nativas como migradoras, algumas com estatutos de aves protegidos de importância internacional.
Com a redução bastante nos últimos anos nas lagoas do Parque, devido à invasão das ervas marinhas, de acordo com o depoimento do eco-guia turístico do parque, Braima Djaló, durante uma visita de campo a Lagoa de Cufada, organizado pela ONG Palmeirinha, com uma equipa de jornalistas guineenses que estão a ser treinados, sobre as questões climáticas pelo projeto “Terra África”, a quantidade das espécies das aves que visitam o Parque Natural de Lagoas de Cufada reduziu-se agora em comparação aos anos anteriores.
“Cerca de dois por cento da população mundial de pelicano branco, ou seja, mais de vinte mil indivíduo que se visitava o espaço anualmente entre abril e agosto nas décadas de 90, era uma quantidade enorme de só uma espécie, mas havia também diferentes outros tipos de espécies, quer dizer, na totalidade podia ver mais de cento e tal mil indivíduos de aves neste território, porque havia espaço enorme da lagoa, onde eles podiam pescar para alimentação, mas agora a degradação provocada pelos efeitos climáticos está a reduzir o espaço, estas ervas não havia aqui, agora veja só até árvores de grande porte na lagoa”.
As invasões das ervas marinhas nas lagoas de Cufada estão também a provocar a redução da quantidade e qualidade do pescado, segundo a explicação de Mohamed Barri que nos últimos sete anos se dedicou à pesca para o sustento da família.
“A lagoa está a ficar reduzida cada vez mais, a qualidade e quantidade do pescado reduziu bastante agora, veja só as ervas como tomaram conta da lagoa”, indica.
Apesar desta redução nas lagoas do Parque provocada pela erosão e o assoreamento, o responsável pela guia turística do Parque Natural das Lagoas de Cufada, acredita que o espaço não vai perder o estatuto do Sítio Ramsar – Zona Húmida de Importância Mundial.
“Totalmente não, os pelicanos continuam a visitar as lagoas, quer dizer as espécies de aves que lhe dão o estatuto [de sítio Ramsar], mas não desapareceram, apenas reduziram a quantidade de espécies que visitavam as lagoas, por que o espaço está a ser ocupado pelas ervas marinhas e este por sua vez reduziu a caudal da lagoa”.
As lagoas que constituem o Parque Natural das Lagoas de Cufada tem uma área superficial de 143 km2. A superfície total do Parque é estimada em 89 000 hectares. A população residente é de 3 534 habitantes, distribuídos em 33 tabancas, sendo que a maioria está concentrada na zona norte do Parque, ao longo do Rio Corubal, seguida das tabancas localizadas na estrada que liga Buba-Fulacunda.
As principais atividades para sobrevivência da população residente nesta zona são agricultura e pesca.
Para o eco-guia turístico do parque, atualmente o número da população residente do parque triplicou em comparação aos anos 2000, e, neste momento há um projeto que está a trabalhar em 07 tabancas mais próximo do Parque, para diminuir a pressão florestal nesta zona.
“Até 2000, pelo menos o número da população que vivia aqui aumentou, ou seja, triplicou agora nas zonas de parque, esta é uma realidade. Em curso está um projecto a trabalhar em 7 comunidades mais próximo das lagoas para aumentar as suas resiliências e alternativa em como possam trabalhar sem mexer tanto nas florestas. Já estão em curso alguns trabalhos como por exemplo: a construção de furos de água, vedação da hortaliça para as mulheres criarem os seus negócios e também recuperação de algumas bolanhas para reduzir a pressão no Parque”.
Segundo dados científicos, a sub-região africana detém 3% da população mundial de pelicano branco e desta 2% vive nas lagoas de Cufada.
O Parque Natural de Lagoas de Cufada foi criado em dezembro de 2000 por um decreto presidencial número 13/2000 e é tutelado pelo Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP), com o objetivo de manter a conservação e manutenção de ecossistemas e espécies de animais e vegetais ameaçadas.
Não obstante, o Parque estar sempre em constantes ameaças, a mais polêmica, é a construção de uma Central Térmica com a capacidade de 30 “quilowatts”, e com uma rede de 130 quilómetros capaz de cobrir todos os sectores que compõem as regiões de Quinara e Tombali, mas, a construção foi muito contestada pelos ambientalistas que alegam ação negativo dos ruídos dos grupos da central eléctrica instalada a alguns quilómetros do Parque Natural das Lagoas de Cufada, possam perturbar os animais e a maioria acabará por fugir do Parque.
Por: Braima Sigá/radiosolmansi com Conosaba do Porto
Reportagem no âmbito do projeto “Terra Africa”, da Agência francesa de Desenvolvimento dos Media – CFI
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