domingo, 27 de março de 2022

Opinião: ATIVISTAS POLÍTICOS E/ OU ANALISTAS POLÍTICOS?!

 

O termo parece bastante cómico. Disse que parece cómico. Vamos por partes. O termo ‘ativista político’ evidencia que não está a ser usado ou empregue como deve ser no seu verdadeiro sentido. Segundo o Houaiss: Dicionário eletrónico da língua portuguesa,

Ativismo:

qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da realidade em detrimento da atividade exclusivamente especulativa, frequentemente subordinando a sua concepção de verdade e de valor ao sucesso ou pelo menos à possibilidade de êxito na ação.

Ativista:

partidário do ativismo; que ou aquele que trabalha para alguma causa; defensor, militante.

Queria aqui começar com esses conceitos que poderão ajudar os leitores deste artigo a terem consciência e perceberem melhor o engano que é muita gente andar a camuflar-se para tirar os seus dividendos (pessoais, económicos, políticos, sociais e/ou culturais).

Como é do conhecimento de todos, pois temos assistido e acompanhado de perto ou de longe, as tristes propagandas dos nossos conterrâneos guineenses, tantos os que vivem além-fronteiras como aqueles que, por destino de vida, continuam a viver no país (digo por destino), porque o guineense que ainda não teve a oportunidade de atravessar a fronteira pensa que está com má sorte e aquele que tem essa oportunidade considera-se superimportante e sortudo. Infelizmente, assim vai o nosso pobre pensamento.

Caros conterrâneos, a minha maior preocupação não é com o atual ou posterior poder ou regime político que se encontra instalado ou que se vai instalar, mas sim com a forma como estamos a levar o destino das nossas vidas. Parece que quem está a viver fora do país, tudo o que tem a ver com o subdesenvolvimento e a miséria de que os seus irmãos padecem não lhes afeta. Aliás, como reiteradamente se ouve em conversas de convívios dos filhos da Guiné-Bissau, que por motivos pessoais, de saúde ou outros não se encontram no país, várias vezes se manifestam, como se o país não lhes pertencesse “si terra sabi i pa elis; ami meh n’sta dja li deh”. Dizem isso, infelizmente, como se não tivessem familiares a viverem lá. Trago alguns factos que justificam esse tipo de discursos:

  1. Porque esses indivíduos nunca pensam voltar à Guiné-Bissau, para dar a sua contribuição para o desenvolvimento almejado. Acho que nenhum guineense vive a Guiné-Bissau como vive um cabo-verdiano ou um senegalês as suas pátrias. O que sabemos fazer, é só criticar e mais nada. “Não sou capaz, como ninguém é capaz”, lamentavelmente;
  2. Ou porque esses indivíduos não têm coragem de voltar, dado que o propósito de quem governa é fechar as portas aos seus conterrâneos, ou melhor, não permitir chatices provocadas por aqueles que os interrogam, questionam ou criticam, de alguma forma, a sua governação;
  3. Com a propaganda de politicagem (política de interesses pessoais, de troca de favores ou de realizações insignificantes; o conjunto dos políticos que se dedicam a essa espécie de política – de acordo com o Dicionário Houaiss), em que os ditos ativistas nos colocam (a nós) e à imagem e ao bom nome da Guiné-Bissau;
  4. Porque os partidos políticos ou os seus líderes só entendem que só se pode sobressair se usarem a política de terra queimada, isto é, usando todos os meios de comunicação ao seu dispor para atingirem os seus opositores políticos, incluindo ‘diretos’, substituindo os tribunais;
  5. A Faculdade de Direito de Bissau, por seu turno, sabe produzir, sobretudo, políticos, ao invés de bons técnicos jurídicos com argumentação e justificação científica, pelo que vamos nesse lamaçal em que todos os guineenses se tornaram ‘especialistas’ ou peritos em análise jurídica. Total inversão de valores;
  6. A educação/ensino está como está, ao longo de anos, com greves constantes. Mas os únicos intelectuais que o país pelo menos produziu (e produziu unicamente juristas) não sabem interpretar (ou fingem não saber) as leis (ou fazem-nas por conveniência política), mas são também peritos em educação;
  7. Apetece todo o mundo fazer o curso de direito na Guiné-Bissau, porque é o único curso que sendo feito, já é o denominador comum de todos os ramos da ciência e do conhecimento do mundo; e com orgulho, é o curso mais difícil de tirar como invariavelmente afirmam os que o tiraram; esquecendo que os cursos considerados mais difíceis de tirar, a saber, são: engenharias, medicina, matemática, línguas, etc.;
  8. Na terra onde a política entra em todas as esferas sociais, nas mesquitas, nas igrejas, nas balobas, etc.;
  9. Na terra onde a tecnicidade foi relegada ao último plano. De realçar que, de algum tempo para cá, ser jornalista tem que ser um ‘baridur di padja’ senão não se safa;
  10. Para afirmar-se na política, na classe castrense, na administração pública, etc., tem que concordar plenamente com as vozes e decisões dos seus superiores hierárquicos, sob pena de nunca mirar pela promoção;
  11. Fazer ‘direto’, hoje em dia na Guiné-Bissau, já é uma celebridade, ampus, como se fosse a maior contribuição que está a dar ao país;
  12. Tendo voz discordante é sinónimo de dar tiro no seu próprio pé, porque nenhum; digo nenhum líder partidário tem inteligência emocional;
  13. Parece que a inteligência é medida pela militância no partido A, B ou C. E são exclusivamente inteligentes os guineenses que tiveram a sorte de alfabetizar. Quem nunca foi a escola é tido como um nado-morto. Esquecendo que a inteligência não é medida exclusivamente por esse lado ‘podre’. Se assim fosse, também não são considerados como intelectuais os analfabetos ‘funcionais’. Infelizmente, são muitos;
  14. Estamos a viver num país onde a falsidade, calúnia, intriga, boatos são o nosso maior porta-bandeira. Pois, a democracia nos partidos políticos é uma utopia. Repito, não há nenhum partido político do país onde reina a verdadeira democracia. As disputas políticas são levadas ao extremo e o resto é para o ‘inglês ver’. A camuflagem é o melhor termo para empregar na democracia que se vive ao longo de anos na Guiné-Bissau.

Já estou farto de ouvir os termos “ativistas políticos” ou “analistas políticos”. São ativistas e analistas, como o nome refere? Infelizmente, conheço muito poucos analistas na Guiné-Bissau. Pelo número da população, arrisco-me a apontar uns três ou quatros guineenses que conheço como verdadeiros analistas e ativistas.

Estou profundamente triste e preocupado ao mesmo tempo ao ver e ao acompanhar de perto o rumo das coisas. Afinal quem será o melhor ou o bom governante na Guiné-Bissau, nessa onda de insultos e propagandas ‘políticas’? Chamei propagandas políticas, mas serão políticas no seu sentido literal? Parece que não. É outra coisa. Por exemplo, de acordo com o significado atribuído pelo Houaiss,

Política:

Arte ou ciência de governar; arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados; ciência política; orientação ou método político;       Arte de guiar ou influenciar o modo de governo pela organização de um partido, influência da opinião pública, aliciação de eleitores, etc.; prática ou profissão de conduzir negócios políticos.

Analista:

Que ou o que analisa; que ou quem realiza análises (químicas, clínicas, etc.); diz-se de ou pessoa versada em álgebra.

Com esses conceitos que parecem esclarecedores, basta ver a forma como a política está a ser conduzida pelos nossos governantes, percebe-se, claramente, que nunca eles têm o interesse e a vontade de administrar as nossas vidas e de conduzir o país para o desenvolvimento. Queria aqui levantar outras razões:

  1. Num país onde os governantes orgulham de ter comprado casas por mundo fora, a começar por: Senegal, Portugal, Espanha, França, etc.;
  2. Por naturalizar português, espanhol ou francês ou os seus filhos, esquecendo que por direito não são e nunca serão portugueses, espanhóis ou franceses por simples razão de terem a cidadania desses países;
  3. Por naturalizarem, já o Supremo Tribunal de Justiça ter condições de inviabilizar as suas candidaturas ao cargo de presidente da República (primeiro magistrado da Nação), isto é, deveria haver uma lei que deverá ser discutida e aprovada pela Assembleia Nacional Popular e promulgada pelo Presidente da República, algo que nunca acontecerá. Sabem por quê? Porque quase todos já adquiram a nacionalidade de outros países, inclusive europeus.
  4. Será que teremos os governantes que pensarão nos problemas e na vida do país? Duvido que isso aconteça, porque os próprios têm padrinhos europeus ou os seus próprios ‘irmãos’ africanos que lhes incentivem a explorarem e a pilharem os recursos de que a terra dispõe para os seus proveitos próprios.

Importa salientar que aparenta que não temos nem ativistas e muito menos analistas políticos. O que temos são os analistas partidários (militantes ou simpatizantes) e ativistas das sedes dos partidos ou dos líderes partidários, porque o termo ativista, como tivemos a oportunidade de verificar, está muito por além do que temos dado ou usado para essa gente. Admitimos que temos poucos analistas e ativistas. Mas nunca podemos confundir os termos, porque jamais são sinónimos, são assimétricos e distantes uns dos outros. Ou optamos por um ou outro termo: políticos ou simpatizantes partidários A, B, C, D ou analistas de assuntos diversos, como temos o privilégio de conhecer alguns a desempenharem esse papel cabalmente.

Continuam a lamber os pés dos políticos e a guerrear entre vós, quando poderiam concentrar e disputar para o desenvolvimento das vossas vidas e das dos vossos concidadãos. E evitarem de insultos e de ataques constantes nas redes sociais, nos ‘diretos’. Talvez a única coisa que vos possa fazer bem é ganhar dinheiro, caso isso seja por alguns que enveredaram por esse caminho.

Tendo esses factos narrados e descritos, importa sublinhar que, infelizmente, a maioria dos que consideramos ativistas e analistas políticos tem um fim, ‘defender com unhas e dentes’ os partidos (a pensar nos seus tachos), com ou sem razão para tal acontecer e nunca no desenvolvimento do país. Uma coisa é certa, trabalhar para o partido e não para o bem-estar da comunidade. Por outro lado, percebe-se claramente a questão, esses indivíduos, na sua maioria, trabalham para a sua visibilidade, ou melhor, como acontece hoje em dia, mirar para a promoção; são promovidos ao alto nível do Estado.

Como solução, efetivamente, quem é ativista deve pautar por ações que promovam o próprio crescimento da sua comunidade. Ao invés de trabalharem pela promoção, esses deveriam promover a boa imagem do país além-fronteira, evitando de falar mal do partido A para que o partido B os acolhem como bons filhos da Guiné-Bissau, assim vai lamentavelmente a nossa Guiné. Que cada técnico seja analista na sua área de formação ou de experiência, como o termo nos deixou bem claro. Lamento dizer, mas parece verdade, com essas ondas de ataques insultuosos aos nossos governantes, nenhum regime vai poder desenvolver o país. Sabem por quê? Vão ter medo de programar as ações que visam revolucionar os sistemas de corrupção já calejado há anos para inverterem a pirâmide. Vão preocupar-se em desmentir uma acusação daquele ou aqueloutro. Já com o avançar dos meios de comunicação, redes sociais, o maior perigo está para vir, se não paramos já. O mais caricato é falsificação de documentos oficiosos do Estado para inventar ou lançar boatos, como se aquilo fosse verdade. Até quando é que quem estiver no poder vai perder todo o tempo a desmentir informação (diz-que-diz-que)? É hora de começarmos a pensar seriamente no perigo que estamos a caminhar o país e o coitado povo sofredor. E são esses ditos ativistas e analistas políticos é que dizem terem informações fidedignas e começam a espalhá-las sem fundamentos. Será que o segredo de Estado deixou de existir para dar lugar a diz-que-diz? Ou substituímos todos os seguranças de Estado para fazer com que as coisas caminhem devidamente, senão um dia vamos ver o nosso Estado despido a nível extremo a sua segurança de Estado. Outrossim, apelo aos meus conterrâneos que critiquem, aliás, seria a melhor forma de vermos o país a marchar. Sem críticas e sem intervenções constantes nunca quem estiver à frente vai parar para refletir. Devemos ser críticos aos sistemas implantados ou a implantar por qualquer partido que fosse para o nosso bem-estar. Só que estas críticas ter que pautar no sentido de construir alavancas para alcançarmos a paz e nunca destruir um pouco que estamos a fazer. Para muitos não há evolução na Guiné-Bissau, mas há muita coisa feita de anos para cá. Talvez o meu grande medo é voltarmos ao passado sombrio pela forma que estamos a levar as coisas (insultos e calúnias).

É importante que nos unamos para o desenvolvimento do país, não importa onde cada um de nós está a servir. Digo servir, porque é o único campo onde nos encaixamos, camponês, alfaiate, mecânico, vendedor ambulante, artesão, etc., dever contribuir à sua medida para o desenvolvimento do seu setor de produtividade. Por isso, deve haver a promoção por meritocracia, tanto dentro como fora dos partidos políticos, assim como em todas as esferas sociais, na classe castrense, no setor público e/ou no privado.

Para concluir, a política poderia ser saudável se for desenvolvida por pessoas preparadas, conscientes, honestas, dignas; a política em si é o desenvolvimento, é a preparação. Ou seja, primeiro, pensar no país em detrimento dos partidos políticos. Os melhores mecanismos para acabar com as intrigas, camuflagem, chantagem, propagandas, insultos, calúnias, boatos, corrupções, clientelismo, nepotismo, arrogância, mediocrismo, populismo, etc., é promover a democracia interna nos partidos políticos da Guiné-Bissau e em todas as esferas sociais.

Espero que me ouçam e me compreendam, caros compatriotas!

Lisboa, 21 de março de 2022

radiosolmansi com Conosaba do Porto


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