quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Bruno Candé: Ministério Público português acusa agressor de homicídio por ódio racial


https://www.publico.pt/2021/01/19/sociedade/noticia/bruno-cande-ministerio-publico-acusa-agressor-homicidio-odio-racial-1946939

O Ministério Público (MP) acusou Evaristo Marinho, de 76 anos, do crime de homicídio qualificado de Bruno Candé, por ódio racial.
O actor luso-guineense, Bruno Candé Marques, de 39 anos de didade, foi assassinado a 25 de Julho e em pleno dia, na avenida de Moscavide, em Lisboa.

No despacho de acusação datado de 13 de Janeiro — a que o PÚBLICO teve acesso — o MP de Loures deu como provado que o ex-militar da guerra colonial em Angola agiu com a intenção de matar Bruno Candé a 25 de Julho e dirigiu expressões nas quais se “referiu em concreto à cor da sua pele”.

Evaristo Marinho combateu em Angola entre Outubro de 1966 e Setembro de 1968, lê-se, e o homicídio foi qualificado pelo artigo 131º e 132º do Código Penal, nomeadamente pela alínea que refere o facto de ter sido “determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela identidade de género da vítima”.

Isto porque o MP deu como provadas as expressões proferidas por Evaristo Martinho: “Vai para a tua terra, preto!”, “Tens toda a família na senzala e devias também lá estar”, “Fui à c*** da tua mãe e daquelas pretas todas! Eu violei lá a tua mãe”, “Anda cá que levas com a bengala, preto de merda”.

O MP descreve que o alegado homicida efectuou cinco disparos contra o actor: com o primeiro disparo, Bruno Candé caiu; de seguida, “aproveitando” que o actor já estava no chão, “aproximou-se e efectuou mais quatro disparos”. Os tiros atingiram a região torácica e abdominal do corpo de Bruno Candé e os seus órgãos vitais.

Evaristo Martinho é ainda acusado do crime de detenção de arma proibida. Tinha em sua casa, segundo o MP, 25 munições de calibre 7,65 mm, que adquiriu há mais de 20 anos e de modo não concretamente apurado.

“O arguido actuou com a intenção de tirar a vida de Bruno Candé Marques, uma vez que visou as acima referidas partes específicas do corpo deste, propondo-se a aí atingi-lo e a matá-lo, bem sabendo que usando uma arma de fogo com as características e do modo descritos, actuava de modo adequado a provocar-lhe a morte”, lê-se.

Bruno Candé foi assassinado em pleno dia, na Avenida de Moscavide, em Lisboa. Testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO no local, dois dias depois, davam conta de que o alegado assassino tinha começado três dias antes por implicar com a cadela do actor, até terminar num rol de insultos racistas: “Preto, vai para a tua terra!” e “volta para a senzala!”, ameaçando com “tenho armas do Ultramar em casa e vou-te matar​”.

No dia a seguir ao assassinato, a PSP referiu que nenhuma das testemunhas do homicídio apontou para motivações racistas no caso. A família, em comunicado, falava dos antecedentes quanto a insultos e alegava “que fica evidente o carácter premeditado e racista deste crime hediondo”.

Na sua investigação a PJ não descartou a hipótese de se tratar de racismo. Na altura, fonte da PJ esclarecia que as pessoas que foram inquiridas pela PSP foram as que assistiram ao homicídio e não aos episódios dos dias anteriores.

No despacho de acusação descrevem-se os acontecimentos até ao alegado homicídio. Refere-se que Evaristo Martinho enxotou com a bengala a cadela de Bruno Candé, porque esta lhe ladrou. Disse-lhe: “Vai para a tua terra preto! Tens toda a família na senzala e devias também lá estar!”.

Gerou-se uma discussão e Evaristo Martinho gritou: “Fui à cona da tua mãe e à daquela prestas todas! Aquelas merdas! Eu violei lá a tua mãe! E o teu pai também! Vai para a cona da tua mãe!”, lembra o MP. Levantou a bengala, avançou na sua direcção e ameaçou: “Anda cá que levas com a bengala! Preto de merda! Eu mato-te!”. Bruno Candé empurrou-o de forma sucessiva, e terá dito: “Só não lhe batia porque era velho!”.

Uma testemunha no local interveio separando-os. Bruno Candé ia a entrar para um carro para sair dali e Evaristo Martinho terá dito: “Tenho lá armas em casa do Ultramar e vou-te matar!”.

À mesma testemunha Evaristo Martinho disse: “Eu vou matá-lo”. O MP afirma que na “sequência do descrito, o arguido determinou-se a tirar a vida a Bruno Candé Marques. Para concretizar esse propósito, o arguido decidiu então passar a trazer consigo uma arma de fogo que detinha, em concreto uma pistola de marca Walther PP, calibre 7,65 mm. (…)” A partir daí, com a dita arma, passou diversas vezes, na referida Avenida de Moscavide, com o objectivo de saber onde estava o actor, até o encontrar no dia 25 e concretizar o acto.

Bruno Candé: Ministério Público acusa agressor de homicídio por ódio racial
Despacho de acusação lembra as expressões usadas por Evaristo Martinho, ex-militar na guerra colonial, contra Bruno Candé. Actor foi assassinado em Julho do ano passado, em pleno dia, em Moscavide, Lisboa, com cinco tiros: com o primeiro caiu, os quatro seguintes foram disparados quando já estava prostrado, segundo o MP.

O Ministério Público (MP) acusou Evaristo Marinho, de 76 anos, do crime de homicídio qualificado de Bruno Candé, por ódio racial.

No despacho de acusação datado de 13 de Janeiro — a que o PÚBLICO teve acesso — o MP de Loures deu como provado que o ex-militar da guerra colonial em Angola agiu com a intenção de matar Bruno Candé a 25 de Julho e dirigiu expressões nas quais se “referiu em concreto à cor da sua pele”.

Evaristo Marinho combateu em Angola entre Outubro de 1966 e Setembro de 1968, lê-se, e o homicídio foi qualificado pelo artigo 131º e 132º do Código Penal, nomeadamente pela alínea que refere o facto de ter sido “determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela identidade de género da vítima”.

Isto porque o MP deu como provadas as expressões proferidas por Evaristo Martinho: “Vai para a tua terra, preto!”, “Tens toda a família na senzala e devias também lá estar”, “Fui à c*** da tua mãe e daquelas pretas todas! Eu violei lá a tua mãe”, “Anda cá que levas com a bengala, preto de merda”.

O MP descreve que o alegado homicida efectuou cinco disparos contra o actor: com o primeiro disparo, Bruno Candé caiu; de seguida, “aproveitando” que o actor já estava no chão, “aproximou-se e efectuou mais quatro disparos”. Os tiros atingiram a região torácica e abdominal do corpo de Bruno Candé e os seus órgãos vitais.

Evaristo Martinho é ainda acusado do crime de detenção de arma proibida. Tinha em sua casa, segundo o MP, 25 munições de calibre 7,65 mm, que adquiriu há mais de 20 anos e de modo não concretamente apurado.

“O arguido actuou com a intenção de tirar a vida de Bruno Candé Marques, uma vez que visou as acima referidas partes específicas do corpo deste, propondo-se a aí atingi-lo e a matá-lo, bem sabendo que usando uma arma de fogo com as características e do modo descritos, actuava de modo adequado a provocar-lhe a morte”, lê-se.

Bruno Candé foi assassinado em pleno dia, na Avenida de Moscavide, em Lisboa. Testemunhos recolhidos pelo PÚBLICO no local, dois dias depois, davam conta de que o alegado assassino tinha começado três dias antes por implicar com a cadela do actor, até terminar num rol de insultos racistas: “Preto, vai para a tua terra!” e “volta para a senzala!”, ameaçando com “tenho armas do Ultramar em casa e vou-te matar​”. Depois dos vários disparos Evaristo Martinho foi imobilizado por populares.

No dia a seguir ao assassinato, a PSP referiu que nenhuma das testemunhas do homicídio apontou para motivações racistas no caso. A família, em comunicado, falava dos antecedentes quanto a insultos e alegava “que fica evidente o carácter premeditado e racista deste crime hediondo”.

Na sua investigação a PJ não descartou a hipótese de se tratar de racismo. Na altura, fonte da PJ esclarecia que as pessoas que foram inquiridas pela PSP foram as que assistiram ao homicídio e não aos episódios dos dias anteriores.

No despacho de acusação descrevem-se os acontecimentos até ao alegado homicídio. Refere-se que Evaristo Martinho enxotou com a bengala a cadela de Bruno Candé, porque esta lhe ladrou. Disse-lhe: “Vai para a tua terra preto! Tens toda a família na senzala e devias também lá estar!”.

Gerou-se uma discussão e Evaristo Martinho gritou: “Fui à cona da tua mãe e à daquela prestas todas! Aquelas merdas! Eu violei lá a tua mãe! E o teu pai também! Vai para a cona da tua mãe!”, lembra o MP. Levantou a bengala, avançou na sua direcção e ameaçou: “Anda cá que levas com a bengala! Preto de merda! Eu mato-te!”. Bruno Candé empurrou-o de forma sucessiva, e terá dito: “Só não lhe batia porque era velho!”.

Uma testemunha no local interveio separando-os. Bruno Candé ia a entrar para um carro para sair dali e Evaristo Martinho terá dito: “Tenho lá armas em casa do Ultramar e vou-te matar!”.

À mesma testemunha Evaristo Martinho disse: “Eu vou matá-lo”. O MP afirma que na “sequência do descrito, o arguido determinou-se a tirar a vida a Bruno Candé Marques. Para concretizar esse propósito, o arguido decidiu então passar a trazer consigo uma arma de fogo que detinha, em concreto uma pistola de marca Walther PP, calibre 7,65 mm. (…)” A partir daí, com a dita arma, passou diversas vezes, na referida Avenida de Moscavide, com o objectivo de saber onde estava o actor, até o encontrar no dia 25 e concretizar o acto.

Evaristo Martinho ficou em prisão preventiva por homicídio qualificado e posse de arma ilegal na cadeia de Lisboa, tendo como advogada oficiosa Alexandra Bordalo Gonçalves, presidente do conselho de deontologia de Lisboa da Ordem dos Advogados.

Actor na telenovela A Única Mulher, na altura em que morreu Bruno Candé estava a preparar uma peça de teatro com a Casa Conveniente. O actor começou a colaborar com aquela companhia em 2011, no espectáculo A Missão – Recordações de uma Revolução, encenado por Mónica Calle. Representou nos espectáculos Macbeth, O Livro de Job, Rifar o Meu Coração, A Sagração da Primavera, Noites Brancas, também de Mónica Calle; Drive In, de Mónica Garnel, e Atlas, de João Borralho e Ana Galante.

Sem comentários:

Enviar um comentário