Joaquim Adriano Sive é o novo comandante-geral da polícia de Moçambique e substitui no cargo a Bernardino Rafael exonerado nesta quinta-feira pelo Presidente da República, Daniel Chapo.
Foi em comunicado que a Presidência da República tornou pública a exoneração de Bernardino Rafael do cargo de comandante-geral da polícia , sem explicitar as razões desta decisão. Contudo, "já era expectável", diz o antigo deputado da Renamo na assembleia da República, António Muchanga.
“Está a haver este trabalho que é normal para qualquer pessoa que começa novas funções, com este poder constitucional discricionário de ele poder escolher quem vai fazer parte da sua cúpula. Eu acho que até esta nomeação do novo comandante vem um pouco demorada. O meu sentimento era que o Presidente da República tivesse tomado esta decisão logo no primeiro dia, depois de tomar posse”, declara o antigo parlamentar.
De Joaquim Sive, novo comandante-geral da polícia, António Muchanga espera uma nova postura da corporação.
“Não é possível, a polícia que quer dominar alguém, bater na cabeça, bater no estômago, no mínimo devia apanhar as pernas. Há muita indisciplina organizada dentro da polícia que estava sendo estimulada pelo comandante-geral. Espero que agora tenha chegado o momento de encontrarmos um outro tipo de ambiente, tendo em conta a experiência que o Doutor Chachine (Paulo Chachine - novo Ministro do Interior) e o próprio Doutor Sive (novo comandante-geral da polícia) possuem dentro da corporação”, considerou o responsável político.
Bernardino Rafael foi nomeado para o cargo de comandante-geral da polícia da República de Moçambique em Outubro de 2017 e reconduzido em 2021 pelo antigo Presidente Filipe Nyusi. Ele é agora substituído pelo então comandante provincial da polícia em Sofala.
A sua exoneração acontece no contexto de profunda contestação do desempenho da polícia no âmbito dos protestos pós-eleitorais que têm abalado o paíse desde finais de Outubro de 2024.
De acordo com o mais recente relatório da Plataforma Eleitoral Decide, as manifestações pós-eleitorais resultaram em pelo menos 315 mortos, mais de 90% vítimas de “balas reais”, entre as quais duas dezenas de crianças. Esta organização da sociedade civil contabilizou ainda 730 feridos por baleamento e 4.236 “detenções ilegais” em todo o país, sendo que esta entidade refere que 96% dessas pessoas já foram soltas.
Acusada de abusos de toda a ordem durante os protestos, a corporação também viu mais de 40% das suas infraestruturas a serem destruídas ou vandalizadas durante as manifestações, afirmou recentemente o comandante-geral agora exonerado.
Um divórcio patente entre a polícia e o resto da sociedade, sobre o qual o novo Ministro do Interior moçambicano disse esta semana que a população "não pode ter medo da polícia". “O cidadão deve ser o ponto de partida e de chegada das nossas actividades, deve estar lá no centro”, disse na quarta-feira Paulo Chachine na sua primeira intervenção pública, após tomar posse no sábado.
Por: Orfeu Lisboa
Conosaba/.rfi.fr/pt/
Sem comentários:
Enviar um comentário