quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

NA GUINÉ-BISSAU, POR DINHEIRO VALE TUDO

As condições me convidam para apresentar uma análise histórica e social de como o país chamado Guiné-Bissau, tem se apresentado ao longo dos seus anos da independência.

Sendo que o país emergiu num contexto das lutas pela afirmação do nacionalismo postulado nas identidades africanas tidas ou consideradas inferior, tendo em conta o imaginário dos invasores árabes e europeus, é nítido a continuidade da perspectiva colonial em várias dimensões, no cenário, educacional, econômico político, social e cultural, através das linguagens, comportamentos, hábitos e tomadas de decisões.

Em face do exposto, observa-se que a herança colonial patenteia a forma de governação na Guiné-Bissau, ou seja, na percepção da elite apalermado, onde as forças que num passado tenebroso apelidaram-se de revolucionárias em defesa dos interesses nacionais, atualmente carregam o pseudônimo de forças desordenadas em defesa dos interesses políticos.

Os grupos revolucionários no passado sombrio asseguraram os interesses nacionais com muita resiliência na liquidação do homem pelo homem, não obstante nos dias atuais curvaram diante dos seus juramentos. Acontece que, no pós-independência não receberam treinamentos complementar à nível social, para estabelecer uma relação cordial com a sociedade (população) tendo em conta a não pertinência da liquidação do homem pelo homem depois da proclamação solene do Estado, pois, já não se trata de uma luta contra os inimigos, estes foram derrotados de forma humilhante.

Por conta da ausência da integração social, após a Guerra da Libertação Nacional os grupos uniformizados ainda navegam na arena da liquidação, a partir de um quadro nomenclado “pulitika di intchi bariga”, por que as gratificações advêm do dinheiro, para os efeitos vale defender qualquer ideologia e eliminar qualquer opositor, pois o dinheiro elimina todos as atrocidades.

As reflexões acima expostas nos permitem compreender as heranças coloniais que tem causado situações drásticas, que afetam o quadro político a nível nacional e internacional, assim como a vida da população.

Logo, entende-se que, a Guiné-Bissau ainda se gatinha no dito concerto das Nações, por que a política não foi ajustada com os interesses nacionais. Assim, na percepção de vários guineenses o principal problema do país apresenta cunho político. No cenário atual diria que, a política não se constitui como principal problema, o nosso embaraço é social com reflexo político.

A partir de um pensamento lúcido, “uma sociedade é feita de referência, e modelos”, mas na Guiné-Bissau a mesma foi construída na base da corrupção generalizada, nepotismo, cultura de ódio, raptos e assassinatos. Para se ascender politicamente, precisa necessariamente bajular, humilhar-se, acima de tudo aceitar inverdades para manter os vícios.

Os constantes derrubes de governos que têm sido justificados por graves crises institucionais inverificável dos sucessivos presidentes, tem sua base no início da implementação do multipartidarismo, pois o partido único após a retirada do artigo 4 da constituição implicitamente atribui poderes ao presidente, para conservar os mandatos, sem levar em consideração que a governação poderia estar na condução de outros partidos e utilizariam os mesmos pretextos para cumprir a lei da vingança. Atualmente, forçar crise institucional virou moda.

Pelas atrocidades que se verificam na Guiné-Bissau, não se pode falar em leis e muito menos na democracia, as duas categorias podem aparecem à tona, apenas quando o regime implementado perder credibilidade por partes de grupo dos uniformes e milicianos fundamentalistas.

Antes da consolidação do absolutismo do “Bolsonaro da África” ter alargado raízes, já se notava sinalizações através dos decretos presidenciais carregados de exaltação de patentes, pois não se sabe se foi eleito um civil ou militar. Também havia sinais através dos discursos de intimidação, humilhação e demonstração de poder e exaltação dos líderes ditatoriais.

Não precisa ser especialista para entender a tamanha corrupção, nepotismo e clientelismo que se vive na Guiné-Bissau. Ao longo do regime “avesso à escola”, inúmeras pessoas foram humilhadas diante dos seus filhos, outras foram raptadas, espancamento generalizado com a justificativa de “caso particular” sem levar em consideração a imunidade das figuras do país.

Os jovens que se alimentavam da intelectualidade e conhecedores das leis que emanam esta república, alienaram seus pensamentos e a dignidade por conta da política de “intchi bariga”. Lamentavelmente, adormeceram nos valores monetários em busca do imediatismo para alimentação dos vícios insustentáveis por uma vida digna.

A semelhança dos jovens ilusionistas, observa-se alguns intelectuais que elucidaram visões contundentes sobre o sistema político com posturas de marionete na atualidade. Ademais, para arruinar o compromisso com o país na busca de soluções plausíveis, o grupo que vislumbra numa “seita fundamentalista revestido de partido” mergulhou a Guiné-Bissau numa roubalheira antes nunca vista, por que por dinheiro vale qualquer atrocidade, vale qualquer compromisso, vale qualquer postura, vale qualquer discurso, vale qualquer governo baseado nos princípios dos valores invertidos. Ainda, o dinheiro silenciou inúmeros críticos, o dinheiro retirou o revolucionismo “di djintis di konplê”, o dinheiro forçou parcerias sem visões lúcidas, o dinheiro inibiu o caráter de muitos.

Por dinheiro já perdemos todos os valores construídos ao longo do estado democrático de direito, apesar de que não se pode falar direitos na Guiné-Bissau. Por dinheiro a vontade popular expressa no último pleito eleitoral foi trazida para mom di sal na iagu.

A esperança ainda continua a fazer “visita de curto prazo” como dizia o Mc Mário. Assim, vejo que Guiné-Bissau vai custar mais do que já pagamos, por enquanto insistirmos a ignorar os valores espirituais que contribuíram na libertação desse povo contra o jugo colonial.

Vale lembrar, os ranços de todas as problemáticas germinaram com o partido “djintis di kasa garandi” que o povo confiou o poder várias vezes, seja com ou sem maioria absoluta. Vejo que o referido partido sempre apresentou medo do cunho étnico que sustentou as forças di djintis di konplê, por isso assinou acordos sem necessidade que arruinaram inúmeros mandatos, inclusive este último.

Imagens do líder norte-coreano da Guiné-Bissau transmitem conceitos. Por assim dizer, havemos de sair na rua para festejar o fim à semelhança do Gabão com o regime Bongo.

O cantar das armas não amedronta todos os civis!

“Konbersera na kasa i ka guera ki midida”! Nô bai baloba tera na fria!

Nkanande Ka, Mestre em História, professor universitário!

Sem comentários:

Enviar um comentário