sexta-feira, 14 de abril de 2023

Líder do PAIGC lamenta divisão da sociedade guineense entre o campo e a cidade

O líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, lamentou que a sociedade da Guiné-Bissau ainda esteja muito dividida entre quem nasceu no campo e na cidade, defendendo que as divergências poderiam ser ultrapassadas através de aspetos que unem os guineenses.

Em declarações à Lusa em Lisboa no âmbito do lançamento do seu primeiro livro de ficção, o líder do histórico Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), maior formação da oposição na Guiné-Bissau, lamentou que se continuem "a fazer divisões entre quem nasceu no campo e quem é considerado da praça [cidade]".

"Em vez de teoricamente ou em vez de teorizar sobre estes conceitos, eu achei que se contasse uma história, uma história que em parte eu vivi e noutra parte eu ouvi contar, podia ajudar melhor as pessoas a compreender que às vezes nós olhamos demasiado para aquilo que nos divide e não damos conta que somos tão próximos e somos tão parecidos que teríamos bastante mais a ganhar, abraçando aquilo que de facto nos une", disse.

Secretário-executivo durante dois mandatos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (2008-2012), o político lança no sábado em Lisboa o seu primeiro livro, "KUMUS -- A PONTE ATÉ NÓS MESMOS", que, disse à Lusa, aborda "vários momentos" do que tem sido o seu trajeto pessoal e político.

Domingos Simões Pereira entra pela primeira vez no domínio da ficção, no que diz ser "uma pausa na efervescência da vida política" no seu país.

"Chega uma altura em que sentimos a necessidade de dizer para o mundo que a nossa vida não se resume a isso. Não se resume àquelas discussões quase que existenciais que vão acontecendo nessa realidade, que nós tentamos também não nos esquecermos de viver", salientou.

Uma vida "feita de vários encontros, desencontros, de paixões e daquilo que nos vai rodeando e que, portanto, nós vamos partilhando", acrescentou.

Domingos Simões Pereira contou que sempre escreveu e a escrita representa "sempre uma terapia".

"Sempre que questões me afligiram e senti-me quase que num labirinto, eu encontrei na escrita uma forma de libertação, uma forma de sair desse quadro e projetar-me para outros espaços", explicou.

Embora nunca tivesse pensado em publicar, afirmou que esta sua primeira obra de ficção resulta de escritos que foi produzindo ao longo do tempo e que "coincide em vários momentos" com o que foi a sua trajetória, e em que acompanha também uma geração, da qual faz parte, "que testemunhou o fim do período colonial e que acompanhou a transição para a fase pós colonial".

"Esta fase pós colonial em que, infelizmente, novos fantasmas voltaram a ganhar vida. Fantasmas relacionados com as diferenças étnicas. Voltamos a questionar as nossas religiões, não dando conta que as religiões mais importantes que existem na Guiné são todas, foram todas trazidas de fora", adiantou.

"Estamos num processo de formação de elites e, em vez de essas elites resultarem, seja de uma melhor escolarização, seja de uma maior acumulação de riquezas, essas elites são definidas por outros tipos de valores", lastimou o líder partidário.

Domingos Simões Pereira, de 59 anos, nasceu em Farim, norte da Guiné-Bissau, e estudou Engenharia Civil e Industrial na Ucrânia, no tempo da antiga União Soviética, tendo mais tarde completado o mestrado na mesma área em Fresno, nos Estados Unidos.

Concluiu recentemente o doutoramento em Ciência Política na Universidade Católica Portuguesa.

Além dos dois mandatos à frente da CPLP, desempenhou várias funções governativas, tendo sido primeiro-ministro da Guiné-Bissau entre 03 de julho de 2014 e 20 de agosto de 2015.

"KUMUS -- A PONTE ATÉ NÓS MESMOS - Estórias e sonhos em duas vidas paralelas", da Nimba Edições, é lançado no sábado em Lisboa.

Conosaba/Lusa


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