segunda-feira, 24 de abril de 2023

Região de Gabú: BOMBEIROS DE “MÃOS ATADAS” RECORREM À ELETRO-BOMBA DE UM PRIVADO PARA COMBATER INCÊNDIOS

Mamadu Aliu Djaló, comandante dos Serviços da Proteção Civil da região de Gabú, revelou que os bombeiros da região recorrem a um eletrobomba de um privado para combater incêndios, por não existirem bocas de incêndio nem alternativas para abastecer o carro de combate a incêndios de 4 mil litros.

Em entrevista ao jornal O Democrata, o comandante da proteção civil afirmou que um dos constrangimentos ao funcionamento dos bombeiros da região é a falta de um depósito de água para ajudar a corporação a fazer face a incêndios que ocorrem ou possam ocorrer na cidade.

“O nosso carro de combate a incêndios tem uma capacidade de quatro mil litros, que às vezes não são suficientes para extinguir incêndios de grandes dimensões. Nem sempre conseguimos extinguir incêndios logo na primeira intervenção. Podem ser necessárias, às vezes, duas ou três intervenções e o local onde temos acesso a uma eletrobomba para abastecermo-nos está a cerca de dois quilómetros da cidade. Todo esse percurso em meio a uma situação de incêndio é fatigante e não ajuda na operacionalização dos nossos serviços. Começamos com sucesso e voltamos à estaca zero, por falta de uma boca de incêndio, que nem Bissau tem”, disse.

O comandante pediu ajuda das entidades estatais e pessoas singulares para que a corporação possa adquirir uma cisterna de cinco metros cúbicos, frisando que para além de falta de bocas de incêndio, a proteção civil local precisa de uma ambulância para socorrer as vítimas de acidentes ou incidentes que possam ocorrer na região e na cidade de Gabú.

Segundo contou à nossa reportagem, várias vezes são obrigados a colocar as vítimas numa viatura dupla cabine da corporação, um carro de serviço de emergências para fazer levantamentos de casos de incêndios e acidentes e transportá-las para o hospital.

“Mesmo nos casos de acidentes de viação, é o mesmo carro que é colocado ao serviço dos bombeiros para socorrer as vítimas, como também temos transportado grávidas para o hospital. Outro fracasso dos bombeiros são as vias de acesso que praticamente não existem e a própria geografia de Gabú, uma zona muito quente e com algumas elevações .

Mamadu Aliu Djaló apontou ainda como um dos estrangulamentos a situação dos postos de combustíveis, que estão situados próximos uns dos outros, sem respeitar o que está estabelecido na lei.
“Temos aconselhado e alertado os proprietários das bombas de combustíveis sobre o perigo que correm derivados da desobediência às regras, mas tem sido difícil lidar com essa situação. O ministério da energia, que emite as licenças, também não tem ajudado. Internamente, temos aconselhado a não venderem gasolina porque é mais inflamável do que o gasóleo, mas sistematicamente essa recomendação tem sido violada. E o mais grave é que vendem gasolina em garrafas de plástico expostas ao sol, pondo em risco a vida das pessoas que fazem os seus negócios naquela zona onde estão instalados esses postos de combustíveis”, denunciou.

“Que eu saiba, salvo melhor explicação, não há uma legislação que puna situações dessa natureza. Pela lei de base do serviço nacional de proteção civil, não há nada que oriente para fazer vistorias, aplicando coimas à práticas ilícitas ou venda de combustíveis em garrafas”, assegurou.

Criticou a rede elétrica e a maneira como os cabos estão montados e fiados nos postes na cidade de Gabú, porque os fios utilizados não são apropriados, “alguns arriscam e utilizam fios de 1,5 e 1 centímetros de espessura, muito frágeis e muitas vezes são a causa de muitos incidentes provocados por curto circuitos”.

“Hoje, com esforço e empenho da minha equipa, estão a utilizar fios adaptáveis ao lançamento da corrente elétrica, mesmo assim é necessário ter cautela com a montagem da rede elétrica feita por pessoas que não são técnicos da área.

As pessoas que têm pequenos negócios de fornecer energia elétrica também não respeitam as regras. Já identificamos três fornecedores, mas não têm extintores, não obstante terem sido convocados pela direção dos bombeiros e avisados a colocarem extintores nas casas dos geradores”, afirmou.

Mamadu Aliu Djaló informou que da paragem para a ponte de Gabú, foram instalados três postos de venda de combustíveis e estão distantes a cento e cinquenta metros um do outro, enquanto a regra prevê uma distância de quinhentos metros, “o que infelizmente não foi observado neste caso. É perigoso o que está a acontecer naquela zona”.

Questionado sobre quantas bocas de incêndio vai precisar a região de Gabú, o comandante ironizou dizendo que “se a própria cidade de Bissau não tem bocas de incêndio, do que adiantaria falar de bocas de incêndio na cidade de Gabú”, sublinhando que o que se pode adotar como alternativa é o sistema de reservatório de água para abastecer as viaturas de combate a incêndios.

“O sistema de reservatório pode ajudar a minimizar os problemas, porque em caso de incêndio, os bombeiros podem chegar e copular a mangueira facilmente, abastecer o carro de combate e entrar em ação”, indicou.

BOMBEIROS RETIRAM VÍTIMAS DE QUEDA EM POÇOS COM MEIOS RUDIMENTARES

Interpelado sobre os mecanismos utilizados para retirar as vítimas de quedas em poços de água, Mamadu Aliu Djaló revelou que os seus homens continuam a salvar vidas com meios rudimentares, em condições muito arriscadas e lamentáveis, utilizando pedaços de paus entre as pernas e uma corda para retirar as vítimas de poços.

“Não pode imaginar o que acontece quando estamos numa operação de salvamento de vida, num poço que não tem oxigénio. Temos que criar primeiro o oxigénio suficiente, através das nossas técnicas, para garantir que o nosso homem não seja também uma vítima, mas nem sempre temos conseguido realizar as operações com sucesso, devido às dificuldades que temos na nossa corporação. Portanto é preciso apoiar os jovens que estão a lutar com entrega e abnegação nesta região”, enfatizou e disse que não tem sido fácil realizar operações nessas condições, colocando em risco a vida de operacionais, por isso “interagimos constantemente com quem está em salvamento para saber como está e executar a operação, em tempo real”.

“Não temos nenhum aparelho especial para criar oxigénio, não. Molhamos um pano ou uma toalha para poder criar oxigénio para quem vai salvar uma pessoa. Precisamos de um tripé para dinamizar as nossas intervenções, porque utilizar pedaços de paus, em pleno século XXI, para retirar pessoas de poços é lamentável “disse, lembrando que a situação era bem pior em 2013 quando se registou um incêndio na zona baixa de Gabú, que fica junto às bombas de combustíveis. Poderia ter sido fatal e acabado com toda a cidade, se não fosse a intervenção da corporação de Bissau, porque “tínhamos apenas três homens”.

Dados recolhidos no terreno indicam que os serviços de proteção civil da região tem um total 35 operacionais, dos quais 24 homens em Gabú e o resto distribuído por outros quatro setores dos cinco que compõem a região leste e a maioria dos operacionais são auxiliares sem contrato e nem incentivos.

Nos outros setores (Boé, Sonaco, Pitche e Pirada), segundo Mamadu Aliu Djaló, a situação dos bombeiros é mais precária, apenas são instruídos a sensibilizar as comunidades sobre os cuidados que devem ter com o fogo e as técnicas que devem utilizar, sobretudo nos períodos de limpeza dos pomares de cajú, porque é possível, em caso de ventania, o fogo pode invadir o mato e vice versa.

Por: Filomeno Sambú
Conosaba/odemocratagb

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