terça-feira, 16 de julho de 2024

OPINIÂO: EGOCENTRISMO DOS POLÍTICOS ADIA O DESENVOLVIMENTO DA GUINÉ-BISSAU

Desde o golpe de Estado de 1980, que derrubou uma governação progressista e pan-africanista que dava sinais de desenvolvimento com a construção de fábricas de N'ghaie, de liti blufu, de montagem de carros, etc., as disputas políticas na Guiné-Bissau tinham, na altura, o epicentro: luta pelo controle do poder e consequentemente dos recursos do país.
Nas últimas duas décadas, têm acrescido a essa luta, a luta para sustentar o vício de ter duas ou três mulheres, uma no país e outra na Europa e/ou na Ásia, luta para a compra de apartamento em Portugal e auge de luta pelo controle dos recursos naturais de que o país dispõe, nomeadamente areias pesadas, bauxite, fosfato, petróleo, peixe, madeiras, etc. As crianças de ontem, hoje, jovens, que Cabral dizia razão da luta contra jugo colonial, venderam-se e já não ousam posicionar-se contra a destruição do país e a violação dos direitos humanos, por serem materialista.
A maioria dos jovens preocupa-se com bens materiais, ou seja, em ter carros de luxo, ter dinheiro para, pelo menos duas vezes por ano, passar férias em Portugal, mandar a mulher e filhos para Portugal, etc. Quando é assim, sabendo que a maioria não ganha bem para sustentar esses vícios, acaba por vender-se, ignorando os princípios sagrados que defendiam, enquanto membros da sociedade civil e/ou dos partidos políticos nos quais têm afiliação.
Como podem os políticos respeitar e definir prioridades para os jovens, se a maioria, sobretudo a juventude partidária, faz o mesmo senão pior que os velhos, digamos os seus altos dirigentes, fazem? Responde quem lê!
Retomando a introdução, diria que a luta que assistimos hoje não é uma luta que visa criar condições para que as crianças e os jovens não sofram, que o povo tenha pelo menos três refeições diárias, água potável, estradas alcatroadas de lés- a- lés, emprego para a juventude, universidades de qualidades e que cada dono de morança consiga, através do seu trabalho (funcionários público e privado, empreendedor, lavrador, criador de gado, vendedor de mancarra, de quiabo, de badjiki, etc.), pagar os encargos de educação e da saúde dos seus filhos e da sua família.
Defender os políticos e governantes corruptos que fazem negócios dos nossos recursos a seu belo prazer, ignorando a separação de poderes e interdependência entre os órgãos da soberania, que sequestrem, fecham, batem e maltratem o povo que sai a rua para dizer isto vai mal, isto deve ser melhorado, é condenar uma nação inteira que custou sangue e suor de Amílcar Cabral e dos Combatentes da Liberdade da Pátria, à pobreza e miséria nunca antes vista no país.
É preciso romper o cordão umbilical que nos une a asses políticos e partidos políticos que nos têm vendido uma visão ocidendalista e não africana. Mas para que isso aconteça é urgente que os membros da sociedade civil que ainda tenham sensibilidade e afinidade com alguns partidos políticos comecem a repensar a estratégia da luta que vai no sentido de que a alternativa ao atual cenário não está nas mãos destes "senhores políticos que santificamos diariamente", que temem perder a vida, defendendo a legalidade democrática no país, tal como fez um dos melhores intelectuais do séc XX, Amílcar Cabral, mas sim dentre eles estão pessoas que possam dirigir com a dignidade os destinos da Guiné-Bissau para construir o bem estar, o progresso para o povo guineense e a consolidação do estado de direito democrático.
Revoltado estou, por isso, parafraseando o nosso saudoso líder, precisamos continuar a aprender com o povo, com os livros, com os mais velhos, com a juventude, com a criança, para que consigamos elaborar políticas públicas capazes de resolver os problemas que a população guineense tem enfrentado, desde golpe de Estado de 1980.
Por: Tiago Seide
Professor e Jornalista
In O Democrata, edição n° 579, de 11 de julho de 2024

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