Faleceu esta sexta-feira, 05 de julho de 2024, em Lisboa (Portugal), António Pacheco, jornalista com profunda experiência em assuntos africanos, vítima de doença prolongada.
A morte do especialista em assuntos africanos foi avançada pela emissora católica portuguesa “Renascença” em Lisboa, onde vivia há muitos anos.
António Pacheco trabalhou durante vários anos nos quadros da Renascença, tendo mesmo feito parte da direção de informação da Emissora Católica em meados dos anos 90. Foi editor até ao fim da ‘Renascença em África’, que durante cinco anos emitiu para a Guiné-Bissau através da Rádio Sol Mansi, para Moçambique, através da rádio Pax, e rádio Nova em Cabo Verde.
Durante vários anos, disse a Renascença, António Pacheco fez sempre questão de fazer temporadas fora de Lisboa e da sua casa, para viajar aos países africanos de expressão portuguesa e dar cursos de formação a jovens jornalistas da lusofonia.
António Pacheco tinha dupla nacionalidade, portuguesa e moçambicana. Tendo nascido em Moçambique, em 1946, na então Lourenço Marques, atual Maputo, manteve forte relação com os protagonistas dos dois principais partidos, nomeadamente a Frelimo e a Renamo.
De acordo com a publicação da Renascença consultada pela Rádio Sol Mansi, nos anos 70, António Pacheco terminou a licenciatura em Direito, na Universidade Clássica de Lisboa, mas nunca exerceu na área, preferindo sempre o jornalismo.
Em 1976 foi nomeado, pelas autoridades moçambicanas, diretor-adjunto do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane e já nos anos 80 foi convidado a trabalhar na Renascença como especialista em assuntos africanos. Em plena guerra civil em Moçambique, fez uma pausa na rádio em 1989 e partiu como voluntário para a região de Ressano Garcia, onde trabalhou com refugiados.
Ao longo dos anos, para além de ter sido jornalista da Renascença, colaborou com diversas publicações. Foi correspondente da rádio francesa RFI e, mais recentemente, colaborou com a rádio Observador, sempre como especialista de assuntos africanos.
‘Renascença em África’, o sinónimo de António Pacheco
António Pacheco era um profundo conhecedor da realidade dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), para onde viajou diversas vezes, muitas delas em contexto de guerra civil. Mas não só, manteve sempre fortes relações com a África do Sul.
Na Renascença, fez parte da direção de informação e impulsionou, editou e produziu a partir de 1997 e até 2003, o programa ‘Renascença em África’, emitido a partir de Lisboa e com transmissão em direto em diversas rádios da lusofonia.
Uma dessas rádios foi a rádio Ecclesia, emissora católica de Angola, que em 1999 foi obrigada a suspender durante algumas semanas o ‘Renascença em África’, por pressão do governo angolano de então.
O programa foi um marco na história da Emissora Católica portuguesa, onde durante uma hora de todos os dias úteis se debatia a atualidade política, social e económica sem quaisquer reservas, gerando por vezes desconforto entre os protagonistas políticos de países recentemente independentes ou saidos de guerras civis.
O programa acompanhou de perto a guerra civil da Guiné-Bissau, conhecida como a guerra de 7 de junho, que estalou em 1998, desencadeada por um golpe de Estado contra o então Presidente João Bernardo “Nino” Vieira, liderado pelo General Ansumane Mané. Nesse período, Pacheco viajou em reportagem a Bissau por diversas vezes.
Em reação à morte de Pacheco, o fundador da Rádio Sol Mansi, Padre Davide Sciocco, destacou que o jornalista foi um impulsionador da Rádio e de seus jornalistas.
“António Pacheco foi uma das figuras chaves do crescimento da Rádio Sol Mansi. Chegou em 2002 para dar-nos formação quando a Rádio era uma pequena realidade em Mansoa. No primeiro contato disse-me que a rádio não era uma rádio, mas sim uma confusão”, recordou, realçando que mesmo assim ele dedicou-se com grande amor na sua estruturação e ficou mais de um mês a formar os primeiros voluntários, incluindo ele, o Padre Davide Sciocco.
In Rádio Sol MansiConosaba/odemocratagb
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