A Comunidade da aldeia de Camadjabá, setor de Pitche, região de Gabú, no leste da Guiné-Bissau, queixa-se de insuficiência de professores para cobrir a escola primária que conta com mais de 250 alunos, bem como da falta de agentes de saúde comunitária para o posto de saúde construído pelos habitantes e consequentemente ajudar no atendimento e orientação dos pacientes que procuram aquele serviço.
A aldeia confronta-se também com a situação dos edifícios das forças de segurança que está em estado avançado de degradação, sobretudo do SIS, com o telhado (chapas de tambores de 200l) e em ruínas.
Os habitantes da aldeia de Camadjabá e inclusive as grávidas percorrem uma distância de 12 quilómetros para a secção de Buruntuma à procura de um centro de saúde para atendimento médico ou 24 quilómetros para a cidade de Pitche, que dispõe de um centro de saúde de maior capacidade. A aldeia de Camadjabá conta com 604 habitantes, de acordo com os dados avançados pelo chefe de tabanca.
A escola primária de Camadjabá é um pavilhão de duas salas de aulas e conta com dois professores para um total de 265 alunos. A aldeia dispõe de um posto de saúde deixado em ruínas, servindo de lar de repouso para animais, sobretudo cabras, jumentos e vacas.
A aldeia conta igualmente com uma farmácia que, para além da venda de medicamentos, de acordo com a explicação da população local, tem um serviço de atendimento médico, onde se faz consultas médicas e se emitem receitas médicas aos pacientes.
Visitamos ainda as casas onde funcionam os serviços das forças de segurança, nomeadamente o SIS – Serviço de Informação e Segurança, a Guarda Florestal e a Brigada de Ação Fiscal (BAF). No entanto, o edifício do SIS está num estado avançado de degradação, com os telhados (em chapas de tambores de 200 litros) totalmente em ruínas.
“É DURO PARA NÓS LIMITARMOS AS MATRÍCULAS DE CRIANÇAS POR FALTA DE SALAS DE AULAS” – DIRETOR DA ESCOLA
O diretor da escola do ensino Básico Unificado de Camadjabá, Ansu Sane, lamentou, na entrevista ao semanário O Democrata (janeiro de 2024), a incapacidade da estrutura que dirige face à procura dos pais e encarregados de educação que procuram inscrever as suas crianças, acrescentando que trabalham com muitas dificuldades, dado que a escola conta apenas com dois professores: uma professora e mais ele próprio (diretor).
“Fazemos funcionar esta escola primária em três turnos e cada turno com quatro horas de aulas de 1ª a 4ª classe”, disse, avançando que a condição física da escola e particularmente a falta de espaço ou salas de aulas constitui uma preocupação enorme para a direção e que a própria comunidade tomou o engajamento de construir mais um pavilhão, de forma a permitir a inscrição de mais crianças daquela aldeia.
Explicou que a insuficiência de professores é do conhecimento da delegacia regional da educação, bem como a própria estado da escola. Enfatizou que recebeu a garantia da delegacia regional que a partir deste mês de janeiro vai receber um professor.
“A dificuldade que mais atravessamos é a incapacidade das infraestruturas, como também dos recursos humanos para cobrir as necessidades das aldeias arredores, dado que os pais e encarregados da educação manifestam a vontade de inscrever os seus filhos na nossa escola, mas infelizmente não temos espaço ou salas de aulas suficientes para albergar grande número de alunos”, lamentou.
“É duro para nós, termos que limitar matrículas, vendo que outras crianças não vão à escola. Essa situação deixa-nos impotentes, porque somos forçados a negar a educação a grande número de crianças. Algumas tabancas vizinhas preferem matricular as crianças em Camadjabá por causa da distância para Buruntuma ou outras aldeias. Se tivéssemos, pelo menos, cinco professores, creio que a comunidade disponibilizaria espaços para a construção de barracas e assim albergaríamos grande número de crianças que ficam de fora”, relatou.
Para o diretor da escola, é encorajadora a participação das meninas, frisando que este ano letivo, contam com um total de 139 meninas, no universo de 265 alunos inscritos. Afiançou que o número de meninas tem crescido ano após ano.
Ansu Sane disse que trimestralmente recebem apoio em gêneros alimentícios para a refeição das crianças, tendo realçado que estes apoios são doados pelo projecto “MeREECE”. Acrescentou que a escola recrutou mulheres das tabancas para preparar as refeições e que os alunos contribuem com lenha.
O docente lamentou a falta de materiais didáticos na escola, bem como a falta de água potável, porque a aldeia dispõe apenas de uma eletrobomba, mas que está com problemas técnicos.
Relativamente à desistência de alunos, Ansu Sane mostrou-se preocupado e afirmou que grosso número de alunos masculinos sai da escola por dois motivos, primeiro a campanha de castanha de cajú e segundo por motivos da leitura do alcorão no Senegal.
“GRAVIDAS NO TRABALHO DE PARTO SÃO TRANSPORTADAS EM CARROÇAS DE BURRO” – CHEFE DE TABANCA
O Comité de tabanca, Dunhe Bandjai, disse que a maior dificuldade da sua comunidade tem a ver com a questão de saúde e dos edifícios escolares em más condições para as crianças, afirmou que a assistência médica recebida é praticamente nula, “porque recebemos técnicos para consultas de três em três semanas, vindos de Buruntuma por apenas algumas horas”.
“Aqui em termos de assistência médica é zero. Quando temos um familiar gravemente doente ou mesmo uma grávida no trabalho de parto, somos obrigados a recorrer ao centro de saúde de Buruntuma ou deslocarmo-nos até à cidade Pitche, caso o centro de Buruntuma estejacom dificuldades. Fazemos essas deslocações, por motas ou carroças puxadas por burros e isso é muito arriscado e cansativo”, informou.
Explicou que o posto de saúde da aldeia não tem nenhum técnico de saúde qualificado e nem sequer os agentes de saúde comunitária, frisando que as mulheres grávidas e crianças são assistidas por técnicos vindos da aldeia de Buruntuma.
“A minha comunidade cresceu e muito. Estamos ainda cercados de pequenas comunidades, razão pela qual já merecíamos a atenção dos nossos dirigentes. As nossas necessidades também cresceram. A nossa maior preocupação neste momento tem a ver com a falta de assistência médica e da educação condigna para a nossa população, porque não temos edifício escolar em condições e somos uma comunidade muito grande. Temos dois professores e um pavilhão pequeno e as crianças desta zona não cabem nele mesmo funcionando em três turnos”, desabafou.
Informou que a sua aldeia alberga também os serviços da Guarda Florestal, do SIS e da BAF, salientando que havia também uma estrutura da Polícia da Ordem Pública, que acabou por deixar a aldeia por razões desconhecidas.
Outra preocupação levantada pelo chefe de tabanca é o diferendo registado frequentemente entre os agricultores e os criadores de gado, que, segundo a sua explanação, se regista mais no início da campanha agrícola, dado que o gado invade os cultivos, criando conflitos entre os agricultores e os donos de gado.
“Estes conflitos são resolvidos pelas autoridades tradicionais por causa da ausência da POP, se não conseguem resolver, são obrigados a recorrer ao régulo, que, por sua vez, consegue sempre fazer as partes se entenderem”, notou.
GUARDA FLORESTA PEDE MEIO DE DESLOCAÇÃO,MESMO QUE SEJA UMA MOTORIZADA
O responsável do posto da Guarda Florestal, Alfucene Mané, disse à repórter que a maior dificuldade que enfrentam é a falta de meios da deslocação para a fiscalização, pelo quando são confrontados com alguns problemas são obrigados a alugar motorizadas particulares para chegar ao local.
“Não temos nem bicicletas para deslocarmo-nos o que nos limita anão fazer a fiscalização como deveríamos e também aqui somosapenas dois, mas em Buruntuma temos outra estrutura”. Garantiu que na zona de Camadjama não se utilizam serras, ou seja, já não se abatem árvores e que todos os cibes naquela via que vai para Pitche e posteriormente Bissau são vindos da República vizinha de Guiné-Conacri.
Por: Epifânia Mendonça
Conosaba/odemocratagb
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