"É o maior desafio que a Fundação Amílcar Cabral tem pela frente", referiu hoje o lidar da instituição, Pedro Pires, ex-Presidente cabo-verdiano, numa alusão ao trabalho, contactos e ações de cooperação que o programa global exige.
As celebrações "serão o somatório de atividades" desenvolvidas de forma autónoma por várias entidades em Cabo Verde e no exterior para celebrar os 100 anos que Amílcar Cabral celebraria a 12 de setembro de 2024.
Um colóquio internacional sobre o líder histórico do movimento de libertação e independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, contra o regime colonial português, vai ser o ponto alto do programa, agendado para o mês do nascimento.
Mas "o primeiro ato" das celebrações do centenário, referiu Pedro Pires, acontece este sábado, 20 de janeiro, dia em que se assinalam os 51 anos do assassinato de Amílcar Cabral, em Conacri.
Haverá um simpósio internacional dedicado à sua figura, em Bissau, enquanto a Praia celebrará o Dia dos Heróis Nacionais com encontros, uma marcha e a estreia de uma peça de teatro: "A Última Lua do Homem Grande", pelas companhias Sikinada (Cabo Verde) e Art`imagem (Portugal).
Para março, está previsto um colóquio internacional em Luanda e há colaborações em curso entre a fundação e a Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, em Portugal, assim como com a organização do cinquentenário da libertação dos presos políticos do Tarrafal (ilha de Santiago, Cabo Verde).
Ao mesmo tempo, Pedro Pires destacou a parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para inscrição dos escritos de Cabral no arquivo de Memória do Mundo e para a inclusão de 12 de setembro nos aniversários de personalidades apoiados pela organização.
O programa vai ser detalhado ao longo dos próximos meses, porque há mais colaborações em curso (por exemplo, com instituições de ensino superior) e "nunca houve tantas solicitações de publicação de obras de Amílcar Cabral" como agora, referiu o antigo chefe de Estado de Cabo Verde.
As comemorações estiveram no centro da discussão pública no país e na diáspora no final de 2023, depois de a maioria do Movimento pela Democracia (MpD, partido no poder) no parlamento ter "chumbado", em outubro, uma proposta apresentada pelo Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) para as comemorações.
O MpD alegou que, juridicamente, a resolução era o instrumento errado para o efeito, considerando que tal deveria ser suportado através de uma proposta de lei, apresentada pelo Governo, mas, no debate público, o caso ficou apontado como mais um episódio que reflete a polarização política do país.
Posteriormente, o primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, prometeu "dignidade e representatividade" nas comemorações do centenário do nascimento de Cabral.
Pedro Pires considerou hoje o "incidente parlamentar", como lhe chamou, um pormenor que não deve ofuscar "uma coisa maior" que são as comemorações, dando o assunto como ultrapassado, até porque o programa hoje apresentado em conferência de imprensa foi conversado num encontro com o primeiro-ministro, na segunda-feira.
"Não vejo o incidente só de forma negativa", referiu, considerando que ajudou a promover "mais trabalho autónomo" de diferentes organizações e apontou as celebrações do próximo sábado como sinal de que se "reduziu a dependência em relação aos governos", tanto em Cabo Verde, como na Guiné-Bissau.
Conosaba/Lusa
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