quinta-feira, 29 de junho de 2023

Autoridades são-tomenses proíbem vendas nas ruas da capital mas comerciantes resistem


As autoridades são-tomenses proibiram as vendas nas ruas da capital, mas muitos comerciantes não acataram a decisão e apontam "desorganização do processo" e "falta de segurança" no mercado de Bobô-Forro para onde devem ser transferidos.

"Cada dia que passa as pessoas estão a aumentar as suas vendas aí na praça, e algumas pessoas que estavam no mercado de Bobô-Forro, com uma certa razão, começaram a desistir do mercado de Bobô-Forro para venderem na cidade e isso está a criar um descontentamento muito grande junto das pessoas que ainda estão no mercado de Bobô-Forro e a criar descontrolo no nosso trabalho", disse o presidente da Câmara distrital de Água Grande, Tomé Lopes.

No início do mês de junho, o Governo são-tomense encerrou o mercado de Côco-Côco, no centro da cidade, e declarou a demolição da infraestrutura em risco de desabamento.

Tomé Lopes disse que prazo para transferência voluntária dos comerciantes do mercado do centro da cidade para o mercado de Bobô-Forro chegou ao fim na quarta-feira.

"Nós não vamos aceitar que as pessoas vendam na praça [...] se não houver resistência e alguma indisciplina e malcriadez das pessoas, Bobô-Forro é um mercado que tem espaço para toda a gente. Aquilo vai ser um verdadeiro centro comercial com muito movimento", disse o autarca de Água Grande.

No entanto, Tomé Lopes declarou que os comerciantes que estão nos pavilhões no rés do chão do mercado Côco-Côco, com portas para o exterior, terão ainda uma semana para abandonarem o local, mas advertiu que "aquele mercado vai ser demolido para evitar piores situações".

"A cidade precisa de alguma requalificação, o Governo está preocupado com isso e até tem um plano de requalificação da nossa cidade, para isso nós temos que ter a boa vontade de todos para que colaborem com as autoridades de modo a que a gente possa realmente ter uma cidade limpa, uma cidade acolhedora para o bem de todos nós", apelou Tomé Lopes.

Muitos comerciantes rejeitam a decisão das autoridades e continuam a vender nas barracas construídas nos arredores do mercado Côco-Côco e nas pequenas bancas móveis colocadas nos passeios da cidade, por considerar que o processo de transferência não está organizado.

"Eles não sabem quantas pessoas que vendem aqui nesse mercado [Côco-Côco], têm apenas número de mesas e barracas, mas esse número de barracas e mesas vêm de muito anos e já desapareceu. Agora tem nova geração de venda, novas pessoas que o Estado não conhece", disse Edilson Pereira, um sapateiro que trabalha há mais de 10 anos no mercado de Côco-Côco.

Para a vendera de hortaliças, Maria Alice, "Bobô-Forro não é suficiente para a população que está no mercado Côco-Côco porque lá não tem condições para o povo subir".

"Nós estamos aqui a desenrascar, aqui tem muita gente que vende roupa, comida, hortaliças [...] lá em cima [em Bobô-Forro] quando chove dentro de mercado enche como se fosse uma lagoa. Não podemos abandonar um posto de trabalho para ir para casa sentar. Temos filhos, temos crianças na escola para dar 'matabicho' [pequeno-almoço], almoço e jantar. Estamos aqui à espera para o Governo tomar uma decisão", acrescentou a comerciante.

Outros comerciantes apontam ainda a "concorrência desleal" no centro da cidade por parte dos médios e grandes empresários que vendem os mesmos produtos a retalho para a população, e as vendas de produtos hortícolas em carinhas de caixa aberta em várias partes da cidade, considerando que não justificará a ida de pessoas para compras em Bobô-Forro, a cerca de quatro quilómetros da cidade.

"Sou mãe de nove filhos, duas a estudar no estrangeiro. Aqui eu também sou mãe, sou pai [das crianças], eu venho vender, a polícia corre trás, [mas] toda a loja tem hortaliças, tem peixe, tem carvão, azeite, folha micócó, toda coisa, como é que os pequenos é que não querem para sobreviver?", reclamou a vendedora Isilda Silva.

Outro comerciante denunciou que "o mercado de Bôbo-Forro não tem segurança, não tem cercado, não tem nada".

Conosaba/Lusa

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