domingo, 25 de junho de 2023

"Dívida africana é ridícula" quando comparada com países do Norte

Carlos Lopes • RFI Português
O economista Carlos Lopes esteve na RFI para falar sobre a Cimeira para um novo Pacto Financeiro que decorreu em Paris. © RFI

No rescaldo da Cimeira para um Novo Pacto Financeiro Global, que decorreu em Paris, um dos temas mais debatidos foram as dívidas soberanas dos países mais vulneráveis, com Carlos Lopes, economista guineense, que esteve na capital francesa para seguir e aconselhar este encontro de líderes mundiais, a afirmar que as dívidas africanas "são ridículas", já que são apenas uma fracção das dívidas do Norte, mas que estes países têm mesmo assim dificuldades em financiarem-se nos mercados financeiros.

Mais de 40 líderes mundiais estiveram em Paris no fim desta semana para encontrar novas soluções para o finaciamento das economias em desenvolvimento, com alguns resultados importantes como a dotação de 100 mil milhões de dólares para um fundo verde e a doação dos direitos de saque do FMI dos países mais ricos para os países mais pobres. Um dos temas discutidos foi a dívida soberana dos países africanos que pesa nos orçamentos destes Estados, embora a nível global, pese muito menos do que as dívidas dos países do Nrote.

"Em todos os sentidos, a dívida africana é ridícula. Se tivermos em conta o que diz o banco responsável pela regulação mundial no sistema bancário, o Bank of International Settlements, há um fosso criado pela dívida soberana de 800 biliões de dólares onde os 800 mil milhões de África não são nada. E, depois para complicar as coisas, podemos olhar para a dívida em relação ao PIB e o rácio da África é muito baixo, é de 60%, a média dos países ricos é de 120%, portanto nós não somos os responsáveis principais pela dívida", explicou o economista Carlos Lopes.

Carlos Lopes esteve em Paris para acompanhar esta cimeira, tendo integrado também o grupo de 12 economistas que fizeram diversas propostas de estímulo da economia global de forma a financiar os países mais vulneráveis, que tê, ,ais dificuldades em apostar no desenvolvimento sustentável.Com o aquecimento global, o esconomisa defende que África está a passar um preço mais elevado do que a sua contribuição.

"Se seguirmos os relatórios científicos e compararmos com os montantes e atitudes dos diferentes países para poder dar satisfação à exigência de conter o clima e as mudanças climáticas em várias frentes, nomeadamente da temperatura, de 1,5 graus até 2050 não estamos nem perto dessa trajectória. A ideia é saber quem são os responsáveis. Os países africanos emitem cerca de de 3% das emissões totais e quando vemos a contribuição do continente para a captura do carbono, nós somos contribuintes da solução, não somos parte do problema e devíamos ser compensados por isso", defendeu.

Neste fórum, Carlos Lopes garantiu que as vozes dos países africanos e da América Latina se fizeram ouvir.

"Durante esta cimeira tivemos vozes estridentes a dizer basta, não queremos mais esta discussão. Tivemos o Presidente Lula, o Presidente Rutto do Quénia, o Presidente Ramaphosa da África do Sul, tivemos uma série de protagonistas africanos todos em sintonia, com a primeira-ministra dos Barbados, e, portanto, há grandes chances de este ano podermos chegar a alguns resultados importantes", declarou.

Conosaba/rfi.fr/pt/

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