quarta-feira, 27 de novembro de 2019

GEOGRAFIA ELEITORAL: COMO TERRITÓRIO INFLUENCIA DECISÃO DE VOTAR

Com o advento das Presidenciais de 24 de novembro deste ano, torna-se premente tecer abordagens que explicam o comportamento eleitoral. Desta vez trago um olhar do campo da geografia eleitoral para efeito de entendermos como o território influencia na decisão dos eleitorados, haja vista a existência de uma tendência histórica, da qual os eleitorados tendem a votar num/a candidato/a da sua região ou dela oriunda, os casos dos resultados de muitas eleições realizadas em Guiné-Bissau e a influência que alguns/mas candidatos/tas possuem em determinadas regiões evidenciam esta proposição desde multipartidarismo em 1994 até atualidade.
Considerando a acuidade da geografia eleitoral para efeito de entender a distribuição dos votos, alguns conceitos da geografia eleitoral são indispensáveis para incremento desta análise entre quais: o de “contexto social de vizinhança” invocado por Aleksei Zolnerkevic (2018), que nos lembra a forma como a aproximação e convivência social em termos geográficos (territoriais) entre um determinado grupo ou eleitorado com um certo candidato torna os primeiros propensos a votarem neste último. O mesmo autor propõe a “geografia das eleições”, na qual basicamente se faz mapeamento sistemático das eleições objetivando investigação dos padrões espaciais de votação, isto é, por meio deste mapeamento torna explicável os condicionantes de ponto de vista espacial que geram os votos.
Outro elemento importante é a “geografia da representação política”, introduzido por Castro (2005 apud Zolnerkevic, 2018, p.108), que atenta para fatores espaciais da representação política e da organização das eleições. Uma questão também pertinente nesta temática, segundo autor, envolve o uso do processo de territorialização do espaço como estratégia político-eleitoral dos candidatos preconizando estabelecer a “conexão eleitoral” entre candidatos e eleitores. Isso se dá através de monopólio social e político estabelecido num determinado território por um candidato, e, por conseguinte, acaba agregando a massa populacional a seu favor.
A partir deste conceito os candidatos elaboram seus planos de intervenção territorial tendo em vista uma análise racional a priori, que leva em consideração custo/benefício de suas intervenções em diferentes lugares, priorizando, deste modo, zonas com potencialidade eleitoral em grande proporção.
 Taylor e Johnston (1979) apud Zolnerkevic, 2018, p.108), evocam “a influência da geografia nas eleições”, demonstrando deste modo, o grau da influência do “contexto social” da geografia, nomeadamente a influência do território sobre o comportamento eleitoral, isto é, o contexto espacial a priori se encontra numa relação de influência reciproca com o sociocultural a partir da qual interfere nas decisões do sujeito.  Nesta ótica que, Pereira (2015), apresenta uma concepção de território como espaço político, ou seja, arena na qual desenrola as disputas para posse e controle do mesmo numa perspectiva geopolítica que pode ser nacional e local.
Com intuito de entender os efeitos do espaço sobre o comportamento eleitoral, o autor considera imprescindível o papel da cartografia no que tange a compreensão da distribuição espacial dos votos e das escolhas dos eleitorados. Em suma, o uso relacional destes conceitos nos proporciona um entendimento geral da influência de geografia na conduta do eleitorado.
Ou seja, por meio de conhecimentos geográficos, principalmente o da cartografia pode-se criar vínculos societários formando zonas de influência estratégica para criação de uma forma de “dominação” geopolítico e geoestratégico associado ao  slogan “espaço é poder” e o “espaço vital” do Ratzel (1906), nos é imprescindível atentar para acuidade em estabelecer o controle sobre o espaço, seja lá terrestre, marítimo e ou aéreo, visando à manutenção ou obtenção de várias vantagens tanto no âmbito político e na própria criação e monopólio das narrativas existenciais e hegemônicas.
Portanto, os conceitos ora trazidos visam nada mais que enfatizar a importância que o conhecimento espacial (geográfico e territorial) exerce no contexto de disputas políticas, daí que se considera necessário que os candidatos tenham um razoável arcabouço geográfico com vista a estabelecer suas influências regionais e provincianas, se atentando sempre para regiões ou provínciais com mais potenciais de eleitorados e daí estabelecer “conexões eleitorais” com eleitorados desta região.
Um caso prático são as frenéticas corridas dos partidos políticos e seus candidatos para um efetivo estabelecimento de conexão eleitoral com eleitorados da região de Gabú, Bafatá e Setor autônomo de Bissau, principalmente, e a trivial indicação de candidatos/as oriundos/as destas localidades para círculos eleitorais destas regiões. Isso não vem do acaso, tem tudo a ver com o potencial dos eleitores que constituem esses territórios e identificação destes com seus candidatos a partir de questão territorial, em contraposição aos triviais argumentos que vincula essas pretensões aos fatores eminentemente “étnicos”.
Assim sendo, espera-se que, sempre que se busca uma compreensão menos simplista da decisão dos eleitorados no quesito voto, se atenta para uma visão analítica mais holística e aprofundada, visto que, as decisões dos eleitorados no que tange ao voto é sempre decorrente de vários fatores: socioculturais, psicológicos, econômicos e no caso em análise, dos fatores geográficos (territoriais).

Nha mantenhas di paz!
Por: Nando Paulo Suma
Bacharel em Humanidades e Licenciando em Ciências Sociais na UNILAB
São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. 22/11/2019

Referências:
 PENHA, Eli Alves. “Geopolítica das Relações Internacionais”, In: LESSA, Mônica Leite e GONÇALVES, Williams da Silva (orgs.). História das Relações Internacionais. Teoria e Processo. Rio de Janeiro, Eduerj, 2007.
PEREIRA, Bruno Magnum. Análise espacial do voto: uma contribuição da cartografia. Disponível em <http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal14/Nuevastecnologias/Cartografiatematica/08.pdf> Acesso em 10.09.2019
RIBEIRO, Guilherme. Geografias Imperiais: o caso de Halford John Mackinder (1861- 1947)”, Geo- graphia, UFF, 2014.
ZOLNERKEVIC, Aleksei: A influência da geografia no comportamento eleitoral: contexto social de vizinhança. Revista brasileira de geografia, Rio de Janeiro, v. 63, n. 2, p. 108-119, jul./dez. 2018


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