segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

«OPINIÃO» "A NECESSÁRIA INDEPENDÊNCIA DE QUE NOS TEM PRIVADO O PAIGC." DR. JORGE HERBERT

“A minha independência tem algemas.”

Manoel de Barros (poeta brasileiro)

“Pó, tudo tarda ki tarda na mar i ka ta bida lagarto”.

José Carlos Schwarz (poeta e músico guineense)

Os povos que povoam o território a Guiné-Bissau desde sempre lutaram pela defesa do seu território contra invasores estrangeiros, até aparecer um grupo de nacionais chefiados por um Engenheiro Agrónomo que conseguiu mobilizar apoios externos e sensibilizar a população para uma luta mais organizada com o objetivo de pôr fim à colonização portuguesa. Só que, essa luta armada, apesar de ter logrado o seu objetivo principal, criou conflitos graves e insanáveis no seio do partido que organizou uma luta da qual ainda hoje a Guiné-Bissau sofre as suas consequências.

Os que assumiram o poder vinham mal preparados para o exercer e concentraram-se apenas nas regalias que esse poder lhes atribuía, deslumbrando-se com a possibilidade de viverem em espaçosas casas, andar de carros equipados de ar condicionado e vidros escuros, etc, etc.

Logo aperceberam-se do impacto e das potencialidades económicas que o sucesso da luta teve nos países amigos, que os financiamentos dos projetos de desenvolvimento não tinham limites nem controlo, ao ponto de sermos considerados um dos países de África que mais ajudas externas recebeu, mas que infelizmente não se traduziu no nosso desenvolvimento efetivo, mas sim no nosso atraso e na ocupação de um dos piores lugares nos índices de Desenvolvimento Humano (IDH).

Os que dizem terem sido nossos libertadores, apercebendo-se das regalias que o poder lhes atribuía e do potencial económico do país que tinham em mãos, rapidamente se organizaram de forma a serem eles, os seus familiares e pessoas do círculo das suas confianças a controlarem o país, os financiamentos externos e as consequentes regalias. Como já tinham trazido conflitos gerados numa luta que foi armada e violenta, esse fluxo de investimento externo no país, serviu também para ampliar ainda mais a fissura já existente entre os seus membros e incrementar a violência entre eles, ao ponto de contaminar a sociedade guineense, com golpes de Estado, atentados, intentonas e assassinatos ao ponto de fazerem parte de uma rotina cíclica do país, até as últimas eleições de 2014.


Dessa forma, os membros do PAIGC que conseguiram sobreviver aos inúmeros golpes, atentados, intentonas, espancamentos e assassinatos, desde os mais destacados até aos que chamo de “cães de fila” (raça canina Açoriana, muito utilizada para a guarda e guia do gado bovino), habituados a viverem de uma forma luxuosa (os mais destacados) ou até confortável com base em migalhas que vão caindo de cima (os “cães de fila”), sem grandes esforços, preocupando-se apenas com as calúnias certas e oportunas e, ainda, adequadas manipulações dos militares, têm dificuldades em conceberem e aceitarem a ideia do PAIGC (o garante dos seus luxos e das suas subsistências) ser arredado do poder por muito tempo, porque obviamente significaria remeter a maioria deles para a miséria humana, porque não estão habituados ao trabalho sério e árduo, a produzirem algo de útil que lhes permita sustentar as suas famílias e os seus luxos, se não for através de nomeações para algum cargo do funcionalismo público que, quanto mais próximo do fluxo monetário do erário público, melhor.

Por essa total dependência ao fluxo monetário do erário público, outras ajudas paralelas e negócios que o poder político e executivo lhes habituou, o PAIGC apercebeu-se que a melhor forma de sobrevivência do seu clã é fazer refém o país. Usaram e abusaram da proximidade e confiança dos militares e selecionaram apenas os seus filhos, os seus militantes e algumas pessoas da confiança política do partido, para o acesso à formação superior no exterior através de bolsas de estudo disponibilizado pelos países amigos, tentando manter o povo no obscurantismo com o degradar progressivo do sistema de ensino no país e dessas formas assegurar-se por longo tempo no poder e, ainda, garantir uma sucessão quase monárquica do poder, conforme os que foram a luta for se extinguindo com a idade. É nesse contexto que se formou o atual líder do partido e muitos dos atuais dirigentes e apoiantes fervorosos do partido. Não contaram foi com aqueles que, pelos seus próprios meios e alguma ajuda familiar, tiveram que arregaçar as mangas e procuraram outros destinos para perseguirem o sonho da formação superior, nem tão pouco com aqueles que, tendo partido do seio do próprio partido, afirmaram-se como excelentes quadros técnicos e superiores, capazes de conquistarem às suas autonomias, sem colaborarem nem serem conotados com o crime organizado que esse partido vinha exercendo. Ainda houve aqueles que, não se conformando com o obscurantismo e a miséria a que essa organização criminosa conduziu o país, emigraram e afirmaram-se profissionalmente nos países acolhedores, sem qualquer formação superior nem técnico, mas com consciência clara de como contribuir para o desenvolvimento da sua pátria.

Alguns destes que descrevi no parágrafo anterior, até fizeram parte de uma forma ou outra da organização criminosa, mas ganharam consciência da dificuldade ou impossibilidade de promover mudanças positivas no partido no qual se filiavam, optaram por demarcar-se para não serem conotados com o crime organizado. Houve outros que bateram o pé dentro do próprio partido, para conseguir a mudança e tocou-lhes a sorte da expulsão, sem terem sido espancados ou mortos, como aconteceu com os malogrados Viriato Pã, Roberto Cachéu e outros.

São estes descontentes e desertores da organização criminosa que continuam a debater-se para conseguir desalojar e afastar o PAIGC do poder e do centro das decisões políticas e económicas do país, para podermos um dia conseguir a tão desejada independência com a qual Cabral tanto sonhou.

Enquanto tivermos o PAIGC ligado ao poder, é difícil conseguirmos ter umas eleições verdadeiramente livres e justas e nunca trilharemos a rota do desenvolvimento, nem seremos um povo de livre pensamento e ação, como sonhou um dia Amílcar Cabral e colegas.

Por outro lado, se um dia conseguirmos lograr esse feito de afastar verdadeiramente o PAIGC do centro do poder, o país terá de encontrar a solução por um problema que foi criado nessas quatro décadas e meio, que é a reorientação e reintegração profissional dos elementos do PAIGC que nunca trabalharam de forma independente, sem estarem ligados ao funcionalismo público, através dos poderes que o partido sempre lhes concedeu. É óbvio que sempre podem conseguir o bónus de lecionar cadeiras de utilidade duvidosas, numa qualquer Universidade privada nas terras lusas, com o alto patrocínio dos lobbies lusos que lhes vão enfeitando de títulos académico para enganar os “pretos”…

A verdadeira independência tardará a chegar, uma vez que o próprio PAIGC empurrou o país para o atraso de desenvolvimento, para a total dependência económica externa e hoje até para uma quase total dependência política e até jurídica do exterior, estando um país pelo qual muitos deram a vida para a sua independência, totalmente dependente de decisões de entidades externas e imposição de líderes executivos de países com interesses externos sobrepostos aos verdadeiros interesses nacionais.

Hoje, o PAIGC na sua eterna manobra dilatória a que nos acostumou, sempre com o intuito de intrujar aqueles a quem privaram da escolaridade e consequentemente do exercício intelectual, vem apresentar-se agora como um partido renovado, com um líder que passou quase toda a sua vida adulta no PAIGC, exercendo até de cargos públicos e usufruindo das regalias que os desmandos e barbaridades que esse partido vinha cometendo, sem nunca se manifestar oponente das referidas barbaridades, assim como muitos hoje aglutinados à sua volta, desde Manecas dos Santos que chegou a prever recentemente estarem criadas condições para efetivação de um golpe de Estado no país, ao respeitado mas sempre fiel ao partido Carlos Correia, à Adiatu Nandigna, ao António Óscar Barbosa e Camilo Simões Pereira, entre outros, aparentemente todos eles renovados mas fieis aos princípios e manobras que sempre orientou e sustentou o partido, para não falar dos filhos daqueles sempre fieis ao parido que já não estão entre nós...

Ou o povo acorda e encete uma verdadeira revolução de consciências, ou efetivamente a independência tardará a chegar.

FELIZ 2019 A TODOS OS GUINEENSES QUE NUNCA COLABORARAM COM OS CRIMES CONTRA A HUMANIDADE. QUE O PAIGC VEM COMETENDO AO LONGO DOS 45 ANOS DE EXISTÊNCIA COMO PAÍS INDEPENDENTE.

Jorge Herbert

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