sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Analista Abdu Jarju: “QUALQUER OBSERVADOR ATENTO À CENA POLÍTICA GUINEENSE DEVE ESPERAR UMA CRISE PÓS-ELEITORAL”


O Professor universitário e especialista em segurança e relações internacionais, Abdu Jarju, afirmou que “qualquer observador atento à cena política guineense deve esperar uma crise pós-eleitoral”.

“Os dois candidatos favoritos já declaram a vitória e nesta circunstância a eventualidade de confronto aparece evidente”, reforçou.

Para o professor universitário, ‎são fenómenos preocupantes, sobretudo num sistema “político infiltrado” pelos “barões de droga” fica vulnerável à violência, porque os interesses mencionados revelados ao longo do processo vão além daqueles que são evidentes aos olhos dos eleitores e do povo guineense, como também há outros ocultos que são mais exigentes e são estes que motivam apoios aos candidatos.

ESPECIALISTA CRITICA DISCURSOS RELIGIOSOS OU ÉTNICOS FEITOS PELOS CANDIDATOS

“Se observares os comícios realizados pelas duas coligações sem análise aprofundada, podes pensar que há um equilíbrio entre os dois protagonistas políticos, não. Mas devo dizer que em análise política, deve-se pensar nos eleitores silenciosos que não participam nos comícios e que são estes que fazem a diferença na votação”, alertou.

O especialista em segurança e relações internacionais disse em entrevista ao jornal O Democrata que os comícios não são indicadores determinantes de uma vitória, por haver diferentes motivos que levam as pessoas a participarem nos comícios.

‎Admitiu que os parceiros têm sempre um papel importante na validade e credibilidade de qualquer eleição sub-regional, sobretudo a CEDEAO- Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, razão pela qual o apoio da comunidade internacional depende em grande parte dos relatórios dos observadores.

“A pressão internacional aos candidatos é determinante e, sobretudo, quando o país é economicamente frágil e depende desta comunidade internacional”, afirmou.

‎Instado a pronunciar-se sobre os discursos que têm sido usados ao longo da campanha, Abdu Jarju afirmou os candidatos não deveriam ter recorrido a discursos religiosos, étnicos ou de incitação à violência para a buscar votos, porque uma vez que as eleições são ganhas o vencedor terá a tarefa de procurar a adesão de todo o povo ao seu programa de construção do país e “isso será muito difícil”.

“Tudo isso revela que os níveis dos discursos na presente campanha eleitoral não apenas são perigosos, como também amedrontam qualquer um que quer a paz. Vão permitir a polarização da sociedade, fonte de conflitos sociais”, alertou.

Disse acreditar que os apelos feitos pela sociedade civil guineense nestas eleições não terão impacto nenhum, porque todos os candidatos não prestam atenção a esses apelos, por fragilidade da própria sociedade civil que tem meios para as atividades da educação cívica a longo prazo e os apelos circunstanciais não impactam muito.

Abdu Jarju sublinhou que uma sociedade sem justiça vai sempre viver na repetição dos mesmos crimes e por consequente permanecerá na instabilidade.

“Nota-se que estes mesmos temas são abordados recorrentemente nas campanhas eleitorais e depois os que os abordaram, uma vez no poder engavetam-nos até às eleições seguintes”, referiu, o que, na sua observação, cria rotura, uma distância entre o que os políticos prometem nas campanhas eleitorais e as promessas que cumprem.

“Infelizmente, o povo inconsciente é arrastado nesse debate inútil que não contribui em nada na sua vida do dia-a-dia. Nenhuma iniciativa, se as coisas continuarem assim e como estão, de reconciliação nacional terá resultados na Guiné-Bissau, porque antes de qualquer reconciliação, deve haver justiça para situar as responsabilidades de cada”, afirmou.

Por: Assana Sambú/Filomeno Sambú
odemocratagb

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