quinta-feira, 1 de junho de 2023

Gorro vermelho de Kumba Ialá passado oficialmente para líder do PRS

O gorro vermelho com que o ex-presidente guineense Kumba Ialá ficou celebrizado foi entregue oficialmente, pela família, ao novo líder do Partido da Renovação Social (PRS), Fernando Dias, disse à Lusa este político.

Presidente da Guiné-Bissau entre 2000 e 2003, até ser derrubado por um golpe militar, Kumba Ialá faleceu em 4 de abril de 2014, de doença súbita, mas desde aquela altura questionava-se na comunidade balanta – a sua etnia — quem é que iria herdar o seu tradicional gorro vermelho.

Na Guiné-Bissau esse gorro é também designado de barrete vermelho.

No início da campanha eleitoral para as legislativas do próximo domingo, o atual presidente do PRS, Fernando Dias, 44 anos, também de etnia balanta, aparecia em público com um gorro vermelho igual ao de Kumba Ialá, mas nos últimos dias já se exibia com um gorro visivelmente antigo.

Questionado pela Lusa sobre a origem do gorro que estava a usar ultimamente, Fernando Dias explicou que era aquele que Ialá utilizava na cabeça nas suas aparições em público e que lhe foi entregue oficialmente pela família do defunto presidente do PRS.

Fernando Dias considera-se formalmente substituto político do antigo Presidente guineense por ter feito o ‘fanado’ – ritual de passagem à fase adulta conforme é da tradição da etnia balanta.

“Por ter cumprido com essa tradição, agora o barrete vermelho que ele usava foi transferido para mim. É sinal de que sou o sucessor político natural do doutor Kumba Ialá”, observou Fernando Dias.

O dirigente político sublinhou que a decisão de herdar o gorro de Ialá “foi unânime” por parte da família do ex-líder do PRS e que mereceu a concordância de toda a comunidade balanta.

Mesmo não sendo candidato ao cargo de primeiro-ministro pelo PRS — o cabeça de lista é Florentino Mendes Pereira –, Fernando Dias aparece sempre de gorro vermelho nas ações de campanha eleitoral pelo país.

Este jurista de formação, mas político desde os 18 anos, não sabe explicar o que tem o gorro que herdou de Kumba Ialá, mas sente-se uma pessoa diferente quando o coloca na cabeça.

“Eu não sei o que tem aquele barrete, só sei que vou ter de agradecer e honrar esse barrete”, destacou Fernando Dias, numa conversa na sua residência no bairro de Ajuda, em Bissau, a escassos dez metros da primeira sede nacional do PRS.

Com o uso do gorro vermelho, a pessoa passa a ser considerada ‘Lante Ndan’ (homem grande), alguém que já pode assumir responsabilidades, fazer compromissos e participar nos rituais de vida e de morte na comunidade balanta.

A chegada de um chefe político, neste caso de Fernando Dias, a qualquer comunidade balanta deve ser anunciada aos demais ‘Lante Ndan’ através do toque do bombolom.

Para mostrar a sua condição de ‘Lante Ndan’, recomenda-se que o próprio toque o bombolom. A comunicação entre os balantas, como na maioria dos povos autóctones guineenses, faz-se através de instrumentos de som, podendo ser chifre de animal, tambor, flauta ou bombolom.

Conosaba/Lusa

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