sábado, 21 de julho de 2018

SUNDIATA KEITA: O LENDÁRIO "REI LEÃO" QUE GOVERNOU O IMPÉRIO DO MALI

Sundiata Keita unificou os reinos da África Ocidental que pertenciam ao povo Mandingo
Tendo nascido com um problema físico que o impedia de andar, Sundiata Keita superou a sua deficiência para unificar os reinos fragmentados da região e criou o vasto Império do Mali. Ficou no poder quase 20 anos.


Sundiata Keita é uma figura heróica que ainda hoje é elogiada nas canções dos griots, contadores de histórias tradicionais da África Ocidental. De acordo com a tradição oral, Sundiata Keita nasceu com um problema físico que o impedia de andar, e que superou graças à sua determinação (e alguma feitiçaria). Tornou-se um grande caçador, um poderoso guerreiro e um estratega militar hábil que unificou os reinos da África Ocidental que pertenciam ao povo Mandingo, também conhecido como Mandinka ou Malinke.

Nasceu: por volta do final do século XII no canto noroeste da atual Guiné. Sundiata era filho de um rei. Enquanto vivia no exílio (não se sabe por que razões), ele reuniu chefes de Mandingo para, juntos, combaterem contra o cruel Rei do Sosso, outra tribo da África Ocidental que havia conquistado muito território Mandingo. Por volta de 1235, Sundiata Keita liderou os chefes numa batalha decisiva e venceu. A vitória marcou o início do Império do Mali.

Reconhecido: por várias razões. Em primeiro lugar, é visto como tendo sido o alicerce do Império do Mali, que se estendia da costa da África Ocidental para o rio Níger e além. Era um dos maiores impérios africanos.

Acredita-se também que Sundiata Keita tenha introduzido um sistema de governo central e unificado dezenas de diferentes grupos étnicos que viviam dentro do império - o que garantiu a futura unidade do Império do Mali e ajudou na sua prosperidade. Sundiata Keita atribuiu terras, direitos e deveres a todos. Diz-se que proclamou, em Kurukan Fuga, a "Carta do Mandinga", considerada uma das primeiras declarações de Direitos Humanos no mundo (embora em forma oral).

Sundiata Keita ficou ainda conhecido pelo seu caráter e determinação. Conta a lenda que, depois de ter visto a sua mãe ser humilhada, o jovem, que nasceu com uma deficiência motora, conseguiu andar para a defender.

Sundiata Keita existiu mesmo?
Também conhecido como o "Rei dos Reis" ou o "Rei Leão", Sundiata Keita é aquilo a que se chama uma figura semi-lendária. Fontes escritas, principalmente de comerciantes e viajantes árabes, parecem verificar a sua existência, mas são escassas, deixando os historiadores dependentes da informação proveniente dos contos orais dos griots. Os contos, que foram passados de boca em boca desde o século XIII, antes de serem escritos por estudiosos franceses na década de 1890, sofreram variações. Além disso, existe uma possibilidade de que os fracassos do imperador tenham sido negligenciados para que subsistissem apenas os seus louvores.

Sundiata Keita é ainda hoje muito prestigiado, quer no Mali, quer nos países vizinhos. Segundo a tradição oral, Sundiata nasceu com um problema físico, no entanto, tornou-se um guerreiro. Foi exilado, mas voltou com um poderoso exército para lutar pela sua terra natal. Conhecido também como "Rei Leão”, unificou os clãs da tribo Mandingo e fundou o império medieval do Mali.

Sundiata Keita "era o maior entre os reis", dizem os griots. Mas era também um grande caçador, guerreiro e político, acrescentam os historiadores que analisaram os contos dos griots. Um desses historiadores, Seydou Camara, também professor de História na Universidade de Bamako, no Mali, explica, em entrevista à DW, que Sundiata Keita unificou o Reino Mandingo. "O Mande era composto de clãs. Havia o Traoré, o Keita, o Camara, o Koné e assim por diante. Sundiata trouxe de novo a paz ao seu país. Incentivou a agricultura e o comércio. Ele desejava conceber um grande império: um império vasto, desenvolvido, unificado, forte e próspero. Era esse o seu sonho", explica.

Um olho em todos os setores

O "Rei Leão" ficou quase 20 anos à frente do seu império e, não só desenvolveu o comércio e a agricultura, como também se opôs à escravidão e práticas de comércio humano. E não só. Segundo o historiador Seydou Camara, Sundiata "promulgou leis sobre a proteção da natureza e a preservação do estatuto social, leis sobre mulheres, estrangeiros, deveres e sobre direitos".

Sundiata não teve uma infância fácil. Apesar de ser filho de um rei, nasceu com uma deficiência motora que o impedia de andar e era odiado por um dos seus irmãos mais velhos. No entanto, o facto de ser diferente e de ter nascido com uma debilidade física nunca foi para ele um problema - o que para os "griots" era um sinal da sua força moral.

Factos vs Ficção
Nos seus contos, o sobrenatural desempenha um papel importante. Prova disso é a descrição do dia em que Sundiata caminha pela primeira vez. "Depois de recuperar a respiração, o filho do rei deixou cair a bengala. A multidão ficou de um lado e os seus primeiros passos foram de um gigante. Abram alas, abram alas, abram alas, o leão está a andar, disse a multidão", lê-se.

Falar de Sundiata Keita é ter presente a dificuldade de separar os factos da ficção. Como explica Seydou Camara, há que em conta e perceber quais os contornos da tradição oral. "A história é mantida através da memória. Mas sabemos que a memória é frágil e as tradições orais também podem concentrar os acontecimentos de vários séculos num único século, numa única pessoa. Estes são os obstáculos que se enfrentam quando o assunto é a tradição oral", explica.

Um ponto em que as diferentes versões da história parecem concordar é que foi por volta de 1235 que Sundiata Keita derrotou o Rei Sosso, Soumaoro Kanté, abrindo caminho para a instauração do Império do Mali. Um ano depois, os 12 reinos da África Ocidental estavam unidos.

A Carta do Mandinga, considerada pela tradição oral a Constituição do Império do Mali, foi incluída na lista do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 2009. O legado de Sundiata Keita, o "leão Mandingo", sobreviveu ao longo dos tempos.

Tamara Wackernagel, Sidiki Doumbia e Philipp Sandner contribuíram para este trabalho. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

Conosaba/DW/https://tchogue.blogspot.com


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