O vice-presidente da Associação dos Estudantes da Guiné-Bissau em Dakar, Nabape Gael Gomes, revelou que os estudantes se sentem discriminados tanto na sociedade senegalesa como no meio escolar, adiantando que tal descriminação deve-se à passividade da representação diplomática da Guiné-Bissau naquele país, porquanto os estudantes de outras nacionalidades são bem tratados e acolhidos pelas autoridades senegalesas.
Em entrevista ao semanário O Democrata em Dakar, Nabape Gael Gomes denunciou que, mesmo com os documentos válidos, os estudantes são presos e passam a noite nas celas sem as mínimas condições, são obrigados a pagar 6 mil francos cfa para serem libertados.
ASSOCIAÇÃO REGISTA MAIS DE DOIS MIL ESTUDANTES QUE FORMAM EM GESTÃO, ENGENHARIA E CONTABILIDADE
“Mesmo com o nosso cartão consular e passaporte, às vezes, se passa da meia noite, os policias detêm-nos e leva-nos para uma cela sem condições e de manhã, para sermos postos em liberdade somos obrigados a pagar 6 mil francos cfa. Mas os estudantes de outras nacionalidades circulam sem problemas. Não sabemos o que devemos fazer. O assunto é do conhecimento da embaixada da Guiné-Bissau. Mas até hoje, não resolveram essa e outras questões”, disse Gael Gomes.
Segundo o vice-presidente da Associação dos Estudantes da Guiné-Bissau em Dakar, a maior parte dos estudantes guineenses está em Dakar por conta própria, sem bolsa de estudos, afirmando que as despesas dos estudantes rendem muito ao Estado senegalês.
“Temos cerca de 2 mil estudantes aqui, em Dakar. A maioria faz cursos de gestão, engenharia, contabilidade, marketing, seguros e jornalismo. O curso é caro no Senegal. Rendas, propinas, transporte, água e luz também são caras. O Estado guineense perde milhares de francos cfas. O dinheiro que os nossos pais nos enviam é investido em Dakar” disse, apelando ao governo a assinar acordos que permitam o envio de bolseiros para Senegal, tal como acontece com a Guiné- equatorial, Gabão, Congo e Costa de Marfim. Esses países enviam bolseiros para a Universidade Cheikh Anta Diop e estes recebem subsídios mensalmente para cobrir as suas despesas.
Pediu também ao governo alternativas públicas locais do Ensino superior para poder minimizar as dificuldades com que se deparam os estudantes guineenses na diáspora.
“Outra dificuldade prende-se com a língua. Antes de entrarmos na Universidade, somos obrigados a estudar Francês durante 10 meses. Alguns terminam com sucesso, outros não conseguem. Por isso, a Associação, através do departamento académico, promove aulas de reforço, três vezes por semana”, explicou.
Acusou ainda a representação diplomática de beneficiar os emigrantes guineenses em Dakar em detrimento dos estudantes.
“A embaixada cobra o cartão consular a 2500 fcfa aos estudantes e os emigrantes pagam 5000 fcfa. Uma parte do dinheiro dos Estudantes é destinada à Associação de Emigrantes. Acho que a embaixada deveria preocupar-se connosco, resolvendo os assuntos acadêmicos e os constrangimentos das detenções arbitrárias que, às vezes acontecem, mas ela se preocupa mais com os emigrantes” acusou Gael Gomes.
Outra preocupação tem a ver com o reconhecimento dos seus certificados de curso pelo Ministério da Educação Nacional. Gael informou que, quando chegam ao país, levam muito tempo até receberem os seus documentos reconhecidos pela direção geral do Ensino Superior, sublinhando que já abordaram o assunto com o embaixador da Guiné-Bissau no Senegal.
Gael Gomes reconheceu que as constantes instabilidades políticas na Guiné-Bissau têm afetado negativamente a vida dos estudantes guineenses no Senegal.
“Por exemplo, os últimos acontecimentos de 1 de fevereiro. Alguns estudantes ficaram por alguns dias sem receber o dinheiro para pagar as despesas. Quando há turbulência, os nossos pais não conseguem enviar-nos o dinheiro, e se o governo não paga os salários a tempo, ficamos também afetados. Portanto, é preciso que haja entendimento entre os atores políticos no país” apelou.
Por fim, Nabape Gael Gomes pediu ao Ministério da Educação Nacional que aumente as horas letivas das disciplinas de Matemática, física e Química para duas horas, ao em vez de 45 minutos, por forma a permitir que os alunos assimilem a matéria e possam competir com estudantes de outras nacionalidades, tendo apelado, por outro lado, aos estudantes a fazerem cursos ligados às potencialidades do país, assim como os que permitem o auto emprego, porque a maioria dos estudantes que termina o curso não consegue empregos na Guiné-Bissau.
“É preciso a definição de uma política de emprego no país. Muitos estudantes chegam ao país e não conseguem emprego. Esses estudantes são explorados por algumas empresas. Como é possível um formado estagiar numa empresa por 5 ou 6 meses sem que seja contratado ou efetivado? Acho que é preciso o envolvimento do Estado para resolver essa situação. Enquanto o Estado não resolver essa situação, aconselho os meus colegas a fazer os cursos que nos permitam o auto- emprego” concluiu.
Por: Tiago Seide
Foto: T.S
Conosaba/odemocratagb
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