Brasil e China no bom caminho. Índice Global da Fome de 2020 revela ainda muitos problemas em 51 países
A décima quinta edição do Índice Global da Fome (GHI na sigla inglesa) apresenta algumas melhorias em diversos países desde o início do milénio, contudo, o Objetivo Fome Zero em 2030 parece estar fora do alcance se não ocorrem reformas profundas e drásticas nos diversos sistemas alimentares. Além disso, o contexto de pandemia atual pode mesmo duplicar o número de pessoas expostas à fome.
Atualmente, a situação é classificada como moderada, enquanto que no ano de 2000, a situação era considerada grave. No entanto, a média agora consguida não contempla os desafios sérios e persistentes que muitos países e regiões enfrentam, bem como o potencial da situação piorar no futuro.
Nos países de língua portuguesa, os problemas também são grandes. Em Timor-Leste, que apresenta uma insegurança alimentar crónica, a produtividade agrícola é baixa e o consumo alimenta é inadequado. Muitas pessoas dependem de estratégias de subsistência únicas e de baixo valor. Infraestruturas básicas de saneamento, água potável, estradas, irrigação, escolas e saúde são precárias, assim como o nível de capital financeiro e humano do país. Estima-se que 30,9% da população esteja subnutrida e que a mortalidade infantil esteja na ordem dos 4,6%.
O mesmo parece acontecer na Guiné-Bissau onde, apesar de não se ter conseguido reunir todos os dados para calcular o GHI do país devido à pandemia de Covid-19, a situação está classificada como séria. A informação relativa à percentagem de subnutrição na população de Guiné-Bissau não foi revelada. Estima-se que a mortalidade infantil esteja nos 8,1%.
Angola e Moçambique mostraram alguns progressos em relação a 2000. Ainda assim, em ambos os países lusófonos a situação é considerada séria quando era extremamente alarmante no passado. Estima-se que, em Angola, 18,6% da população seja subnutrida e que a mortalidade infantil esteja no 7,7%. Já em Moçambique estima-se que 32,6% da população esteja subnutrida e a mortalidade infantil encontra-se nos 7,3%.
Melhorias significativas apresentaram o Brasil e a China nos últimos 20 anos. Hoje, em ambos os gigantes, a fome é considerada baixa, embora, no caso do país da América do Sul exista uma grande parte da população a viver em condições de pobreza consideradas preocupantes. No Brasil, 2,5% da população é subnutrida e a taxa de mortalidade infantil é de 1,4%. A China, por seu turno, menos de 2,5% da popução é subnutrida, sendo que a mortalidade infantil se situa na ordem dos 0,9%. O pior desempenho do país está no crescimento das crianças onde 5,5% apresentam um desenvolvimento inadequado.
Portugal, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde não estão contemplados no índice apresentado esta semana.
Pandemia de Covid-19
Em muitas áreas o progresso tem sido lento e a fome continua a preocupar. É importante entender que o impacto da Covid-19 não foi contemplado neste estudo, e a pandemia apenas regrediu o progresso que havia sido concretizado até agora.
As medidas tomadas em todo o mundo para conter a propagação da Covid-19 aumentaram a insegurança alimentar. Os entraves no acesso aos campos e mercados em algumas regiões criaram picos localizados nos preços dos alimentos e reduziram as oportunidades de capitalização, limitando a capacidade das populações mais vulneráveis de comprar alimentos.
A pandemia também está a afetar a nutrição – por exemplo, escolas foram fechadas em vários pontos durante 2020, impedindo o acesso a refeições nutritivas para várias crianças que dependiam desse apoio. Além disso, dadas as conexões estabelecidas entre o crescimento do produto interno bruto (PIB) e a segurança alimentar – e, inversamente, a contração do PIB e a insegurança alimentar – a recessão económica global resultante da pandemia pode deixar até 80 milhões de pessoas subnutridas apenas nos países importadores de alimentos.
Para cada ponto percentual de queda no PIB global, estima-se que 700.000 crianças adicionais sofram de baixa estatura, um sintoma de desnutrição crónica. A contração económica associada à pandemia pode aumentar em 6,7 milhões o número de crianças que sofrem de definhamento, indicando desnutrição aguda, em países de baixa e média renda. Quase 130.000 mortes infantis adicionais associadas a este aumento na perda de crianças e reduções induzidas por pandemia em nutrição e serviços de saúde também podem ocorrer.
Quais são os indicadores?
O GHI compilado pela Welthungerhilfe e Concern Worldwide é um dos principais relatórios internacionais para a medição multidimensional da fome no mundo. A décima quinta edição foi apresentada esta segunda-feira. O GHI é um instrumento desenvolvido para medir e monitorizar a fome em nível global, regional e nacional, com base na análise de quatro indicadores: desnutrição, emagrecimento infantil, atraso do crescimento infantil e mortalidade de crianças com menos de cinco anos. Com base nos valores dos quatro indicadores, o GHI determina a fome numa escala de 100 pontos, onde 0 é a melhor pontuação possível (sem fome) e 100 é a pior. A pontuação GHI de cada país é classificada por gravidade: de baixa a extremamente alarmante.
O índice deste ano revela que, a nível global, a fome está num nível moderado, comparativamente a vinte anos atrás, mas a fome e a subnutrição ainda são elevadas em muitos países: 11 países têm níveis “alarmantes” de fome e cerca de 40 países pertencem à categoria “grave”. De acordo com as agências das Nações Unidas, quase 700 milhões de pessoas estão subnutridas, das quais 144 milhões são crianças que sofrem de atraso no crescimento e 47 milhões de emagrecimento.
O sul asiático e a África subsariana são as regiões com os níveis mais elevados de fome, com 230 e 255 milhões de pessoas subnutridas, respectivamente. Nestas áreas, uma em cada três crianças sofre de atraso no crescimento. A África subsariana tem a taxa de mortalidade infantil mais elevada no mundo, enquanto o sul asiático tem a taxa de subnutrição infantil mais elevada do mundo. Os 11 países onde o nível de fome é alarmante são a República do Chade, Timor-Leste, Madagáscar, Burundi, União das Comores, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Síria, Somália, Sudão do Sul e Iémen.
Conosaba/plataformamedia
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