Começaram as aulas com um autêntico contrassenso dos sindicatos dos professores na sequência da resposta ao ministério da educação. O ministério da educação através do seu ministro, Arsênio Jibrilo Baldé, vem preenchendo o seu histórico com a caneta vermelha. O ministro declarou, em uma entrevista, que o presente ano letivo, o qual teve início no passado cinco de outubro do ano em curso, terá os dias letivos até o sábado. No desabafo dessa afirmação, veio a fala sorumbática do porta-voz dos quatro sindicatos, perguntando o que receberão com a ida às escolas nos sábados:
"Quanto é que cada
professor tem que ganhar, em contrapartida de dar aulas aos sábados? quem (sic)
sabe? Os colegas que me rodeiam não sabem e é um trabalho para qual nós estamos
abertos. Não estamos a favor e nem
contra, até quando sentarmos, negociarmos e sabermos quais os benefícios para
os professores, porque normalmente, o sábado não é o dia de trabalho, sobretudo
para a área da educação”
É bom frisar que não estou contra as reivindicações que os sindicatos vêm fazendo. Porém, num país como a Guiné-Bissau, sem o patrono da educação que inspira o compromisso sério com a pedagogia, a tarefa de garantir a boa qualidade do ensino acaba sendo uma responsabilidade do corpo docente, na medida em que são profissionais com a ciência daquilo que a educação representa para a estrutura social de um país. A meu ver, diante deste cenário proposto pelo ministério da educação, a preocupação dos(as) professores e professoras não deveria se centrar no ganho imediato, quer dizer, a curto prazo, mas sim em uma política educacional que extinguisse a desigualdade e que edificasse uma educação séria, capaz de preconizar (re)formulação das metodologias que proporcionem a formação dos indivíduos novos com uma excelente massa crítica.
É inegável a perversa condições de trabalho a que professores e professoras são submetidos(as), recebendo um salário que, além de miserável, nem sempre lhes chega às mãos no tempo e hora. Sem mencionar a elevada degradação das infraestruturas escolares, com salas empoeiradas e banheiros mal cuidados. Ademais, nota-se o contágio do pó de giz devido a situação dos quadros, a falta de cadeira para uma aula de 45 ou 90 minutos, a falta de transporte para os seus locais de serviço, a ausência da assistência médica e uma carga horária de quarenta horas por semana, o que piora miseravelmente quando se trata das regiões mais distantes. Uma realidade que espelha o descaso dos sucessivos governos em relação a este setor. Em virtude de tudo isso, a luta dos(as) professores e professoras não deveria centralizar-se em negociações que não abonam em melhoria de condições de trabalho.
Mas por que os sindicatos não deveriam pensar numa contrapartida?
A resposta a essa pergunta é bem conhecida para toda sociedade guineense. O provérbio sarcástico “pursores ta panha parte di radaba” demonstra, não só o quanto a classe docente é desrespeitada, mas também passa a impressão de que a boa parte que exerce essa nobre profissão veio de uma educação desfavorecida. Isto é, muitos tiveram que jejuar sem mínima devoção a Deus, para poderem pagar as cópias inacabadas dos fascículos vendidos pelos(as) professores e professoras ou a carência de ganha-pão lhes levavam à abstinência, porque, realmente, não tinham o que comer. Finalmente, hoje tornaram-se professores e professoras, graças aos sacrifícios diuturno dos dias sem volta. Então, abós mais di ki mi, bó sibi kuma ku bianda ku djintes kume e sobrau ta sta. Ou seja, seria bom se partissem de suas histórias para pensarem na vida dos inúmeros discentes que passam o pôr do sol das sextas feiras percorrendo as estradas que ligam as capitais às suas tabancas, com o propósito de ajudar nos trabalhos de campo, sob pena de verem os seus estudos paralisados, na medida em que a continuidade de suas trajetórias acadêmicas dependem dos ganhos obtidos nesses trabalhos. A par desses que viajam semanalmente, há aqueles que precisam estar de pé nas primeiras horas do dia para ir vender (carvão, mancarra, sorvete…), lavar os carros, lavar as roupas dos patrãos/patroas nos sábados e entre outras atividades, tudo para assegurarem as suas permanências nas escolas.
A despeito disso, é importante que as escolas comecem a fazer o mapeamento para saberem das taxas do abandono escolar, fenômeno que corre o risco de ter um número maior no presente ano. Pois, o dito responsável do ensino só se preocupa com aqueles que o pertencem.
Em resumo do que foi dito, de um lado, os sindicatos precisam priorizar projetos que lhes concedem a dignidade, ao invés, de abrirem a mão dela, sob o pretexto de uma contrapartida. E, por outro, o ministério educação deve se preocupar em institucionalizar um ensino interativo, pensando na situação socioeconômica das famílias guineenses.
Sucesso acadêmico a todes
estudantes da Guiné-Bissau!!
Emilson N'Dame – licenciando em Letras-língua portuguesa
Sem comentários:
Enviar um comentário