quarta-feira, 21 de setembro de 2016

BISSAU DEVIA VOLTAR A MEDIAR CONFLITO DE CASAMANSA - ANALISTAS



«Opinião» Nha ermons analistas, até bô pudi tene roçon na um parti...mas tambi, suma és mumentu nô tene inda Djon Gagu pisadu riba di nô cabeça, cuná pesa quass um tonolada, nô ka sibi inda cal tempu cu nô na riantal, Nés momentu, nô terra sta complemente bloqueado! Mas tarde, si possível, pa nô autoridades di Guné sinta cu rebeldis di Casamance juntamente cu autoridades di Senegal, Portuguisis cu Francisis pa resolvi és problema cu tene dja barba brancu.


O conflito de Casamansa, na fronteira entre o Senegal e Guiné-Bissau, caiu no esquecimento. Pesquisadores guineenses sugerem que Bissau retome o papel de mediador depois de ultrapassada a crise política na Guiné.

O conflito armado de Casamansa, no sul do Senegal, persiste e não deve ser ignorado, diz Antonieta Rosa Gomes.

O diferendo entre o Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) e as forças governamentais senegalesas perdura há 34 anos. Apesar de serem considerados de baixa intensidade, os confrontos têm causado mortes, adianta a investigadora guineense.

"É evidente que há efeitos transfronteiriços tanto para a Guiné-Bissau como para a Gâmbia", afirma. "Esse conflito tem tido muitas incidências no território guineense e é caso também para a Guiné-Bissau efetivamente zelar pela problemática, ou seja, envolver-se na sua solução".

Antonieta Rosa Gomes, pesquisadora guineense

Antonieta Rosa defendeu, na segunda-feira (19.09), a sua tese de doutoramento em Estudos Africanos sobre o papel mediador da "Guiné-Bissau no processo de resolução do conflito de Casamansa", no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.


Interesse no conflito

Antonieta Gomes, que já exerceu os cargos de ministra dos Negócios Estrangeiros e da Justiça do seu país, recorda que a Guiné-Bissau foi nomeada em 1991 pelas partes como mediador: "O MFDC e o Governo senegalês confiaram-lhe esse papel, o que significa que é uma terceira parte que, à partida, deve ter um papel de facilitar as partes e propor também soluções que visem a paz. E, após o conflito político-militar na Guiné-Bissau de 1998/99, o país deixou de fazer parte da terceira parte na resolução do conflito".

A ex-candidata às eleições presidenciais guineenses considera fundamental promover a paz para evitar os incidentes transfronteiriços. Segundo Antonieta Gomes, depois da morte do Presidente João Bernardo "Nino" Vieira, a situação na região não fez parte da agenda principal do chefe de Estado, Malam Bacai Sanhá, porque o contexto político não era propício a isso.

Gomes explica que "tanto o Senegal esteve implicado, com a intervenção estrangeira, na Guiné-Bissau do lado das forças governamentais, assim como uma parte da ala do MFDC que estava a apoiar a Junta Militar. Daí, havia interesses no próprio conflito da Guiné-Bissau e logo após esse período não havia ambiente para o país assumir o protagonismo de mediador no processo de paz".

Resolução do conflito não mereceu atenção de Bissau

A Guiné-Bissau pautou pelo reatamento das relações político-diplomáticas com o Senegal, privilegiando o reforço da cooperação na área da defesa, mas a resolução do conflito fronteiriço não mereceu tanta atenção por parte das autoridades guineenses, refere a investigadora. Isso prejudicou o processo de paz, marcado por uma certa ambiguidade.

A região de Casamansa, rica em vários recursos naturais, entre os quais a terra, pescado e hidrocarbonetos, é considerada uma importante fonte de rendimento para o Senegal. Daí que, sublinha Antonieta Gomes, não há nenhum interesse do Governo senegalês que Casamansa seja independente, como reivindica o MFDC.

Na opinião do pesquisador Saico Djibril Baldé, ligado ao Instituto de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau, "há falta de boa vontade de todas as partes" para a resolução do conflito:

"Claramente, a Guiné-Bissau não esteve com boa vontade nisto. Só quem não quer é que não vê. O nosso conflito político-militar surgiu daí - é resultado desta ambiguidade: o interesse direto quer do Presidente 'Nino' Vieira e do seu ex-chefe de Estado Maior, brigadeiro Ansumane Mané - quando se zangaram, obviamente houve o nosso conflito. Os dois estiveram envolvidos no tráfico de armamento. Quem trafica armamento para um conflito de um país vizinho não age de boa-fé".

Saico Djibril Baldé, pesquisador guineense

Responsabilidades de Bissau

Saico Djibril Baldé, que viveu há alguns anos na região de Casamansa, fala de interesses e jogo de influência envolvendo todas as partes, o que fará arrastar o conflito por mais tempo.

Por isso, ele sugere que "é preciso encarar o problema de frente e não uma negociação sem cedência. Se a parte que reivindica quer apenas a independência, não quer ceder a nada, assim é difícil. Se o poder central senegalês não quiser abdicar de nada, não quiser dar a autonomia, não quiser acautelar as reivindicações daquelas populações, também não vamos chegar a lado nenhum."

Quanto ao papel do seu país, Baldé conclui: "A Guiné-Bissau é parte interessada, principalmente [para] que haja boa vizinhança e que haja a tal livre circulação. Só assim se pode resolver o problema. E aí a Guiné-Bissau tem que deixar essa ambiguidade e assumir a neutralidade para ajudar a resolver o assunto que é seu também".

Segundo Antonieta Gomes, os atuais governantes guineenses estão hoje numa melhor posição de isenção para assumir o protagonismo de mediadores do processo de paz em Casamansa, uma vez que esse estatuto nunca foi retirado ao país.

Mas, "antes é necessário que a Guiné-Bissau tenha um ambiente de estabilidade para que efetivamente se possa debruçar e assumir protagonismo nos processos de paz de Casamansa", exorta a académica guineense.

DW com Conosaba

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