São 43 anos depois de termos proclamados a nossa independência. Um conjunto de pacotes de desejos foi criado mentalmente por aqueles que aos olhos nus viram o hasteamento da nossa bandeira e a entoação do nosso hino nacional – ESTA É A NOSSA PÁTRIA BEM AMADA. Alguns até jogaram no chão aviso de Abel Djassi: kanô pensa kuma, anôs tudo kuna bai manda na Bissau.
Apesar de tantas tentativas de nos afincar igual às outras nações soberanas, ainda encontramo-nos numa navegação a contra maré, à qual, ainda não descobrimos o caminho. A visão de Amílcar Cabral- o homem novo – deixa de ter sentido, aliás, faz sentido por aqueles que aproveitam das nossas instabilidades para se enriquecerem. Nossa classe política perdeu o dicionário político, sem que, no entanto, tenha uma capacidade de distinguir o viver “da” política do viver “para” política.
Portanto, o globalizado mundo de hoje faz dos guineenses na diáspora a sofrerem de guinefobia. As ferramentas digitais circulam notícias a volta do mundo num curto espaço de um minuto. A crónica instabilidade injustificável percorrer de computador por computador. Num qualquer espaço de djumbai com nossos amigos de outras nacionalidades, as notícias que chegam até nós na maioria são estas: ouvi dizer que o seu país é o mais instável do mundo. Disseram que o seu país não tem condições para cobrir seu orçamento geral; seu país no pleno século vinte e um não tem água potável e nem energia em todo o território nacional. É verdade que o vosso Presidente da República não fala com o Primeiro-Ministro? Ainda não tem novo governo?
São repostas que podem ser dadas, mas pesa em nossa mente, porque aqueles que foram indicados para nos guiar são incapazes de cumprirem com missões incumbidas. Arrogância, ganância ao poder e matchundade tornam importantes escudos para sustentar maquiavélicas ideias dessas pessoas que até hoje são inimigos do povo guineense. Amílcar já tinha defendido o suicídio da pequena burguesia, mas, a burguesia criada depois da independência é a pior que já existe. Toda política visa sustentar os vícios.
Porém, importa recordar aqui as duas declarações importantes dos nossos dirigentes: durante a campanha eleitoral de 2014, Domingos Simões Pereira desafia aos guineenses que vão sair fora de país, que faça uma fotografia, porque dentro de cinco anos, ao voltarem, vão ver uma outra Bissau bem diferente. Pela coincidência esse discurso me encontrava em Bissau.
Do mesmo modo, apelo de José Mário Vaz no dia de tomada de posse enquanto Presidente da República desafia aos emigrantes a voltarem para o país, garantido que vai criar condições ao restabelecimento definitivo da paz e estabilidade. Todos estes posicionamentos mexeram com a diáspora, muitos aliviaram. Alguns até já pensaram nas mudanças positivas que podiam ocorrer nas alfandegas de Bissau, o lugar de apedrejar cabeças dos emigrantes.
Depois de um ano de governação, a diáspora volta a ser apunhalada nas costas por aquelas pessoas que um dia mereceram nossa admiração e confiança. Notícias dessagráveis voltaram a sair da torneira que um dia bebíamos de esperança. Enquanto em outras partes das Nações irmãs chegam notícias dos avanços, por parte da Guiné-Bissau vêm recados dos recuos.
Entretanto, nada mais do que terminar esta coluna de opinião com este desafio: se na verdade a diáspora constitui um pilar basilar no processo de desenvolvimento do nosso país, esta é a hora de colocaram estacas nas crónicas instabilidades; Se na verdade é reservado um lugar para nossas vozes, esta é a hora de vocês – políticos – trabalharem para o retorno daquela boa imagem que outrora o país tinha.
UNKRANDA
SFC, 23/09/2016
Neemias António Nanque
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