sexta-feira, 26 de julho de 2019

«GRANDE ENTREVISTA» " CABO VERDE É UM PAÍS AFRICANO E COM MUITO ORGULHO PERTENCEMOS A UA E A CEDEAO" DIZ DR. MARTINHO RAMOS "MARTIN"

Hoje, temos o prazer e a honra de estar com o Dr Martinho Ramos, Martin como é conhecido por muitos e como adora ser chamado, homem que liderou o associativismo cabo-verdiano no Norte de Portugal e que ganhou respeito junto das instituições portuguesas pelas suas intervenções em defesa dos interesses da sua comunidade. 

O blogue“ CANOSABA do Porto” como é nosso timbre de preceder as nossas entrevistas com um minucioso trabalho de investigação acerca do percurso dos nossos entrevistados visando maior e melhor conhecimento do nosso interlocutor. Durante  a entrevista falamos com o nosso interlocutor sobre a sua infância em Cabo Verde e sobre o seu percurso de vida até a data presente.

1 - O Dr considera-se um verdadeiro cabo-verdiano? Gosta da sua terra e o seu Povo? Quer partilhar connosco a sua infância e o seu percurso de vida em cabo-verde? 

Martinho Ramos: Antes de tudo queria agradecer ao Blogue CANOSABA pelo interesse demonstrado em querer falar comigo, muito obrigado! Na verdade, sinto-me um verdadeiro cabo-verdiano comprometido com o seu País e orgulhoso da sua história. Sou filho de pais humildes mas com valores, tenho nove irmãos e tive uma infância bastante tranquila. Fiz os meus estudos primários e secundários em Cabo-verde e foi em Cabo Verde que descobri que tinha jeito pelo futebol e foi em cabo-verde e no meu clube de coração “Os Travadores” que dei os primeiros toques na bola como jogador sénior. Com total a vontade estou em condições de afirmar que o meu percurso de vida em Cabo-verde não foi dos piores.

2 - Quer falar um pouco do seu percurso académico, da sua família, das suas amizades marcantes, das suas referências do seu Bairro e das suas gentes? 

MR: O meu percurso académico teve inicio na escola central do Bairro de Achada Santo António, onde eu nasci, passando pelo ciclo preparatório e pelo Liceu Domingos Ramos, na

cidade da Praia, em Cabo-verde. Em Portugal, prossegui os meus estudos superiores na Universidade Católica do Porto e concluí em 2002 a Licenciatura em Direito. Tenho uma família que me enche de orgulho pelos princípios e valores morais que me transmitiu. 

No meu percurso fiz boas e sólidas amizades e com personalidades de muitos países amigos e de todos os estratos sociais sem qualquer distinção. Costumo dizer que sou um cidadão do mundo. Permita-me destacar duas amizades que para mim foram marcantes e das quaisguardo muitas e boas recordações – entre muitas. Lembro-me com muita tristeza a partida precoce dos meus amigos-irmãos Luis Xema e Zezinho Xandade, lembro-me de igual modo de outros tantos amigos com os quais travei momentos de tertúlia muitas vezes acesas, mas que no fundo tinham como beneficiários os nossos concidadãos. 
Neste particular vem-me à memoria a figura de Pate Cabral Djob, Guineense, do Celso Sobrinho Angolano, da Sandra Nandigna, do Abdel Azisetc etc. Como referências do meu bairro posso indicar nomes como Jacinto Santos meu Primo, Eurico Monteiro, Djonsa Cool, Djonsa Sr Ivo, Diminguinho, Djudja, Zequinha Rasta, Ney de Santo, Néné de Pretinha, etc

3- Temos conhecimento também que ao nível desportivo o Dr fez um percurso pode partilhar connosco?

MR: Na verdade em criança representei Achada Santo António nos encontros inter-bairros, representei vários clubes cabo-verdianos, nomeadamente o meu clube de coração Os Travadores, mas também o Sporting da Praia, o Desportivo da Praia, O Prédio, as selecções da Praia, Santiago e de Cabo-Verde e ao nível universitário a Universidade Católica do Porto. Posso também partilhar que estive á experiência na Académica de Coimbra, em Portugal tendo na altura como colegas o Latapy, o Chico Niquita, o Leuis, etc.

4 - Está contente com o percurso político, social e económico que o seu país fez? 

MR: Para um País cuja viabilidade, enquanto Estado-Nação, muitos duvidavam, e hoje ter abandonado o grupo dos Países menos avançados para se perfilar como País de rendimento médio é na verdade motivo de orgulho de qualquer cabo-verdiano. Estou satisfeito com o nosso percurso, tanto ao nível económico, social como ao nível politico. Temos uma democracia consolidada, as eleições realizam-se tranquilamente, a alternância politica faz-se num quadro de respeito constitucional, as instituições da República funcionam normalmente, os tribunais são independentes e os partidos políticos participam na formação da vontade politica num quadro de respeito pela constituição e a comunicação social é livre e independente. Apesar de a nossa democracia formal funcionar com normalidade sou de opinião que ainda precisamos aprofunda-la mais. Por exemplo, no que tange á abertura dos partidos políticos á sociedade, na renovação dos protagonistas políticos ao nvel do mandato de deputados, etc. Não posso concordar que uma democracia funcional tenha deputados com mais de quatro mandatos na assembleia nacional.

5 -O Sr. tem alguma militância política? Quais foram as razões que o levaram a militar num partido político? 

MR: Aderi ao partido politico em 1990, ano da fundação do MPD (Movimento para a Democracia), do qual sou militante. As razoes subjacentes tinham a ver com a ditadura do regime do partido único, com a ausência das liberdades e garantias dos cidadãos, com a ausência de uma economia de mercado aberta e sobretudo com a inexistência de um regime democrático no país.

6- Qual é a ideologia do seu partido e o que pensa das ideologias? O que nos diz da Classe política do seu País?

MR: O meu partido enquadra-se ideologicamente no grupo dos partidos do centro-direita. A minha opinião em relação as ideologias é de que existe uma zona de confluência de ideais em que a direita e a esquerda se confundem. Refiro-me as medidas politicas de intervenção social por exemplo. Mas mais do que isso, estou também convencido de que o momento económico em que os países atravessam ditam as melhores estratégias politicas não importando as razoes ideológicas. Entendo que a classe politica cabo-verdiana tem-se portado bem mas existem aspectos que devem ser melhorados. Por exemplo temos que combater os desvios do funcionamento da democracia, reforçar o combate aos crimes económicos, tornar eficientes  as nossas agências de regulação, fazer com que os tribunais sejam mais céleres nas suas decisões, aprimorar as medidas de combate aos crimes de evasão fiscal e combater sem trégua a corrupção no País     

7 - Considera a sociedade civil cabo-verdiana esclarecida e participativa? 
MR: A sociedade cabo-verdiana tem-se revelado cada vez mais esclarecida e mais participativa. As associações cívicas têm tido um papel ativo na formação das opiniões nos órgãos públicos estatais com total liberdade, as manifestações são pacificas e ordeiras, os agentes políticos funcionam num estrito respeito pela diferença e no quadro legal instituído no País. O direito á greve é respeitado e as pessoas expressam livremente as suas opiniões. Perante este quadro tenho que concordar com o evidente: A sociedade civil cabo-verdiana é sim esclarecida.

8 - Considera Cabo-verde é um pais africano? 

MR: Sem qualquer dúvida somos sim, um País africano e com todo orgulho pertencemos a UA e a CEDEAO. 

9 - Fala-se muito da parceria estratégica com a união europeia, quais são as vantagens para Cabo-verde? 

MR: As vantagens são muitas desde logo o dialogo politico sai reforçado, o surgimento de investimentos geradores de emprego  em cabo-verde, o reforço da cooperação descentralizada com ganhos ao nível do desenvolvimento municipal assim como as iniciativas que visam ajudar a Reforma da Administração Pública. Existem também ganhos ao nível turístico e ao nível de intercâmbios culturais. Trata-se de uma parceria boa.

10 - O que nos diz sobre o posicionamento político de Cabo-verde em relação à África? 
MR: Cabo-verde é membro da União Africana, membro da CEDEAO e quer afirmar-se cada vez mais na sub-regiao africana a que pertence. Importa também referir que cabo-verde já manifestou interesse através do acordo que assinou a vir aderir ao Zlecaf (Zona de Livre Comercio Continental Africana).

Vinda para Portugal
Tenciono dar um salto ainda este ano para visitar amigos, comprar alguns livros e matar saudades da invicta.

11- Sabemos que, já tinha um emprego uma família constituída e estava social e politicamente integrado. Resolveu deixar tudo e vir para Portugal frequentar um ensino superior Porquê? 

MR: Na verdade corroboro das suas afirmações . A minha decisão em deixar tudo e decidir continuar os estudos superiores em Portugal tem um pouco a ver com o meu acreditar que estando tecnicamente melhor formado poderia dar melhor contributo ao meu País . Por outro lado, influencias de natureza politicas pesaram também na minha decisão.  

12 - O DR licenciou-se na Universidade Católica em 2002 e não regressou a cabo-verde como muitos fizeram. Quer-nos contar porquê? Teve alguma participação a nível associativo na Universidade? 

MR:O meu regresso foi sendo adiado em virtude de circunstâncias diversas. Na Universidade, julgo ter sido único cabo-verdiano que se submeteu a umas eleições tendo ganho e posteriormente assumido a responsabilidade do pelouro do desporto que na altura movimentava muitos recursos financeiros. 

13 - O Senhor. foi Presidente da Associação Cabo-verdiana do Norte? Como foi que chegou a ser Presidente da associação? 

MR: Na verdade, o meu gosto pelo associativismo nasceu em Cabo-verde com o surgimento do movimento BULASA que liderei coadjuvado por dois amigos. A minha chegada á liderança da Associação Cabo-verdiana do Norte foi por eleição e mediante apresentação de um projecto associativo que tinha como objectivo central duas ideias. 1º Apoiar a inclusão social, económica e politica da comunidade cabo-verdiana e uma segunda tinha a ver com a promoção de cabo-verde, suas gentes e sua cultura no norte de Portugal. Não fico de maneira alguma decepcionado porque tenho plena consciência de termos cumprido esses objectivos

14 - Tinhas algumas ideias para associação? Fala-nos do seu papel e das suas realizações enquanto dirigente e líder associativo no norte de Portugal. 

MR: Penso ter concretizado com apoio dos meus colaboradores as minhas ideias junto da minha comunidade. Os filhos dos nossos conterrâneos no norte passaram a ter acompanhamento de tutores sociopedagógicos no seu processo de formação, passaram a ter programas de confraternização e de contacto com a cultura cabo-verdiana, os nossos idosos também mereceram a minha atenção, os jovens, os estudantes das escolas profissionais e universitários também faziam parte da minha preocupação. È justo deixar aqui claro que trabalhamos para a comunidade cabo-verdiana sem qualquer apoio dos governos de cabo-verde e só devemos a nós e a nossa capacidade criativa ao nível da elaboração de projectos que submetíamos ao financiamento do governo Português

Verdade seja dita a Associação Cabo-verdiana do norte que liderou durante vários anos e promoveu varias iniciativas nomeadamente conferencias, colóquios, workshops, promoveu encontros com varias instituições nomeadamente o SEF, Segurança Social e o ACT, chegou a apoiar muitas famílias, formação para jovens, colocou muitos no mundo do emprego, recordo-me que também deu formação as empregadas domesticas, etc. etc. 

15 - Organizou muitos torneios de futebol internacionais da Diáspora cabo-verdiana coisa que nunca tinha sido feita em Portugal, a gala Guiné-Bissau cabo-verde. Fala-nos deste período da sua vida cívica… 

MR: Obrigado por ter-me recordado de tantas iniciativas cívicas que protagonizamos tendo como foco o exclusivo interesse de uma comunidade que encontramos completamente abandonada à sua sorte. A história não se apaga com facilidade e os seus actores ficam para posteridade.



É verdade que organizamos todos os eventos que citou na sua pergunta e é também verdade que fomos os primeiros a organizar o Torneio Internacional da Diaspora Cabo-Verdiana em Portugal e porventura na Europa com participação de equipas Cabo-verdianas. Devo partilhar agora que a nossa intenção era institucionalizar o torneio mas infelizmente não encontramos vontade da parte dos governos de cabo-verde.

De todos os eventos que promovemos sempre destaco a formação que desenhamos e implementamos para as nossas empregadas domesticas sob o slogan “ Quero ter uma segunda oportunidade para poder ser uma médica, uma advogada ou uma engenheira para regressar ao meu País como um quadro bem formado e não como uma doméstica”


16 -O Dr Martinho participou em representação da comunidade cabo-verdiana nas reuniões do conselho consultivo das comunidades estrangeiras. Recordo muito bem da qualidade das suas intervenções e dos argumentos que aduzia em favor da sua comunidade sobretudo criticando as condições sub-humanas em que residiam muitos cabo-verdianos nos bairros. Hoje a realidade é outra. Considera que as suas intervenções foram determinantes para que se acelerasse o processo de realojamento das famílias cabo-verdianas?

MR: Pois, recordo-me de algumas intervenções minhas feitas no quadro do processo de realojamento da comunidade cabo-verdiana das fontainhas nas reuniões do Conselho Consultivo. 


Lembro-me de ter exibido uma filmagem e entrevistas que fiz aos moradores desse bairro para confrontar a vereadora de habitação com o desconhecimento da precária situação em que a minha comunidade tinha nas fontainhas. Casas sem iluminação, sem saneamento, sem água canalizada, crianças a brincarem em locais perigosos, acesso difícil e a complicar tudo a linha de comboio que atravessava pelo caminho que as crianças tinham que ultrapassar para irem á escola. Mas a minha intervenção era transversal a outras comunidades porque do que eu queria mesmo era ver as comunidades estrangeiras integradas na sociedade portuguesa com dignidade e respeito.


17 - O que pensa do conselho consultivo das comunidades estrangeiras e porque que nunca mais este órgão funcionou? 

MR: Penso que foi uma boa iniciativa no sentido de auscultar as comunidades. No entanto, como sempre defendi o Concelho não devia ser presidido por um representante do executivo camarário tendo em conta a temporalidade do mandato e caso o executivo perdesse as eleições o órgão consultivo ficava sem liderança. Ainda hoje vejo que eu tinha razão quando defendi a ideia de presidência rotativa entre os membros do conselho. O Órgão consultivo não funcionou porque as lideranças associativas foram substituídas e as motivações também foram sendo outras. Acresce também a falta de vontade política da Camara do porto em reactivar o Conselho Consultivo.

18 - Acha o Porto uma cidade plural? E multicultural? Os estrangeiros são bem recebidos? E a inserção no mercado do trabalho?

MR: Estou muito contente com o desenvolvimento da cidade do porto, do seu caracter cada vez mais cosmopolita e da posição que vem ocupando ao nível dos destinos turísticos na Europa. Penso que ao nível do acolhimento dos estrangeiros para trabalhar precisa melhorar no acolhimento e na inclusão social e laboral dos mesmos. Continuo sem perceber porque que a legalização de um trabalhador que diariamente participa na construção de um Portugal melhor tem que estar dependente do pagamento de seis ou 12 meses de contribuição para a segurança social. Pior ainda é perceber por que motivo o estado português recebe contribuições de estrangeiros e continua a tratar-lhes de ilegais. 


A Esquerda portuguesa deve assumir o compromisso mais claro de que a integração tem que ser efectiva e tem que produzir resultados impactantes na vida pessoal e familiar dos seus beneficiários.


19-Temos conhecimento que colocou alguns trabalhadores cabo-verdianos a trabalhar nos centros de apoio aos imigrantes /CNAIS era uma estratégia associativa ou era através de protocolos de colaborações?

MR: Para dizer a verdade os dois objectivos são complementares na medida em que colocando mediadores socioculturais nos Centros Nacionais de Apoio aos Imigrantes por um lado estávamos a dar visibilidade a outros níveis á nossa comunidade através da prestação de serviços qualificados por jovens cabo-verdianos auferindo um salário acima da média na altura e, por outro lado estávamos a dar visibilidade a uma comunidade que precisava ser ouvida e respeitada. 


È também verdade que tendo mediadores socioculturais no CNAI as relações com o Governo e com as Instituições publicas portuguesas ficavam facilitadas e consequentemente os apoios e financiamentos surgiam com naturalidade.


20 - Nesta conversa não poderíamos deixar de falar de política e do seu envolvimento nela em Cabo Verde! Habituou-nos a assistir o seu envolvimento nas disputas políticas em Cabo-verde. Perdeu algumas eleições, mas ao que parece também ganhou algumas. Recebeu muitos políticos cabo-verdianos no Porto e organizou muitos eventos de natureza política com a comunidade. Como vai a sua vida política e como vai o seu país ao nível político? 



MR: A minha vida politica tem passado por um processo de readaptação á forma de se fazer politica em Cabo-verde. Tenho sido um observador atento mas não desinteressado.



Na politica é preciso muito jogo cintura mas sem descaracterizar a politica. A intriga e a baixa politica não podem fazer escola num País aonde a democracia funciona na sua plenitude. Estou na politica por convicção, acreditando nos meus ideais e nos valores que defendo . Jamais serei submisso ou mero caixa de ressonância na politica. A minha vida politica vai bem e o meu País tem dado passos seguros ao nível das suas relações politicas na arena internacional e ao nível interno o novo governo vem implementando politicas assertivas que têm tido reflexos positivos na economia do país, com criação de novos empregos e uma clara melhoria do ambiente económico no País.


21 -Também chegou a ser candidato autárquico a Câmara Municipal do Porto e se não me falha a memória o Dr estava numa posição elegível. Conta-nos desta sua experiência! O Dr considera-se um homem sem papas na língua? Considera-se um homem livre? Diz o que pensa? 

MR: Como disse antes, a minha vida sempre foi de disputa, combate por valores. No meu bairro, no liceu, nos campos de futebol, na universidade. Com momentos de intermitência, é certo, mas sempre atento, não durmo. Porventura terei sido o primeiro ou um dos primeiros cabo-verdianos a ser candidato autárquico na cidade do porto numa posição elegível. Na verdade fui convidado para fazer parte da candidatura porque reconheceram o meu envolvimento activo nas causas a que acreditava e, por outro lado, porque as minhas relações de amizade em Portugal são fortes e multifacetadas. Devo também partilhar que as minhas amizades feitas na universidade e nos movimentos associativos a que pertenci tornaram-me numa pessoa mais conhecida e respeitada na cidade do porto. Mas não só por causa disso. Acredito que foi também por causa do meu trabalho que fui convidado. Costumo dizer que nasci livre e que a liberdade para mim tem um significado que transcende a liberdade formal inscrita nas constituições. 


Penso que precisamos avançar mais na efectivação das liberdades e garantias inscritas na nossa constituição. Ao formalismo devemos acrescentar acções concretas para que o formal se torne efectivo.

22- Fala-se muito da despartidarização da administração publica e este debate tem arrefecido tudo. O que pensa acerca deste processo e porque que a mudança teima em não chegar? 

MR: Sempre disse e continuo convencido que o grande cancro da administração pública cabo-verdiana não é a sua partidarização. Insistir que o mal está na excessiva partidarização da Administração publica é de certa forma manifestar desconhecimento da sociedade cabo-verdiana e da sua história. Em cabo-verde quase toda gente tem uma ligação familiar com este ou com aquele governante acresce ainda que entre os governantes independentemente das suas origens políticas existe aquilo que chamamos de troca de favores. Mas isso é muito africano. Hoje ajudas tu a empregar um familiar de um amigo, amanha ele ajuda-te a empregar um familiar teu. Tenho para mim que o grande mal da nossa administração são a intriga e a impreparação de alguns gestores públicos para o cargo. Dirimir conflitos ou tensões em contexto laboral requer do gestor público habilidades e sobretudo capacidade para agir com imparcialidade tendo sempre em conta o contraditório. 



Por ultimo importa esclarecer que na administração publica cabo-verdiana continuaremos a ter a convivência de funcionários com militâncias politicas diferentes.


23 - Foi  alguma vez convidado para dar o seu contributo ao nível da administração 
publica cabo-verdiana? Acha-se com capacidade para assumir cargos em Portugal por exemplo a nível consular? 

MR: Duas observações prévias: primeiro, o exercício consular não é uma opção individual; segundo, não ando em busca dessas coisas. De qualquer modo – e porque pergunta – respondo-lhe com humildade. Penso que á semelhança de muitos colegas que tiveram essa oportunidade se surgir algo semelhante para mim abraçarei com dedicação e, quero crer que não desapontarei. O problema não se coloca ao nível da capacidade porque eu consegui sozinho mostrar que tenho mais do que capacidade para num quadro maior e com orçamento garantido fazer muito mais. Respondendo directamente a sua provocação diria que não seria coisa de outro mundo. Infelizmente nessas escolhas concorrem juízos de valores de personalidades que não conhecem as pessoas e tão pouco as suas realizações. Quero acreditar que tarde ou cedo a moeda boa começa com naturalidade a empurrar a moeda má. Tenho pena que tudo isto acontece debaixo dos olhares e silêncio dos homens do bem. Até quando!!!

24 -Vamos fazer uma afirmação e gostaríamos que o Dr a comentasse... 

Por tudo que  já fez no norte e em Portugal, que é do conhecimento publico leva-nos a afirmar que o Dr é verdadeiro Cônsul de Cabo-Verde mas de facto e que só falta transformar um facto socialmente relevante reconhecido em um facto juridicamente aceite e com o devido enquadramento.

Comentários 

MR: O Sr é cidadão Guineense e faz esta afirmação categórica. Muito obrigado pela sua constatação. O que lhe posso dizer é que se eu tivesse mais ovos ou se as minhas galinhas me tivessem dispensado mais ovos teria feito mais e melhores omeletes. Os factos estão aí e não se apagam. As pessoas viram e assistiram. Todo o resto tem a ver com a boa ou má vontade dos homens em reconhecer o óbvio. Eu fiz a minha parte e nunca pensei em qualquer contrapartida. Basta-me o reconhecimento das evidências por aqueles que se julgam credíveis.

25 - Para terminar, considera-se um bom vivant? Acha-se bonito?  É convencido? Considera-se um bom Pai? É humilde? Tem medo? Tem bons amigos? Gosta da sua família? 

MR: Olha, meu caro, considero-me um cidadão com alguns gostos e com boas preferências. Se viver com estas opções de vida é ser-se bom vivant considero-me um bom vivant.. Tenho um amigo que quando lhe perguntavam se gostava de mulheres negras ou brancas ele respondia que gostava das mulheres estrangeiras e das mulheres cabo-verdianas. Faço minhas as palavras do meu amigo. Não me considero convencido. Sou teimoso e não costumo aceitar derrotas inexplicadas. Considero-me um Pai que se preocupou com a educação e formação dos seus filhos. Se sou bom Pai cabe aos meus filhos avaliarem. Sou humilde mas não tolero abusos nem faltas de respeito. Tenho bons amigos, tanto em cabo-verde como no estrangeiro e a minha família é a minha grande riqueza. Adoro a minha família.

26 - E o que diz do nosso BLOGUE? 

MR: Penso que o vosso BLOGUE tem se revelado um meio de comunicação de extrema importância na disseminação de notícias no seio dos seus seguidores. A forma equidistante e a imparcialidade que colocam no tratamento dos temas aumentou a vossa credibilidade. Sou vosso seguidor e dou-vos parabéns pela forma interessada e competente como permitiram que o mundo inteiro tenha acompanhado todo o processo politico Guineense até ao empossamento do novo Governo. Renovo os meus votos de parabéns e termino desejando-vos muitos sucessos no vosso trabalho.

Fim

26/07/2019

: Feito por: Pate Cabral Djob

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