Afinal isso é muito mais sério do que eu imaginava. De início, pensava que se tratava apenas de uma narrativa destinada a “desarmar” o adversário, neste caso o candidato Umaro Sissoco Embalo, ou incutir nele um certo complexo para que não frequentasse os seus, na perspectiva de caça ao voto, nas eleições presidenciais de 2019.
Refiro-me aquilo que é chamado propagandisticamente de “Fulani”, quer dizer, a paranoia do facto da maior parte dos países da nossa sub-região ter como chefes de estado, pessoas da etnia Fula Peulh ou Fulani ou Fulfulbe, pensar-se que tal seja uma camuflada intenção de levar os membros dessa etnia a dominar as demais, se acederem à magistratura suprema da Nação.
Sinceramente, fiquei “enjoado” quando estava a discutir há dias com uns colegas, ativistas políticos, sobre o golpe de estado na vizinha Guiné-Conakry, e ouvi a seguinte frase provocadora: e pensa kuma ena consigui implanta Fulani na sub-região, mintida! Kila nunca cana sedu pabia próximo Presidente di Guiné-Conakry na sedu di tudo utur tribo menos Fula. Fula nunca cana manda na kil terra, i se renansa na caba dja nan sin, pabia Macky, Barrow, Buhari, nhu auto-proclamado, na pirdi próximas eleições, kuma ou kuma. Em bias ke safa pabia se plano ca descubridu ba.
Como é possível existirem na Guiné-Bissau de Cabral, Nino, do Zaim Barbosa, Titina, Canhe Nantungue, Domingos Ramos, Rui Djassi, Paulo Correia, etc., pessoas que ainda pensam nesses termos? Afinal, é um trabalho que está a ser levado a cabo intensamente, sem que os visados disso se apercebam.
Quando é que no passado não se ouvia esse tipo de narrativa, numa sociedade tão “melting pot” como é a da nossa querida Guiné-Bissau?
Aonde querem chegar os promotores dessa ideologia nazista/separatista/segregacionista? Mas quando é que as eleições na Guiné-Bissau se basearam em considerações de ordem socioeconômica, tribal, regional ou religiosa? Ou os disseminadores dessa mensagem intoxicante são pura e simplesmente ignorantes ou não sabem interpretar os dados. Se existisse esse propósito, o candidato do PAIGC, que não é Fula, teria os mesmos votos nas duas regiões habitadas maioritariamente por Fulas, tanto na primeira quanto na segunda volta?
Ummmm! Isso parece começar a cheirar mal, mas só que os Guineenses são tão maduros politicamente que nunca se deixarão arrastar ou influenciar por sentimentos contrários aos ideais por que os melhores filhos deste país se sacrificaram, alguns tendo entregue as próprias vidas, na flor da sua juventude.
Se não é por miopia política, alguém pode pensar que uma só tribo pode eleger um presidente de República? Os Zulus são maioritários na África do Sul mas não podem eleger um presidente de República, os Bamelikés são maioritários nos Camarões mas não podem eleger um presidente de Republica, os Kikuyus são maioritários no Quénia mas não podem eleger sozinhos um presidente de República, e na Guiné-Bissau mesmo que as duas maiores etnias (Fulas e Balantas) se juntassem não poderiam eleger um presidente de República, porque nem todos iam votar no candidato Fulani ou Balanta.
A etnia maioritária no Senegal não é a do presidente Macky Sall, o mesmo e se pode dizer em relação aos presidentes Barrow, Buhari e o Muhamadou Issoufou que terminou o segundo mandato há poucos meses.
Qual então é a doença desses soi-disant grandes políticos que estão a tentar pôr, em vão, os membros das outras comunidades Guineenses contra os seus irmãos Fulas? Não será isso o resultado de alguma frustração pelo simples facto de alguém ter perdido eleições, em relação às quais sabia de antemão que sairia derrotado?
Mas mesmo assim, é preciso muito cuidado, porque assim tinha começado o conflito entre os Hutus e os Tutsis no Rwanda, e que se desembocou no genocídio dos Tutsis.
Muito cuidado! Que as nossas forças de segurança estejam atentas, identifiquem e acompanhem os promotores dessa propaganda ignóbil que, caso prosperar, poderá levar o país a um conflito étnico-religioso com consequências imprevisíveis.
Estejamos mais determinados a fazer fracassar todas as tentativas de dividir este povo, que na unidade lutou heroicamente para restituir ao Guineense a sua dignidade, conquistando com suor e lágrimas a independência nacional.
Deus abençoe a Guiné-Bissau!
Viva a Unidade Nacional!
Por: Yanick Aerton
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